Capítulo 18

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- Sou a Mia. – esticou a sua mão na direção da minha mãe.

Só consegui pensar que, quando Mia conheceu as outras pessoas da minha família, não tinha sido assim tão cordial. Tanto com Deke como com a minha avó, ela tinha pulado automaticamente para um abraço. Não a julguei, obviamente; eu percebi. Mia não nutria, claramente, pela minha mãe, um respeito tão grande como pela minha avó, nem tinha sentido automaticamente o desejo de proteção como quando viu o meu irmão mais novo. A minha mãe, até ao momento, era apenas metade da razão pela qual Declan tinha aparecido daquela maneira no meu apartamento. Era minha mãe, sim, e ela estava a ser educada, mas não passou disso. Aliás, até me surpreendeu ela ter tomado a primeira iniciativa naquela situação.

- Mia? – o seu olhar desviou para as nossas mãos entrelaçadas. – Asher! Tens uma namorada.

- Sim, mãe. – revirei os olhos. – Há alguns meses, na realidade.

A minha mãe limpou as lágrimas ainda presentes nos seus olhos e deixou o choque apoderar-se da sua expressão. Fiz um esforço para não rir, porque não era caso para tal e ambos o sabíamos. Não tinha contado à minha mãe porque me recusava a falar com ela durante mais que dois ou três minutos e isso não era tempo suficiente para eu lançar a bomba, não que eu o quisesse fazer. Porque sabia o que ia acontecer, e era o que estava a acontecer naquele momento. Num segundo, a minha mãe ignorou a verdadeira razão pela qual eu tinha decidido conduzir até casa e focou-se apenas no facto de que eu, Asher, o seu filho mais velho, aquele que nunca apresentou namoradas à família, aquele que odiava compromissos, tinha uma namorada.

Eu sabia que trazer Mia iria revelar-se um erro, eventualmente.

- Oh, muito prazer! Desculpa as minhas maneiras, mas o Asher nunca trouxe uma namorada a casa. – abraçou Mia, mas ela só retribuiu por delicadeza.

- Ele não queria que eu viesse hoje, também. Mas eu obriguei-o. – sorriu, mostrando um lado melhor da sua pessoa à minha mãe.

- E fizeste tu muito bem! – exclamou e eu revirei os olhos para a felicidade da mais velha.

- Não foi para isto que aqui viemos, mãe. – proferi, com voz grave, e ambas olharam para mim.

Vi a minha mãe engolir em seco e cruzei os braços, largando a mão de Mia. Ela olhou para mim e suspirou para a minha atitude, mas não vi nada na sua expressão que me mostrasse que ela me estava a julgar. A minha mãe decidiu deixar-se ser confrontada pela dura realidade e virou-nos as suas costas, caminhando na direção da casa. Suspirei e deixei que Mia caminhasse à minha frente (quase obriguei que ela o fizesse, na realidade), tentando arranjar tempo para formular tudo o que eu queria dizer aos meus pais no meu cérebro. Tinham passado cinco meses e eu ainda não sabia o que dizer à péssima desculpa de pai que me tinha calhado. Respirei fundo, acalmando os nervos que sentia dentro de mim.

- O pai? – questionei, olhando de relance para a sala de estar.

- Escritório. – respondeu-me, numa voz fraca, a minha mãe. – Queres que eu o chame?

- Não. Fica aqui com a Mia, por favor. – olhei para a minha namorada e ela sorriu-me, assentindo.

- De certeza que isso é boa ideia, Asher?

- Sim. – disse apenas, ignorando os seus pedidos para que falássemos calmamente na sala.

Não ia deixar que a minha mãe usasse Mia como arma contra mim, portanto continuei a ignorá-la até entrar no escritório do meu pai. Era uma conhecida regra na nossa casa a que tínhamos que bater à porta antes de entrar naquela divisão, mas eu pensei que houvesse leis contra bater nos próprios filhos. Para além disso, sentia-me rebelde e sabia que entrar sem bater era a maneira mais eficaz de mostrar ao meu pai quem tinha chegado e que tínhamos que falar. Tal como previa, o meu pai olhou para mim, mostrando-me quão parecido eu era dele, e manteve uma expressão neutra. Quase desejei que ele começasse a chorar como a minha mãe, mas depois controlei-me. Talvez fossem mais fácil lidar com ele daquela maneira.

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