11 de fevereiro de 1970

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Saímos cedo de casa para ir ao protesto. Assim que arrumamos as coisas fomos direto para rua, eu, Júlia e Marcelo, já que Aline ia ficar com mamãe tomando conta de Aninha enquanto estávamos fora.

Assim que botamos os pés na rua já começamos a ver a aglomeração de pessoas que viriam juntar- se a todos nós. Ouvíamos seus passos, seus gritos de liberdade.

"Abaixo a Ditadura!"

"Chega de opressão!"

"Parem com a tortura!"

"Já chega de morte!"

"Reabram o congresso!"

"Queremos votar!"

"Devolvam nossos direitos!"

E por fim ouvimos ao longe um grupo que cantava musicas de Chico Buarque, e que acabou contagiando toda a multidão presente.

Dai prosseguimos até o palácio do governo onde avistamos os militares de longe.

— É tiro! Corre! — gritaram de longe.

Foi então que ouvi um tiro bem perto, e assim que virei pro lado ela já estava caída no chão, morta.

— Júlia! — gritei aos prantos assim que vi Mateus largando o fuzil e correndo até lá para socorrê-la, mas já não adiantava mais nada. Ela já estava morta. Nada podia ser feito.

De repente comecei a distinguir uma voz conhecida, era papai! Ele estava ali.

— É a minha filha! — ouvi ele gritar de longe — Pelo amor de Deus! Saiam da frente! Eu preciso tirar ela de lá! — percebi que ele tentava atravessar o mar de pessoas, mas acaba esbarrando em alguém, que, no susto, faz a arma disparar ...

— Sofia! Não... — ouvi Marcelo gritar aos prantos me segurando em seus braços — Não, não, não... — ele chorava compulsivamente, só então me dei conta que havia sido atingida por uma bala.

E lá estava eu, sangrando, com Lucas, papai e Marcelo ali se esvaindo em lágrimas, com a multidão se revoltando horrorizada ao redor.

O mundo estava girando devagar, percebi que tinha chegado a minha hora. Eu havia cumprido meu papel. Só pedi forças para conseguir dar minhas talvez últimas palavras.

— Eu amo vocês, amo muito, não fazem ideia disso. Só que que fiquem bem sem mim. Vai dar tudo certo, eu sei que vai, sempre acreditei nisso ... Papai, Lucas, tomem conta de mamãe e Aline, por favor. — soluço tossindo um pouco de sangue — E ... Marcelo, meu amor, cuida bem de Aninha. — suspiro olhando em seus olhos — Eu te amo.

A única coisa que me lembro de ouvir foi a voz de Marcelo:

— Eu te amo.

— Eu te amo. — sussurro sentindo os olhos pesarem se fechando devagar.

1964 - Diários de um Coração Rebelde Onde histórias criam vida. Descubra agora