Capítulo 17 - Sendo Eu Mesma

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  Eu voltei o caminho todo sem dizer uma só palavra.

  Percebi que o George estava meio apreensivo, mas mesmo assim não tocou no assunto. Quando chegamos ao hotel, ele me acompanhou até a porta do meu quarto.

- Você vai querer ir à festa? – me perguntou quebrando o silêncio.

- Vou sim. – falei pegando a chave – Preciso me distrair com alguma coisa boa.

- Claro, afinal ganhamos a promoção que você tanto queria. – tentou me animar.

- Na verdade o que eu tanto queria nessa vida, George... Era sumir. – e olhei pra ele – Até mais tarde.

- Até. – e ele esperou que eu fechasse a porta.

  O plano seria eu chegar pulando e gritando, ter chamado o George para entrar, nós dois brindarmos duas ou três vezes e sei lá o que teria acontecido depois. Mas ao invés disso, eu fui tirando as sandálias pelo caminho e me joguei no sofá.

- Era pra ter sido um dia especial. – murmurei sozinha, sentindo uma lágrima descer sem controle.

  Fiquei olhando para o teto sem saber no que pensar direito, a vida me pregava umas peças que eu não conseguia entender, por mais que tentasse, eu não saía do lugar. Era uma loucura total.

"Como a minha irmã foi aparecer justo no mesmo lugar que eu estava?"

  Essas coisas de destino, coincidências, não me entravam na cabeça.

- É porque não existem. – Dorothy veio do quarto e sentou no outro sofá.

  Eu fiquei surpresa ao vê-la ali, mesmo tendo combinado que voltaria antes da festa. Achei que ela tivesse ido embora por eu não ter perdoado a minha irmã.

- Dorothy? – até me sentei no sofá para vê-la melhor.

- Você precisa aprender de uma vez por todas, que eu não vou te abandonar só porque você errou. Às vezes que te deixei sozinha foi porque você pediu, mas mesmo assim eu nunca me afastei totalmente. – e deu um sorriso levado.

  Eu sorri de volta, por mais que estivesse triste aquela menina era a minha paz.

- Eu não preciso te contar tudo o que aconteceu, não é mesmo? – eu quis confirmar o que ela já sabia.

- Não, não precisa. Eu sei o quanto deve ser difícil para você.

  Dorothy era melhor que o meu terapeuta. Eu já estava me sentindo melhor só por ela estar ali.

- E você não está com raiva de mim? – achei estranho.

- E por que eu estaria? – me perguntou.

- Porque eu ouvi a sua voz. – falei me lembrando – Você me pediu para perdoá-la, você estava lá?

- Eu sempre estive, é que agora você consegue me ouvir.

- Isso é muito bom.

- Lógico que é! – falou animada, vindo sentar-se ao meu lado – Eu fiquei muito feliz que você me ouviu.

  Eu também tinha ficado contente com aquilo, mas uma coisa me incomodava...

- Mas eu não te obedeci. – falei com pesar – Me desculpe Dorothy, por mais que eu queira, mas nem sempre consigo fazer o que é certo ou o que vai agradar você e a Deus.

- Agradando a mim sempre agradará a Deus, e eu sei que você não é perfeita. – segurou as minhas mãos – Não precisa se sentir mal por não ter conseguido, mas eu gostaria de pedir que também não desista. O fato de não conseguir perdoar hoje, não quer dizer que não conseguirá nunca. Você evoluiu muito desde que me conheceu, desde que me deixou fazer parte da sua vida, e no começo você nem queria e olha hoje como estamos. – e sorriu.

A Pequena ConselheiraOnde histórias criam vida. Descubra agora