2 de janeiro de 1969

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Cheguei em casa um pouco mais animada que o normal desses últimos anos, Marcelo estava do meu lado, tão animado quanto eu.

— Por que essa felicidade toda de vocês? — mamãe pergunta.

— Nada não, mamãe. — respondo com um sorriso meio bobo no rosto.

— Conta para ela, amor. — Marcelo pede abraçando de lado minha cintura e beijando minha bochecha.

— Conta você. — sorrio o olhando nos olhos.

— O que é? — mamãe riu. — Falem logo de uma vez.

— Bom ... Queria saber se posso perguntar uma coisa, dona Carminha. — Ele a olha um tanto nervoso.

— Pode falar, Marcelo.

— Eu ... — ele hesitou um pouco.

— Você o que, Marcelo? — papai pergunta entrando na sala junto com o pai de Marcelo, olhando-o seriamente com um ar autoritário.

— Eu queria saber se posso perguntar uma coisa, General...

— E o que é?

Ele puxa papai para um canto da sala e diz baixo, mas ainda consigo ouvir.

— Quero pedir a mão da sua filha em casamento. Tenho sua permissão? — ele pergunta um tanto nervoso.

— Já conversou com ela sobre isso?

— Mais ou menos. Queria saber que resposta o senhor me daria primeiro.

— Pois bem... — papai faz uma pausa — permissão concedida, meu jovem.

— Vamos meninos, falem logo! — pediram mamãe e Aline já sem aguentar de curiosidade.

— O que foi, Marcelo? — pergunto, mesmo já tendo uma ideia do que seria.

— Sofia ... — ele se ajoelha e tira uma caixinha de veludo do bolso. — Você quer se casar comigo?

— Sim! Sim, sim, sim! Mil vezes sim! — respondo com um sorriso bobo nos lábios e lágrimas nos olhos.

Ele se levanta, põe o anel em meu dedo e me abraça me envolvendo em um beijo longo e doce logo em seguida. Acaricio seus cabelos levemente e deixo envolver-me em seus braços, que sempre me protegeram carinhosamente entre beijos e abraços calorosos.

— Eu te amo, Marcelo.

— Minha menininha... — ele abre um sorriso acariciando meu rosto.

— Eu te amo.

Ele me puxou para o lado de fora da casa, para o jardim, e continuou me beijando, tentando fazer com que pudéssemos esquecer de tudo isso que estamos passando.

Essa foi uma das poucas boas notícias que recebi. Ao menos estou feliz com o fato de que, se Deus quiser, vou ficar com Marcelo pelo resto da minha vida, ficar com ele pra sempre, para que eu pelo menos possa tentar ser feliz ao lado dele .

Mesmo no meio de todo esse caos da ditadura.

1964 - Diários de um Coração Rebelde Onde histórias criam vida. Descubra agora