11 de novembro de 1969

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O clima em casa pelo menos está mais calmo desde que Ana Sofia, Aninha, como chamamos, nasceu. Eu e Marcelo estamos tão felizes com a nossa bebezinha que literalmente fazemos o máximo para esquecer o terror que ainda estamos vivendo.

— Ela é linda. — disse a Marcelo uma vez com um sorriso enquanto a olhávamos dormir.

— Linda como a mãe. — ele diz beijando minha bochecha enquanto me abraça por trás.

— Isso é bom ... — suspiro baixo o olhando.

— Isso o que, amor? — ele pergunta confuso.

— Ter essa sensação de que estamos tendo uma vida completamente normal, que não está acontecendo absolutamente  nada lá fora, que não trocamos de presidente de novo... Essa sensação de que não estamos bem no meio de uma ditadura.

— Verdade. — ele suspira. — Só queria que essa droga acabasse de uma vez, sabe. — diz abaixando o tom de voz lentamente, como se quisesse chorar, enquanto sentava levanto as mãos ao rosto.

— Sim. — sussurrei sentando ao seu lado e apertando sua mão levemente contra a minha, e encostando minha cabeça em seu ombro pouca coisa, tentando fazer com que ele se sentisse melhor, tentando consolar não só a ele, mas a mim também, nós dois, porque realmente as coisas estavam difíceis.

A única segurança visível que tínhamos era um no outro, e agora, em Aninha.

— Sofia...

— O que foi, meu amor?

— Obrigado...

— Por que, Marcelo?

— Por você estar aqui, por me entender, ser tão forte quando eu não consigo, me amar... Por tudo, meu amor. — ele diz rouco, já entre lágrimas.

— Você sempre fez isso por mim, não fez? — beijo seu rosto abraçando sua cintura — Desde que a gente começou a namorar... Sempre foi assim, você sempre quis me proteger, até do que não podia, sempre quis fazer de tudo só para me ver dar um sorriso. — limpo seu rosto e olho em seus olhos — Eu só estou retribuindo tudo que você já fez por mim, Marcelo, eu tinha que arrumar um jeito, qualquer que fosse pra te agradecer por isso tudo. — sorrio com os olhos levemente mareados.

— Eu te amo. — ele enxugou as lágrimas que ainda caiam em seu rosto, depois as minhas deixando um beijo em minha testa.

— Eu te amo. — faço o mesmo, mas beijando sua bochecha.

Então passamos assim o resto da noite, abraçados, tentando esquecer o caos do outro lado das paredes.

1964 - Diários de um Coração Rebelde Onde histórias criam vida. Descubra agora