Ela sabia que passaria o dia sozinha. Não fazia ideia do que faria para que as horas passassem depressa. Seguiu a primeira ideia que teve em mente. Por mais que já estivesse arrumada e linda, ela sentia a necessidade do silencio e de estar em seus pensamentos. Então rumou ao seu quarto, viu-se ali apenas consigo mesma, sentou-se em uma cadeira estofada, passou a mão em uma escova e alisou seus cabelos já soltos.
Sem presa, ela deslizava a escova sentindo a macieis do cabelo. Não tinha a certeza se passaria a manhã toda daquela forma. Mas ao menos assim tudo estava tranquilo. Finalmente tudo estava como era antes, Tânatos era apenas seu amigo, ela ainda tinha a chance de conhecer aquele lugar e Hades era seu esposo. Perséfone passou uma página em branco em alguns episódios frustrantes no qual havia passado neste lugar, mas com isso ela soube quem era de verdade. E reconheceu que tudo isso, deveria ter acontecido. Construíra afinidades com muitas deusas daquele reino e sabia que não poderia estar em um lugar melhor.
Tudo estava perfeito. Perséfone ficara desapontada com a mãe, queria que ela realmente pudesse compreender o seu lado, o seu ponto de vista. Como as verdadeiras mães costumam fazer, mas talvez Deméter não quisesse se igualar as mães mortais. Fora a primeira vez que não sentira necessidade de ser protegida, vigiada e ter uma rotina controlada pela mãe.
Agora ela era dona de seu próprio tempo, do seu próprio lar e decidia todas as ordens. E o mais maravilhoso era que ninguém reclamava. Ser uma rainha não tornava-se algo fácil, Perséfone estava se dando muito bem por enquanto, mas ela ainda não havia atuado com as almas, seus súditos.
Por longas duas horas ela permaneceu naqueles mesmos pensamentos percebendo tudo o que já havia vivido. Será que as rainhas humanas se sentiam sozinhas também? Se alguma vez elas já haviam pensado no povo delas e não apenas em si mesmas? Através de um longo e pesado suspiro a deusa da primavera deixa de lado qualquer pensamento.
Alguns minutos depois uma arrumadeira bate na porta, pede licença e organiza as roupas de Hades para dentro do armário. Perséfone aproveita e pede o almoço no quarto. Com rapidez e eficiência a menina retorna com a bandeja farta de diversos pratos de comida. Deixou tudo em cima da cama onde a rainha já aguardava. Esperou que ela se retirasse e começou a comer sem muita pressa. Como estaria a sós a maior parte do dia, que mal faria dar um passeio pelos seus jardins?
Percorreu por vários corredores até que lhe veio o rumo certo, ao fundo do caminho uma harmoniosa estrutura torneava as pontas da abertura. Eram feitas de prata pura, com um brilho intenso e instigante. Chegando ao final do corredor, tudo ficou mais claro, as lapides de mármore contornavam os lados do palácio. E o jardim as tornavam ainda mais belas.
____Perséfone! ____gritou Nix no fundo do jardim.
A rainha atravessa a coluna de pilares e pisa na grama do jardim, em busca da voz da deusa da noite. Olhando para sua esquerda Perséfone encontra Nix a uma longa distância, e para sua curiosidade e pequeno espanto, Cérbero as observava no jardim. Era estranho encontra-lo ali, geralmente ele cuidava para que todas as almas entrassem pelas portas do submundo e não permitia a aproximação de mortais se divertido pelo reino dos mortos. O cão de três cabeças parecia tranquilo e sossegado, a brisa e a calma dos jardins de Perséfone lhe pareciam perfeitos.
Sorte a dela, mas a deusa da primavera não tinha receio algum sobre ele, da ultima vez que o vira, o cão estava cuidando de sua proteção até que Tânatos o havia mandado de volta ao seu posto de trabalho. Mas Perséfone sabia que Cérbero era o animal favorito de Hades, o melhor amigo, obediente, carinhoso e companheiro. Três palavras que o definiam muito bem. Particularmente Hades nunca contara a história de Cérbero e a deusa sempre ficara curiosa desde que o vira. Então, tomaria nota desta curiosidade e procuraria informações mais tarde. Os olhos atentos do canino mantinham-se passivos e presos a rainha, Perséfone prosseguiu caminhando pelo trilho de pedras atenta a Cérbero. Cujos olhos mantinham-se em constantes mudanças, neste momento, eles eram castanho claro, atentos, porém normais as de qualquer cão. Continham um carinho, procuravam por alguma coisa encontrando o que queriam no fundo do olhar de Perséfone, sua essência. Em outros intervalos de tempos e ocasiões, eles pareciam ameaçadores e ferozes, preocupados e precavidos, como se sua vida fosse feita para defender as de outros.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Rapto de Perséfone
FanficTalvez a luz e as trevas sempre combinaram, talvez eles sempre precisaram um do outro. Nem todo o amor surge por querer, ele apenas surge por que precisa surgir, porque quer surgir. Porque talvez esse seja o destino. E assim será. Neste conto mit...