Como o deus dos mortos, nenhum sentimento de felicidade fluía percorrendo a pulsação em suas veias. Não era natural que mostrasse sua alegria. Raramente sorria ou falava com os deuses que o acompanhavam. É claro que se divertiam, mas Hades não era de se expressar.
Conceber a vida a alguém não deveria ser feito frequentemente. Embora que a muito tempo atrás ele já havia exercido aquele dom. Nem mesmo Zeus poderia trazer alguém de volta da morte. Alguns pedidos Hades já havia correspondido, no entanto, não são todos que podem ter uma segunda chance. Hades analisava muito todas as situações, as almas não vagavam no nada para sempre. Boa parte delas encontrava o que fazer por ali. Essas almas não permitiam que o vazio do tempo as consumisse. Não são todos os mortos que se acomodam com a própria morte, leva um precioso tempo para que absorvessem a nova realidade.
Logo a sua frente, as portas duplas ao longe trancavam a passagem de milhares de almas. Não era à toa que elas sempre continham uma expressão de confusão em seus rostos. Mas haviam motivos para que as coisas tomassem este rumo. Os juízes teriam trabalho pesado nesta madrugada, mas mesmo assim eles nunca haviam reclamado. A ordem da vida para a morte deveria continuar a seguir um padrão. Este tipo de coisa não deveria ser violado, muito menos mudado, pois além de não ser algo natural de se ocorrer. Era uma lei que Hades havia criado no submundo. Muitas coisas eram proibidas, assim como também existiam a conter lindas e maravilhosas personificações de ida.
Quando Hades havia chegado ao submundo, e tomado a posse que lhe fora dada na divisão de hierarquia e domínios entre seus dois irmãos, o submundo era vazio e frio. O gelo dominava parte da escuridão, não havia vida. A morte possuía alguém para dar ordem aquelas almas infelizes. Os monstros eram criaturas terríveis com olhares ferozes e ar de autoridade. O tempo que precisou para deixar seu reino ao seu próprio agrado fora longe e digamos que de certa forma sofrido.
Pois Hades tomou posse da confiança de muitos deuses e ganhou Caos como um velho amigo. Com a ajuda de seus aliados, ele deu forma a seu reino, procurou entre muitas almas, três das mais honradoras da justiça e da verdade. Colocando juízes para os julgamentos das almas, forjando com as perigosas braçadas de asas da própria morte, um recanto de campos para seus refugiados. A morte poderia buscar qualquer ser vivo, e mesmo assim sempre teria mais um lugar no mundo subterrâneo. Elíseos, Hasfódelos e Campos de Punição, os lugares mais confortáveis para os mortos. Bem, ou era isso ou a foça do Tártaro.
Nenhum de seus irmãos ousaria pôr os pés em seu reinado, pois até mesmo Cronos acorrentado em pedacinhos abrigava no mundo inferior. Hades odiava oferendas vindas dos mortais ou de qualquer outra criatura. Pois não existe como enganar ou bajular a morte. Para alguns ela chega dolorosamente e para outros, é como um beijo sereno e calmo. Como o ponteiro de um relógio, ela busca atenuar o sofrimento e descanso eterno para alguém que realmente mereça e aceite. Do contrário é algo que não tem sentido, que tira a força e machuca por dentro.
Hades era como a morte, incompreendido. Não gostava da atitude de alguns humanos, mas invejava a posse que tinham para recomeçarem sempre que quisessem. Alguns dos mortais iam coisas boas em quem apenas exerce o mal. Nem todos eles são iguais. E Tersa enxergava algo em Hades que havia desconhecido até ouvir de sua súdita aquelas palavras. Que convém a serem as últimas ditas pela mesma.
Uma ninfa doce que havia nascido das águas sombrias do Estige. Raramente aquele estranho fenômeno acontecia. Ninfas eram a essência da natureza. E o mundo subterrâneo também continha o seu toque especial. A solidão o havia tornado o que ele era. E aquela pequena ninfa se renegara a servir seu rei por uma noite. Lhe dizendo que nem toda a solidão precisava ser sombria, que quando ele menos esperasse o narciso amarelo brotaria.
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O Rapto de Perséfone
FanfictionTalvez a luz e as trevas sempre combinaram, talvez eles sempre precisaram um do outro. Nem todo o amor surge por querer, ele apenas surge por que precisa surgir, porque quer surgir. Porque talvez esse seja o destino. E assim será. Neste conto mit...