27 de março de 1969

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Marcelo chegou todo machucado em casa hoje, parece que se meteu numa briga com um cara porque estava ajudando um garotinho a atravessaria rua, ó homem não gostou e começou a discutir com ele, depois vieram os tapas e até a polícia teve que intervir. Ambos foram pra a delegacia, mas Marcelo foi inocentado.

— Eu tô bem, amor, não se preocupa

— Certo, certo. Agora senta aí. — falo terminando de limpar o rosto dele com cuidado por causa dos machucados.

— Por que tenho que sentar? O que foi? — ele pergunta, confuso.

— Senta logo! — rio fraco balançando a cabeça um pouco. — Tenho uma coisa pra te contar.

— Pronto, já sentei! — ergue as mãos em sinal de rendição, rindo. — Agora me fala o que é .... Tô ficando curioso.

— Certo ... — hesito um pouco.

— Fala logo, amor.

— Eu... — respiro fundo e levo as mãos lentamente até a barriga, olhando pra baixo por uns instantes. — Estou grávida.

— O que? — pergunta me olhando, começando a abrir um sorriso.

— É amor ... — sorrio boba afastando os cabelos do rosto. — Vamos ter um bebê.

— Meu Deus do céu! — o sorriso em seu rosto se abre mais ainda.

— O que? — pergunto um pouco confusa.

— Essa é a melhor notícia que recebo em anos! — ele se levantou e me colocou nos braços, no ar, e foi aproximando o rosto até que seus lábios tocassem os meus.

— Me põe no chão! — protesto entre um sorriso enquanto ele me rodopiava no ar, começando a me fazer cócegas em seguida. — Marcelo!

— Eu te amo.

Deixei que ele me beijasse de novo, afinal, tínhamos que aproveitar o máximo de tempo que tínhamos um com o outro. Mas, como tudo que é bom dura pouco, infelizmente fomos interrompidos.

— Oficial do Exército! — diz uma voz autoritária do outro lado. — Abram a porta!

— Sim? O que houve? — Marcelo pergunta encarando o homem alto e loiro de olhos verdes como os meus assim que abre a porta.

— Os documentos. — ele corre os olhos por dentro do local enquanto espera.

— Aqui. — estendo a mão entregando os documentos a ele, e logo depois reconheci seu rosto. Era Mateus, Tenente Mateus, namorado da minha melhor amiga desde a infância, Júlia.

— Certo. — ele corre os olhos pelos documentos umas duas ou três vezes e nos entrega de volta. — Passar bem. — diz assim que sai, tendo ao menos a decência de fechar a porta.

Depois que ele saiu, me joguei na cama exausta, mentalmente, Marcelo veio junto e ficou fazendo carinho nos meus cabelos, o que acabou fazendo com que eu caísse no sono em seu colo, tranquila, como se nós não estivéssemos no meio de uma ditadura. Pelo menos queríamos pensar que era assim, era melhor nos esquecermos daquilo tudo por um tempo, ficava mais tranquilo, mais fácil de suportar. Era muito melhor assim, muito mesmo. Para nós dois.

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