(ouvir a música com este começo de capítulo dá um toque demasiado cómico à coisa. peço desculpa)
- Eu quero respostas. – ordenei, assim que a porta do apartamento foi fechada.
- Asher! – Mia repreendeu-me, mas eu ignorei-a. – Eu sei que estás preocupado, mas o Declan está claramente com fome e precisa de descansar. Ele vai ficar onde?
Ficar. Só naquele momento percebi que as malas de viagem eram do meu irmão e que ele as tinha levado até ao meu apartamento porque planeava ficar connosco. Porque é que ele precisava de ficar numa cidade diferente? Ele tinha dezasseis anos, eu não poderia cuidar dele a esse ponto. Ele tinha que ir às aulas e acabar o secundário e ainda faltavam anos para isso acontecer. O meu cérebro começou a pensar em todas as opções possíveis e não cheguei a conclusão alguma. Mia percebeu que a minha respiração ficou mais pesada e obrigou-me a sentar-me no sofá, ao lado do meu irmão, e prometeu ir à cozinha buscar gelo para as feridas que Declan tinha no corpo.
- Asher? – olhei para o meu irmão, tão parecido comigo com exceção do azul dos seus olhos, que herdara do nosso pai, mas não disse nada. – Eles expulsaram-me.
- Eles...eles o quê? – sentei-me direito no sofá, sentindo raiva a trespassar todo o meu corpo. – Eles não podem fazer isso, tu és menor. Isso é negligência. – Declan encolheu os ombros. – Como é que isso aconteceu? – apontei para as suas feridas. – Não foram... - a única reação do meu irmão foi baixar a cabeça. – O pai?
Declan limitou-se a assentir e eu paralisei. Pela minha visão periférica, vi Mia parada à entrada da sala, também completamente paralisada com o que tinha acabado de ouvir. As minhas mãos começaram a tremer com a raiva que sentia. Eu sabia que os meus pais não iriam aceitar a revelação de Declan, mas nunca pensei que chegassem ao ponto de expulsar o filho de dezasseis anos de casa depois de lhe baterem. Não conseguia associar os pais carinhosos que conhecia às ações que devastaram o meu irmão, mas essa não era a minha preocupação. Declan tinha sido traído pelos pais e agora não tinha ninguém, para além do irmão mais velho que não o conseguia sustentar e os seus amigos. Ele tinha dezasseis anos.
- Não disse nada durante estes dias porque liguei à avó. Ela disse-me para eu vir para aqui durante uns dias para que ela conseguisse preparar a casa para mim. Ontem estive todo o dia a arrumar as coisas, enquanto os pais estavam no trabalho, e depois dormi em casa da Mary. – explicou-me tudo e eu limitei-me a olhar especado para o meu irmão mais novo.
Com dezasseis anos, depois de ter passado por tudo aquilo, ele conseguia olhar-me nos olhos e dizer-me tudo o que iria fazer como se já tivesse aceitado tudo. Contava-me o seu plano de forma tão madura que eu não o associei à sua idade. Sendo mais velho e querendo protegê-lo, sempre o imaginei como mais novo do que realmente era mas, naquele momento, não conseguia fazê-lo. Declan tinha dezasseis anos, mas depois de ter sido expulso de casa pelos pais, arranjou uma solução no espaço de um dia. A nossa avó materna que, apesar da filha aparentemente cruel que tinha, o acolheu com os seus braços. Permiti-me relaxar por um pouco, tentando fazer sentido do que estava a ouvir.
- E a escola? – questionei, sabendo que esse era um grande obstáculo.
- A avó disse que trataria de tudo. Ela estava tão irritada, Asher, devias tê-la ouvido. Acho que se ela me visse assim, explodiria.
- Com razão. – revirei os olhos, para conter a raiva. – O pai bateu-te, Declan. Não, ele não só te bateu, como te torturou e te expulsou de casa como se fosses um animal selvagem. Isso não se faz a um filho! – gritei e percebi que o meu irmão estremeceu.
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Cair e Levantar
Художественная прозаAsher era um rapaz simples: gostava de chá, de ter boas notas e de não perder a sua paciência. Mia era igualmente simples: gostava de ouvir músicas pop, de cantar músicas pop e, principalmente, de irritar Asher enquanto o fazia. All Rights Reserved...