Havia algo diferente na rua hoje cedo, uma espécie de exaustão coletiva. Todos caminhavam com pressa de chegar à lugar nenhum, e chegaram.
Insatisfeitos.
Atônita, percebi que os acompanhava e também tinha chegado lá - e não era bonito, jogados em minha face os meus erros. Meus acertos não sendo lembrados.
Caiu no esquecimento até a minha agonia de, um dia, me tornar vítima do acaso. Se por ventura o motorista desse umas buzinadas, meu coração não estaria aos saltos;
Quase atropelada.
Visão fora de foco e perspectiva desolada,Havia algo diferente na rua hoje cedo, uma espécie de despedida da alegria.
Dia taciturno, tropeçar na pedra solitária não me fez praguejar. Surpresa. A ira deu lugar ao estado insone,
Inconscientemente desejei chorar - vai, menina, você ainda é capaz de sentir.
Por quê agora? Indaguei, deparando-me com a Morte caminhando ao meu lado, ao lado do limbo e dos meus pecados.
Por quê não agora? Ela devolveu.Resignada, assisti a Morte passar por mim e ir embora. Talvez eu devesse ter me arrumado melhor para atraí-lá, assim mal vestida ela se recusou a me levar.
E veio a brisa passageira, que esperei a semana inteira.
E desejei mudar o canal da TV...Da minha boca a secura brotou, fazendo-me aguar em desejos vis.
Vilania de menina,
Sem espelho para açoitar.
Então o medo, zombeteiro, me lembrou de acordar.
Era um pesadelo tudo aquilo que vivi,
Sorri para o novo dia com a certeza de que aquele não-atropelamento fora, de fato, o meu fim.
Eis que a Morte me levou e eu nem percebi.
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Poemas Desmedidos
PoetryVês? Sem medida criou o extraordinário, ordinário, que encanta almas em busca do próprio relicário. Pra quê medir? Se vai ultrapassar. Transbordar. Deixa a escrita fluir, menina; Deixa fluir e no final cê vê no que dá, afinal... São apenas Poemas...