Capítulo 10

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Depois de Declan passar pelo sofrimento de explicar o que aconteceu ao Jake e ao Miles, que começaram a chorar quando o abraçaram, fechei-me no meu quarto a olhar para o meu telemóvel. Queria ligar aos meus pais, mas não sabia como começar a chamada. Decerto eles já sabiam que Declan provavelmente estava comigo, ou então imaginavam que estaria com a nossa avó. Sorri, imaginando a minha avó com sessenta-e-cinco anos a reclamar com a sua filha. Era graças a ela que eu tinha uma personalidade tão forte, na realidade. A senhora era teimosa e fazia de tudo para ter o que queria, era casmurra e quando acreditava nalguma coisa, ninguém a faria mudar de ideias.

- Asher? – ouvi Mia chamar, do outro lado da porta, depois de bater na mesma. – Posso entrar?

- Podes. – confirmei, abrindo a porta para ter a certeza de que ela tinha entendido. Ela sorriu-me e eu fechei a porta logo a seguir, não me preocupando em olhar para a sala.

- Queres ligar-lhes, não é?

- Achas...achas que devo? – questionei, procurando uma resposta sincera. Ela sentou-se na minha cama e respirou fundo, obviamente não sabendo o que dizer.- Eu sinto que preciso de o fazer. Aliás, ligar não chega. Quero ir lá e obrigá-los a explicarem-me o que é que os possuiu para fazerem aquilo a um miúdo de dezasseis anos. Ao seu próprio filho.

Mia deitou-se na minha cama, depois de encolher os ombros, e eu entendi-a. Faz o que achares melhor. E fiz. Sentei-me perto dela e procurei o número da minha mãe nos contactos, sabendo perfeitamente que o ódio que sentia dentro de mim estava mais direcionado ao meu pai que a ela. Até onde o Declan me tinha contado, ela não lhe tinha tocado. Tinha apenas tido a lata de chorar enquanto o nosso pai lhe batia. Odiava-a por isso, por não ter feito nada, mas Mia infiltrou em mim a ideia de que ela talvez tivesse tido medo do meu pai. Não acreditava muito nisso, mas não deixava de ser uma hipótese.

- Asher? – o meu corpo paralisou ao ouvir a voz da minha mãe. Não estava preparado para aquilo, de todo, mas tinha que ser. Já tinha começado.

- Como é que pudeste? – perguntei apenas. Mia obviamente não gostou da forma como eu iniciei a conversa, porque sentou-se e bateu-me no braço.

- O Declan está contigo?

- Como se tu te preocupasses muito, mãe! Tu expulsaste-o de casa. Ele tem dezasseis anos! Que tipo de mãe és tu?

- Não tens o direito de falar assim comigo, Asher. Eu sou tua mãe.

- És? – questionei apenas.

A minha mãe ficou em silêncio. Enquanto ouvia a sua respiração, senti movimento na cama. Mia tinha-se sentado atrás de mim e envolvido o meu corpo com as suas pernas, agarrando a minha cintura. A sua cabeça pouso no meu ombro e senti os seus lábios rasparem na minha pele. Não olhei para ela, demasiado focado na forma como a minha mãe respirava bruscamente, mas agradeci o contacto porque estava a acalmar-me. Respirei fundo, recusando-me a voltar a falar para a minha mãe. Queria respostas e ela estava a evitar o assunto. Como se atrevia? Expulsou um filho menor de casa apenas porque ele lhe disse que gostava de rapazes e não de raparigas. Era apenas a mim que soava ridículo?

- Homossexualidade não é natural, Asher. O Declan pode voltar a casa quando perceber isso.

- O que não é natural é uma mãe deixar o filho ser abusado pelo pai e ainda concordar com isso. O que não é natural, mãe, é o facto de tu te preocupares mais com a orientação sexual do que com o bem estar do teu próprio filho. Vocês são ridículos.

- Asher! – tentou repreender-me, mas eu limitei-me a rir.

- Perderam o respeito que vos era merecido por serem pais quando deixaram de o ser para o Declan. Graças à vossa mentalidade grotesca, perderam ambos os vossos filhos. Espero que estejam orgulhosos. – desliguei a chamada, deixando o meu telemóvel cair no chão.

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