Memories

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Justin

Meus dedos rastejam pelo chão até que os mesmos toquem o vidro gélido da garrafa de uísque. Trago a garrafa bem próximo aos meus lábios, e goleio o líquido sentindo-o descer amargamente por minha goela. Apesar de a garrafa estar com gotículas de água ao seu redor e o vidro estar gelado, o líquido amargo perdeu sua essência no instante em que o deixei de lado por muito tempo.

Tomo outro gole, desta vez acabando com o pouco de álcool que havia restado. O cheiro forte da bebida, ou talvez o próprio gosto ruim, faz com que eu lacrimeje. Quem eu estou querendo enganar? Não é culpa da bebida. Sim, estou chorando, nunca senti-me tão impotente, inútil. A mulher que eu amo saiu pela porta de nossa casa sem ao menos dar-me a chance de pedir desculpa. O que Faith fez doí mais do que qualquer soco, fere mais do que qualquer bala, pois machuca o meu coração, meu emocional, minha alma.

Não entendo, gostaria de entender, mas não consigo. De fato, essa foi nossa pior briga e apesar de curta, as palavras foram duras, mas ainda sim, não é motivo o suficiente para que ela tenha me deixado. Foi uma briga tola, nós iríamos resolver, eu sei que sim. Faith foi precipitada, não deveria ter feito o que fez. Não me deixou explicar, não atende minhas ligações... Essa mulher fodeu comigo.

Em um ato de raiva, mas, ao mesmo tempo, desesperado eu jogo a garrafa vazia longe e vejo-a se espatifar contra a parede a minha frente. O vidro se parte em dezenas de pedaços, levando consigo o porta retrato prateado com uma foto de nosso casamento. Corro para perto da bagunça e abruptamente tiro o porta retrato do chão. Meu polegar se corta e um pouco de sangue começa a escorrer por sua expessura, não me importo, não ligo, apenas vejo uma gota de sangue pingar no chão. Encaro a fotografia, que fora tirada por mim, Faith está linda, sorridente e completamente espontânea. Perfeita.

Fecho uma de minhas mãos em punho. As lágrimas escorrem molhando meu rosto. Limpo minha face de forma bruta e me levanto do chão, indo até a cômoda e pegando os outros três porta retratos presentes no quarto. Saio do cômodo e vou até a sala de estar, o aparador da sala é composto apenas por porta-retratos e a televisão. Trato de jogar todos no chão, pouco me fodendo para a bagunça. Uma vez com todos quebrados, recolho as fotografias, todas lembram-me Faith e nossos anos juntos. Não posso, não quero tê-las em casa, é muito doloroso.

Com as fotografias em mãos eu vou até a cozinha e abro a terceira gaveta do armário, onde sei que a há um isqueiro. Sem pensar duas vezes, eu ergo uma das fotos e vejo a chama alaranjada consumi-la, destruindo o momento retratado. Antes que a mesma vire pó, e a junto com as outras, em cima do balcão de granito. É duro vê-la queimar, ver o sorriso se desfazer, e também a forma como seus olhos brilham ao meu olhar. É duro ver isso, mas seria ainda mais duro deparar-me com todas essas imagens dia após dia, sem ter Faith presente.

Sinto meu celular vibrar no bolso do jeans, o mesmo jeans que vesti ontem. Não tomei banho, não comi, não dormi. Animo-me com a possibilidade de ser Faith, pedindo-me para buscá-la, seja lá onde ela está. Ao pegar meu celular, vejo o nome de minha sogra no visor, e por mais que minha animação tenha diminuído, ela ainda existe, pois digo a mim mesmo, que ainda sim, pode ser minha esposa. A bateria de seu celular pode ter acabado, ou talvez em um momento de raiva, ela o tenha jogado fora.

–– Amor? Faith? –– digo desesperado ao apertar o botão verde.

–– Não, Justin. Sou eu Glória, sua sogra. –– não hesito ao soltar um suspiro frustrado, ao sentir-me derrotado. –– Justin, o que está acontecendo? Minha filha me ligou agora pouco, disse que as coisas entre vocês não estão bem, e que passará um tempo fora da cidade. –– sinto meu coração parar por alguns instantes. É pior do que eu havia imaginado.

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