3 de fevereiro de 1970

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Já chega! Eu não suporto, não aguento mais isso, nem eu, nem Marcelo, não dá! É uma coisa tão horrível que mal da para descrever a cena.

Todas as vezes que eu e Marcelo vemos Aninha dormir, sempre vem uma sensação boa. Ela dorme tão tranquila, tão calma, como se nada estivesse acontecendo ao seu redor. Mas, mal sabe ela, pobre Aninha, mal sabe, não faz ideia, muito menos se dá conta de que o que passa diante de seus grandes e curiosos olhos cor de mel, é básica e simplesmente uma representação o mais real e próxima possível do inferno, se ele existisse...

E é aí que a situação piora. Todas as vezes que a vemos dormir e sentimentos essa coisa boa, logo surge a agonia, em questão de segundos. Então começamos a pensar que o mundo, a nossa vida poderia ser bem melhor, que Aninha não está correndo nenhum perigo, ou que não vai acontecer absolutamente nada com ela, nem com Marcelo ou comigo, ou com ninguém que está passando pelo mesmo que nós, ou seja, o país inteiro.

Só queremos que Aninha não passe por nada disso, nada de tortura, nada de pesadelos... Nada de nada.

Só queremos que ela seja feliz como fomos um dia...

1964 - Diários de um Coração Rebelde Onde histórias criam vida. Descubra agora