Capítulo 37

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Deméter ainda não estava consolada. Não podia admitir ficar sem a filha. Para a deusa da agricultura a solução não havia sido definida. Já para Zeus, por ter visto a tristeza nos olhos da filha e as ações do irmão ao vê-la sendo levada, não tinha o que ser definido. Era aceitar a situação e ponto final.

Porém a pobre mãe via-se perdida, com um sentimento aborrecido daqueles quando você se sente enganada. Na cabeça dela era isso mesmo. Assim que haviam voltado ao Olimpo, ninguém mais tocara no assunto. Alguns deuses, como Apolo, haviam mostrado certa desesperança e aborrecimento por não trazerem Perséfone de volta. Algumas deusas como Héstia tentara consolar Deméter, dizendo que ao menos Hades mantinha Perséfone protegida e bem cuidada. Afrodite fora também uma das que tentara ajudar, porém, a deusa da agricultora expulsara a doce e adorável deusa do amor aos berros de seus aposentos. Deméter só aceitava consolo de quem dissesse o que ela queria ouvir. Mas todos tinham medo de Zeus e o que ele queria sempre deveria ser feito. A deusa não saia do quarto, não se alimentava como deveria, não que fosse necessário, mas os alimentos lhe faziam bem. Estava com saudades do tempo em que tinha sua adorada filha perto dela. O desenvolvimento do crescimento da deusa, fora tudo tão perfeito. Ela amava demais a filha para deixar eu a tirassem dela.

Deméter respirou fundo. Decidida ela sai de seus aposentos e marcha pelos corredores furiosa. Queria sua filha de volta. E ela iria conseguir. Seus passos eram ouvidos por todo o Olimpo e era exatamente isso que ela queria.

Chegando na sala dos tronos ela encontra Zeus. Sozinho, refletindo em seus pensamentos. Mas é claro que ele havia notado a fúria de Deméter se aproximando. Os outros deuses já estavam achando um exagero todo aquele teatro de choramingo.

____Zeus, meu senhor. ____ela tenta se controlar ao chama-lo e para nada ele notar, Deméter faz o possível para pronunciar seu nome com carinho.

____Deméter. ____ele a olha com curiosidade.

A forma com que ele a chamou, literalmente a tinha feito suavizar os traços de sua face.

____Quero nossa filha de volta, por favor. ____ela implorou.

Zeus solta um longo e pesado suspiro, procurando manter o controle.

___Olhe meu bem, Hera não está em casa hoje, se quiser posso fazer mais uma filha com você. Se isso irá lhe trazer um sorriso de volta e lhe acalmar.... ____ele pisca para ela.

____Não seja tolo! Não quero outra filha! Quero Perséfone. ___berra Deméter.

Zeus se levanta do trono e caminha em direção a deusa tristonha, Deméter desvia o olhar com medo do que ele poderia pretender fazer. De novo não, pensava ela. Ele dá uma meia volta e para atrás da deusa da agricultura.

____Me arrependo de não tê-la tornado minha rainha. Nossa filha é bonita e encanta a todos os deuses. Imagine minha querida Deméter, quantos filhos poderosos poderíamos ter tido. ____ele puxa a alça do vestido para o lado e deposita um suave beijo. ____Se você ao menos me deixasse fazer o que se deve, se ao menos, me deixasse tocá-la se sentiria menos sozinha, Deméter.

____Não. ____ela desaba em um choro comovente, cansada e completamente perdida.

____Querida acalme-se. ____ele vira a deusa para poder pegar aquele pequeno rosto nas mãos. Como ela era linda.

___Acho que posso fazer algo por você. Para ajudar a ver como Peréfone está bem.

As vezes aqueles olhos azuis se enchiam de luz e amor, ela quase nem acreditava que ele algum dia pudesse ser tão carinhoso.

___Como o que? ____ela sussurra a pergunta.

Ele sorri e a conduz para perto do trono maior.

____Íris. ____ele responde.

Através de uma fonte com agua e três dracmas, Zeus pede a deusa mensageira de Hera, que mostrasse Perséfone naquele exato momento. Deméter ficava olhando para os movimentos que a água fazia, até ver sua preciosa filha entre abraços e longos beijos com Hades. O lugar não era tão escuro e surpreendentemente lhe pareceu agradável aos olhos. Estavam em um gramado, com flores, árvores e humanos. Parecia-se muito com uma aldeia. Uma aldeia muito bem cuidada. Hades desfez o beijo e direcionara a atenção de Perséfone para suas mãos lá ele faz urgir um grande e majestoso rubi vermelho. Perséfone sorria, completamente apaixonada pelo marido. Ela põe suas mãos sobre as dele e molda o rubi no formato de uma rosa. Ela olha maravilhada para ele e diz algo que o fez surtar de alegria.

Deméter sabia o que era, ela o amava. Conhecia a filha e nunca lhe pareceu tão real. Algo estranho acontecia dentro dela. Seria mesmo o certo deixa-la ficar. Mas seria tão errado querer a filha só para si?

De uma coisa ela sabia, nunca encontraria tanto amor entre deuses como havia em Hades e Perséfone. A imagem desaparecia aos poucos até que nem a fonte estivesse mais ali. Zeus buscou o olhar comovido da deusa e Deméter sabia o que fazer.

____Posso lhe pedir mais uma coisa?

Ele sorri docemente para ela, temendo o que seria.

____É claro.

____Eu gostaria de visitar minha filha. ____ela despeja as palavras, tornando tudo mais uma conclusão do que um pedido de permissão. ____Poderia passar alguns dias no submundo, para entender o que se passa e ter a certeza de que ela esteja feliz?

O rei do universo fica pensativo, demorou longos segundos para olha-la com segundas intenções e lhe dar uma resposta.

____Falarei com Hermes, pedirei a ele para falar com Hades. Se nosso irmão concordar você pode ir. ____ele se aproxima. ____Agora quero algo em troca.

Ela engole em seco.

____Farei com que algumas plantas importantes cresçam novamente, aquelas que sobrevivem ao frio. Assim nenhum humano irá morrer por falta de alimento e farei com que as águas fiquem livres do veneno.

____Sim, Poseidon andou reclamando dessas ervas venenosas. Esta bem, querida. Mas falo de algo para mim. O que pode me dar em troca.

O que ela faria, estava perdida. Zeus era conhecido por sua esperteza e jamais aceitava um não como resposta.

____Um beijo.

Ele sorri com satisfação e a toma nos braços apreciando aqueles belos lábios de Deméter. Então ele a beijou, como nunca tinha feito antes. Tinha se esquecido como ela era doce e delicada, por trás de todo aquele rancor havia uma linda deusa escondida. A deusa não o interrompeu em nenhum momento, pois nunca havia sentindo tanta bondade em um beijo.

Quando ele finalmente quis deixa-la respirar depois de incontáveis minutos, o deus diz uma última coisa antes de permitir para ela retornar aos seus aposentos.

____Um dia você terá de deixar nossa filha escolher.

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O Rapto de PerséfoneOnde histórias criam vida. Descubra agora