25 de janeiro de 1970

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O "Dia D" (ou ao menos seria) de combate à ditadura, que agora havia ficado mais rígida que as anteriores, desde que Médici assumiu o poder, estava chegando. Faltava menos de um mês para tentarmos reaver nossos direitos.

Professores, estudantes, operários, e até mesmo militares de baixa patente estariam lá. Todos queremos nossos direitos, quem amamos, a liberdade, a nossa vida de volta.

Os protestos estão aumentando cada vez mais, músicas, jornais, charges, revistas, palestras em faculdades, guerrilhas, passeatas nas ruas, o que por sua vez fez os "protestos anti-subversivos" da polícia também aumentarem, cada vez mais tortura, gritos, prisões, exílios, choques elétricos... Enfim, mais mortes, e junto a isso, muitas famílias perdendo seus parentes, e sem poder nem ao menos enterrar seus entes queridos de uma forma digna.

Estou com medo de que aconteça alguma coisa, de que descubram esse caderno e acabem vindo atrás de mim pra me matar. Já tive vontade de queimá-lo algumas vezes, mas como? Se essa é a única forma que eu tenho pra me manifestar, dizer o que sinto, gritar minha revolta aos quatro ventos... O que não posso fazer em voz alta.

Isso um dia vai acabar! Posso morrer lutando, mas pelo menos estarei fazendo isso por um país melhor e mais justo para a minha filha. Eu só quero que ela viva feliz, que ela seja feliz, que viva sem esse caos, sem esse horror, esse tormento que tem me perturbado muito, me faz passar noites em claro chorando, querendo, sonhando com o dia em que isso tudo iria acabar e voltaria a ser como era antes.

Não aguento mais isso. Eu só quero parar de chorar, quero que isso acabe, quero viver minha vida em paz, sem essa angústia que aumenta mais a cada dia, que está me deixando cada vez pior, mais doente, mas louca, neurótica, com mais vontade de largar tudo e jogar minha vida inteira fora pro alto, vontade de parar de fingir que estou bem para os outros e dizer que eu realmente não suporto isso que estão fazendo, que realmente não estou nada bem, nada bem mesmo.

Estou tendo cada vez mais surtos, não paro de chorar um segundo pensando que tudo estaria bem melhor do que está, ou do que dizem que está, se eu não estivesse aqui...

Eu só quero pensar que um dia isso tudo, essa droga de ditadura militar vai acabar de uma vez.

Só quero pensar que amanhã vai ser outro dia.

1964 - Diários de um Coração Rebelde Onde histórias criam vida. Descubra agora