Eu voltei pra minha sala com aquela sensação de perda indescritível.
Tudo bem, nós conseguimos uma segunda oportunidade? Conseguimos. Mas não foi por minha causa, eu tinha fracassado. E fracassei feio.
Eu olhava pela janela e conseguia ver o reflexo do meu rosto. O reflexo de uma mulher que vivia de aparências, que não era quem queria ser. Eu colocava um salto e tentava me sentir poderosa, uma chefe, uma mulher de garra, mas não era nada disso que eu era.
Sabe como eu me sentia agora? Uma mulher vazia, cheia de nada. Eu não sentia amor por ninguém, era como se eu não soubesse mais como amar. Eu gostava da Ana, mas se ela estava ali ou não, pra mim não era nada desesperador. Eu já tive uma melhor amiga na adolescência, e era diferente, vivíamos juntas, morávamos uma perto da outra e nos víamos todos os dias. Eu sentia falta dela quando não a via, tudo que eu fazia eu me lembrava dela, enfim, eu sabia que tinha um carinho muito grande por ela.
Confesso que eu queria ser uma amiga melhor para a Ana. Participar mais da vida dela, ligar mais, nós duas sairmos juntas. Só que eu não tinha mais ânimo pra isso, eu não me via mais deixando uma pessoa tomar espaço na minha vida. Acho que fechei metade do meu coração quando perdi os meus pais, e depois fechei todo o resto quando fui traída pelo meu marido com a minha irmã. É difícil confiar de novo quando se perde a confiança, e é difícil amar de novo quando se perde um grande amor.
Eu andava tão desligada da vida, que nem me importava se as pessoas gostavam ou não de mim. Embora às vezes eu sentisse falta de ser amada por alguém, no dia seguinte já estava me sentindo muito melhor sozinha. E assim eu seguia dia após dia.
- Olá editora-chefe. – Ana entrou com cautela na minha sala.
- Não sei se ainda mereço esse título. – falei sem nenhuma animação.
- Amiga – veio se aproximando de mim – nem sempre as coisas acontecem como queremos. Você é uma ótima profissional e todos que trabalham aqui sabem disso, incluindo o George, que vocês não se bicam muito, se levantou pra te ajudar.
- Me ajudar? – me virei pra ela – Como você é ingênua, Ana! Ele só fez todo aquele teatro dele pra se aparecer, pra mostrar para o Marcos que é melhor do que eu. Porque você sabe que se eu for mandada embora, ele fica no meu lugar né?
- Não faça isso. – ela pediu com pesar – Você tem essa mania de ver o mal em todas as coisas, de desconfiar de todo mundo e não é bem assim que as coisas acontecem.
Eu revirei os olhos.
- Você sabe como realmente as coisas não acontecem? – perguntei impaciente e não esperei a resposta – As pessoas serem boas. – e encarei os olhos dela – As pessoas não estão nem aí com o seu sucesso, se você está bem ou se precisa de ajuda. A realidade da vida é que ninguém está nem aí pra você, com o seu fracasso, os seus sentimentos e as suas angústias. As pessoas fingem que são boas para conseguirem ter uma vantagem em cima disso, mas se você não tiver nada de bom para oferecer a elas, então será descartado como um lixo.
- Paola, eu não posso concordar com essas...
- Eu sei que você não concorda! – falei com a voz embargada, querendo chorar – Mas essa é a vida Ana, e não é um mar de rosas como você pensa. Não é uma luz divina descendo do céu pra te abençoar, não tem ninguém lá em cima com a mão estendida pra te ajudar, ninguém! – ela abaixou a cabeça e eu fechei os olhos deixando as lágrimas caírem – É cada um por si, Ana.
- Não é assim amiga. – ela falou com cuidado – Eu sei que você perdeu tudo o que mais amava, mas a vida vai te dar novas razões pra viver. Existem pessoas boas e você é uma delas, e essa é a nossa maior missão aqui na terra, amarmos uns aos outros.
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A Pequena Conselheira
Ficción GeneralPaola Bressani é editora-chefe de uma grande empresa na cidade de Milão. Ela segue uma vida rotineira e estressante já há um bom tempo, e não está nem um pouco preocupada com sonhos, novas conquistas e com nada que a tire do seu "mundinho". Para e...