- Bom dia, Mia. – cumprimentei, num sussurro, assim que cheguei à biblioteca.
- Superstar, where you from, how's it going? – revirei os olhos, sentando-me ao seu lado. Pousei o que tinha trazido especialmente para ela na larga mesa. – I know you. Got a clue, what you doing?
- Britney Spears é ultrapassar toda a espécie de limites. – ela tirou um dos auscultadores dos seus ouvidos e olhou para mim, tentando processar o que lhe disse.
- Toda a espécie de limites de brilho, sim.
Era a primeira vez que me encontrava com Mia propositadamente fora do contexto de aulas. Depois daquele dia na esplanada, ela passou a recorrer a mim para todas as suas dúvidas. Com algumas frequências a aproximarem-se, ofereci-me para a ajudar durante os nossos tempos livres porque assim eu também estudaria. Ela não era burra, definitivamente, mas não conseguia estar muito tempo concentrada. No entanto, Ava, a sua irmã gémea, garantiu-me que se eu me mantivesse como Mia me descreveu nos primeiros dias, tudo correria bem. Só precisava de a controlar e de tentar que ela se focasse. Até ao momento, não estava a correr muito bem, mas também era só o início.
Como nas últimas vezes em que ela me pediu ajuda, ela abriu o seu caderno e mostrou-me páginas cheias de dúvidas. Sinceramente, era algo que eu gostava que ela fizesse. Ela conseguia explicar-me o que não percebia e isso tornava as coisas bastante mais fáceis. Para além disso, as pequenas notas com que ela enchia o caderno mostravam-me um lado dela que eu ainda não tinha conhecido. Conseguia perceber perfeitamente o estado de espírito com que ela estava quando escrevia cada uma das dúvidas nas páginas outrora brancas daquele caderno. Sim, maior parte delas mostrava que ela estava feliz; fazia-me perguntar como é que ela conseguia estar sempre de tão bom humor.
Mas, em algumas notas, ela tinha escrito com força como se estivesse irritada, a caligrafia estava confusa porque ela estava com pressa e, ocasionalmente, eu mal percebia o que ela tinha escrito. Nesses casos, eu percebia que era algo que a frustrava porque a sua reação antes de me responder era sempre a mesma: dizia nem me digas nada, revirava os olhos e, de seguida, semicerrava-os para ela própria tentar entender o que tinha escrito. Depois disso, ficava frustrada mais uma vez e eu dava-me ao trabalho de tentar decifrar aquilo para evitar que ela ficasse num mau humor.
- Britney? Mia, desculpa, mas achei que eras melhor que isso. – o que não lhe disse foi que, de todas as músicas que ela cantou e de todos os artistas que já homenageou, a Britney era a mais talentosa, na minha opinião.
- Eu nem te vou responder, Asher. Vamos estudar.
Feliz com o resultado que eu sabia que a minha intervenção iria ter, encolhi os ombros e peguei no seu caderno. A nossa rotina – se é que se podia chamar isso ao que nós fizemos duas ou três vezes – era simples. Primeiro, eu tentava que ela me explicasse o contexto da sua questão. Isto porque eu sabia que grande parte das dúvidas que ela tinha ao estudar eram porque não tinha percebido o que certa frase queria dizer em certo contexto, ou porque tinha trocado algo que ouviu sobre um outro assunto com aquilo que estava a ler. Outras vezes, a sua ordem de raciocínio começava com algo que era completamente diferente do que dizia no artigo e isso só resultava em caos, claramente.
Com Mia, o tempo passava rapidamente. Entretanto já tinha passado uma semana e meia desde a primeira vez que falámos e que ela quase me matou, mas eu já quase não guardava ressentimentos. Fazia sempre o meu máximo para não a assustar e para não correr riscos até porque já tinha percebido que ela era um maior risco para ela própria que para mim. Mas não queria abusar da minha sorte.
- Mia, por favor, foca-te no que eu estou a dizer. Já repeti isto três vezes. – pedi, depois de meia hora, deixando a minha cabeça cair na minha mão. Puxei os meus cabelos de leve, tentando não ficar frustrado com ela.
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Cair e Levantar
General FictionAsher era um rapaz simples: gostava de chá, de ter boas notas e de não perder a sua paciência. Mia era igualmente simples: gostava de ouvir músicas pop, de cantar músicas pop e, principalmente, de irritar Asher enquanto o fazia. All Rights Reserved...