15 de maio de 1975

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Eu só estava arrumando minhas coisas quando encontrei este caderno. Assim que comecei a ler não consegui conter as lágrimas, e pensar que ela tinha escondido isso tudo de mim esse tempo todo. Mas foi até bom, foi aí que eu soube de tudo que ela estava passando, tudo que ela suportou, tudo que ela estava sentindo, todos os medos, todas as vezes que ela chorou sozinha, tentando esconder isso tudo de mim para que eu não me preocupasse com ela.

Ainda me lembro da calma com que ela dirigiu suas últimas palavras para mim. Mesmo que estivesse morrendo, ela era tão linda! Foi complicado para mim superar aquilo tudo, ver minha mulher morrendo na minha frente, pedindo com toda calma e paciência do mundo que eu cuidasse de nossa filha, dizendo que me amava, e que ia ficar tudo bem.

5 anos se passaram depois disso. Ganhamos a Copa do Mundo em 70, várias construções de obras aconteceram: a ponte Rio-Niterói, a Transamazônica, entre outros. Chamaram de "O Milagre Econômico". O governo foi mais rigoroso nesses "anos de chumbo", o movimento estudantil e outros como o "Movimento Revolucionário 8 de Outubro" (MR8) foram contidos ao máximo. Mudamos de presidente ano passado, e é claro que Ernesto Geisel não foi eleito pelo povo.

Aninha já está com 5 anos, linda, igualzinha a mãe. Às vezes ela me pergunta sobre Sofia, como ela era, o que aconteceu, por quê ela "foi embora". Tento fazer o máximo para contar o que aconteceu da maneira mais leve possível que se possa contar algo desse tipo a uma menina de 5 anos. Então recorramos à maneira mais pratica:

— Sua mãe agora é uma estrelinha no céu, meu amor. — respondo com os olhos mareados sempre que Aninha pergunta.

Estou fazendo o que posso pra cuidar dela, não cheguei a me casar novamente, nem pretendo, quero cuidar da minha filha sozinho. Quero cuidar da minha menininha do mesmo jeito que cuidei de Sofia.

- Marcelo Corrêa

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