Não estou dormindo nada bem esses últimos dias. As sirenes e os tiros estão deixando minha cabeça cada vez mais louca. Ouço vozes a noite inteira, tenho tido pesadelos frequentemente, passo a noite chorando aos soluços com Aline do meu lado tentando me acalmar. Estou com medo, muito medo, assustada. Não paro de pensar que a qualquer hora pode me acontecer alguma coisa, ou com Aline, Lucas, mamãe, papai ou até mesmo Marcelo.
Há duas noites que não durmo, nem sequer prego o olho. Passei o tempo todo acordada com Marcelo no telefone, mesmo que ele não estivesse aqui perto de mim, fisicamente, eu me sentia segura ao menos ouvindo sua voz.
Conheci Marcelo nos quase 4 anos que passei na Inglaterra morando com minha tia para aprender um pouco mais e melhorar meu inglês. Nos esbarramos acidentalmente numa das ruas movimentadas de Londres há mais ou menos uns 7 anos, na época ele tinha 15 anos, eu 14. Começamos a conversar bastante, fomos ficando amigos, e cerca de 6 meses depois, antes de voltarmos para Brasília, ele me pediu e, namoro. Eu aceitei e, bom... estamos juntos até hoje. Ainda bem! Porque sinceramente, acho que não sei como estaria aguentando passar por isso tudo se não fosse o Marcelo aqui comigo.
Gosto da sensação de proteção que ele me dá quando estou me sentindo insegura, principalmente esses últimos dias, ele tem ficado muito comigo, dado muito apoio, e eu tento retribuir isso dá mesma forma, mas as coisas estão ficando complicadas para mim. Estou ficando muito nervosa, sempre que tenho pesadelos acordo chorando e suando frio, morrendo de medo que aconteça alguma coisa com ele. Não quero perdê-lo. Não quero ter que ficar longe dele, seria duro demais pra mim, porque com exceção de Marcelo, eu só posso confiar, além de mim mesma, em Aline nesses últimos anos, mas na verdade sempre foi assim.
Desde que eu era pequena, só podia contar com Aline, porque papai e mamãe só davam atenção ao Lucas, é um pouco para ela também, mas nunca para mim. Porque sou a caçula! Tive que aprender a me virar sem a ajuda de ninguém, de Aline, às vezes, mas mesmo assim era pouco. Por isso me apeguei muito a Marcelo desde que o conheci, ele me passa segurança, faz eu me sentir bem, mesmo quando discutimos, ou quando há alguma coisa que faça parecer com que pudéssemos desmanchar o namoro, isso nunca acontece, porque ele me entende, entende os meus medos, e eu da mesma forma entendo os dele.
Temos uma conexão muito forte , tão forte que sabemos o que o outro quer dizer, sem sequer um de nós abrir a boca, só com um simples olhar, um suspiro, um sorriso, um abraço...
Eram umas 11 da noite quando acordei de um pesadelo aos prantos, agarrei o telefone em desespero e liguei para ele.
— Amor ... Marcelo ... — solucei,
— Oi, meu anjo ... — respondeu tentando parecer calmo, apesar de eu ter percebido que ele não estava nem um pouco — Pesadelo de novo?
— Sim ... — murmuro baixinho.
— Você tá bem, Sofia?
— Não! Não tô nada bem ...
— É ... — ele suspira um pouco — Percebi.
— Desculpa ...
— Não precisa pedir. Sei que as coisas estão difíceis para você, mais que para mim, mas o meu caso não importa, não me incomodo com isso. Me incomodo com o fato de você estar assustada ... Eu sou seu namorado, Sofia! Eu quero te ajudar.
— Eu sei ... — suspirei.
— Eu só quero cuidar da minha menina ... Só quero protegê-la, quero que ela se sinta bem comigo, quero que pare de chorar, mesmo que as coisas estejam difíceis... Porque eu sempre estarei aqui para cuidar dela... Cuidar de você, Sofia! Minha menininha linda! Eu só quero te fazer sorrir meu amor, quero que você volte a ser aquela Sofia sorridente de antes, aquela menininha linda por quem eu me apaixonei quando tinha 15 anos.
— Ah Marcelo... — suspiro.
— O que, meu amor?
— Por que você é tão compreensivo assim comigo?
Ele riu um pouco. — Não sei mesmo. É só que... Você me faz bem, me entende, e eu só tento retribuir isso tudo, sabe ...
— Meu amor ...
— Fala, meu anjo?
— Nada, é só que...
— O quê?
— Eu te amo ... — sorri com lágrimas nos olhos — Eu te amo, te amo muito, Marcelo. Amo tanto que nem sei como acho palavras para te dizer isso, meu amor. Eu ... Não sei, sabe. É meio louco, mas não importa... Nada importa! Eu te amo!
— Também te amo muito, minha pequena.
— Acho que vou dormir. — bocejo.
— Tem certeza? Vai ficar bem mesmo?
— Tenho sim. Não se preocupe, amor. Tá tudo bem.
— Então, bons sonhos, meu anjo... Dorme bem.
— Eu te amo.
— Eu também te amo.
Depois disso acabei dormindo. Pelo menos me senti melhor do que estava antes...
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1964 - Diários de um Coração Rebelde
Historical FictionEm 1964, uma jovem chamada Sofia começa a registrar todos os seus sentimentos com relação à Ditadura Civil-Militar que acabara de se instaurar no Brasil, mudando por completo sua história. 1º - Escribas de Ouro 3º - Escritores Fantásticos 3º - GAAK