Quero começar dizendo algo de todo o meu coração: Eu odeio reunião de fechamento do mês.
Já fazia mais de uma hora e meia que eu estava ali sentada, com cara de meme entediado, ouvindo o meu chefe falar do quanto estava satisfeito com o resultado das vendas nos últimos meses por causa das capas do novo fotógrafo, nome pelo qual eu não quero citar.
Ainda bem que ele não estava ali para se sentir exaltado. Eu não ia suportar olhar para aquela cara de convencido, metido a Gerard Butler.
- Paola, você tem alguma coisa a dizer? – ele sempre me perguntava antes de encerrar.
O bom de ser a amiga do chefe é que você pode dar a sua opinião.
- Eu só acho que ele está colocando pessoas demais nas fotos. – aquilo estava engasgado na minha garganta – Antigamente a gente priorizava mais os alimentos. – sim, eu quis alfinetar.
- Mas ele tem feito um ótimo trabalho, e se os clientes estão aprovando, então vamos deixar como está.
E o ruim de ser a amiga do chefe é que a sua opinião não importa.
Eu sou um pouco irônica, então eu ri, revirei os olhos, cruzei os braços e fiquei olhando pra cara dele.
- E eu tenho mais uma coisa a dizer. – ele continuou – Irei promovê-lo a editor.
- O que? – quase pulei da cadeira.
- Isso mesmo senhorita Bressani e eu já estou decidido disso, então não há nada que você diga que fará mudar a minha opinião.
- Ah, isso eu já percebi. Minha opinião não vale... – eu ia falar um palavrão, quando me lembrei de que ele era o meu chefe – Enfim, qual o critério você usou para decidir colocá-lo como editor? – perguntei indignada.
- O critério de que ele está estudando para isso e é ótimo no que faz.
- Isso você já disse, por acaso está apaixonado por ele?
É eu sou impulsiva. Mas como trabalho ali há oito anos, me senti no direito de fazer esse comentário.
Ele deu um sorriso sem graça.
- E você? Por que implica tanto com ele?
Touché.
Ele é vingativo.
- Sei lá, será que é porque ele foi mandado embora da empresa de Nova York por justa causa? – respondi com ironia.
- Isso já foi resolvido. Um funcionário foi se meter na vida pessoal dele e deu nisso.
- Então se alguém aqui mexer na vida pessoal dele, prepare-se para apanhar. – falei para os outros chefes de departamento – Porque pelo o que eu soube, ele batia até na ex-mulher.
- Paola, chega. – meu chefe pediu ainda calmo – O que ele faz na vida pessoal dele não me interessa aqui no trabalho.
- Ok. – levantei os braços em rendição e me virei para Ana que estava do meu lado – Então qualquer pessoa que me irritar aqui dentro, eu meto o soco lá fora e tá tudo certo. – cochichei.
- Você falou alguma coisa? – ele perguntou.
- Não, nada. – eu sou boa em ser cara de pau também – Alguém disse alguma coisa? – perguntei para os outros, que pareciam mais um bando de lhama olhando pra mim.
- Fica quieta. – Ana me cutucou.
- Ótimo! Reunião encerrada.
Quase gritei um "graças a Deus", mesmo sem acreditar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Pequena Conselheira
General FictionPaola Bressani é editora-chefe de uma grande empresa na cidade de Milão. Ela segue uma vida rotineira e estressante já há um bom tempo, e não está nem um pouco preocupada com sonhos, novas conquistas e com nada que a tire do seu "mundinho". Para e...