Capítulo 49

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Quase tenho um enfarte ao ouvir quatro batidas na porta.

"Care?" Oiço a voz de Niall chamar e liberto um suspiro aliviado.

"Entra." Digo-lhe e a porta rapidamente abre, revelando o meu namorado mais bonito que o costume e que eu imaginara ser impossível. Rio-me ao vê-lo tropeçar e quase deixar cair a quantidade de coisas que tem nas mãos. "Porque carga de água vens com tanta coisa?" Pergunto e ele pousa os quatro sacos e o rádio no chão, endireitando-se e esfregando o fundo das costas.

"Meu Deus, vou ficar com hérnias por tua causa." Caminha até mim e eu rio-me, erguendo a sobrancelha.

"Por minha causa?" Quero saber e ele coloca uma mão de cada lado das minhas pernas, inclinando-se para mim.

"Oh sim, donzela." Responde e junta os seus lábios aos meus num beijo demorado. Levo as minhas mãos ao seu rosto e acaricio a sua pele branca. Quando nos separamos e Niall se endireita, esboço um sorriso, sendo retribuída.

E é aí que eu reparo

"Oh meu Deus!" Guincho, tapando a boca com as mãos.

"O que foi?" Pergunta, fazendo-se, obviamente, de desentendido.

"Tiraste o aparelho!" Grito a sorrir e ele sorri, rindo-se.

"Pareces mais feliz que eu." Brinca e eu bato palmas como uma criança.

"Estás lindo." Elogio e ele enche o peito de ar, sorrindo.

"Estou, não estou?" Pergunta num tom convencido. "Quer dizer, eu sou lindo desde sempre." Acrescenta e eu rio-me, rolando os olhos.

"Sim, e modesto também." Digo e ele ri-se, fazendo-me juntar a ele e deliciar-me com a sua gargalhada.

"Sabes, isto é do convívio." Diz e eu paro de rir de imediato, semicerrando os olhos para ele.

"O que é que isso quer, supostamente, dizer?" Pergunto e ele faz uma expressão descontraída e brincalhona.

"Porquê? A carapuça serviu-te?" Provoca e eu deixo o meu queixo cair, libertando um som indignado.

"Que lata!" Exclamo e ele ri-se alto. "Sabes qual é a tua sorte?" Pergunto e ele para de rir, olhando para mim com uma expressão questionadora.

"Qual é?" Pergunta e eu cruzo os braços, encolhendo os ombros e adotando uma postura superior.

"É eu ser extremamente benevolente, adorável, bastante profissional a aturar-te e tu teres essa gargalhada contagiante e perfeita." Respondo e ele sorri.

"E eu a achar que ias dizer que era tu gostares muito de mim." Diz num tom desiludido sem tirar o sorriso da cara.

"Mas eu não gosto, não iria mentir, não é?" Pergunto e é a sua vez de deixar cair o queixo.

"O quê?" Guincha e eu rio-me.

"Oh sim, rapaz que estragou as maçãs." Confirmo e ele abre mais a boca.

"Sinto-me ofendido e enganado." Aponta e eu encolho os ombros, tentando esconder o sorriso.

Tentativa falhada com sucesso

Desvio o olhar para a catrefada de coisas que ele trouxe.

"Para quê isso tudo?" Pergunto ao mesmo tempo que aponto para os sacos. Niall olha para trás, voltando a olhar para mim.

"Se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé." Diz e eu ergo a sobrancelha.

"Se eu sou o Maomé, peço desculpa por estar numa cama de hospital." Ironizo e ele ri-se.

"Estás desculpada." Brinca e eu rio-me, balançando a cabeça.

"Mas estavas a dizer..." Incentivo-o a continuar.

"Se Maomé não vai à mon-" Começa.

"Está bem, já percebi." Resmungo, interrompendo-o.

"Decidi fazer um piquenique." Diz-me e eu ergo a sobrancelha, mais confusa que sei lá o quê.

"No meio do hospital?" Pergunto.

"Na verdade, é no meio do quarto de hospital." Corrige e eu quase que lhe atiro com uma almofada, mas lembro-me que esta me dá muito jeito.

"Desculpa lá." Peço e ele ri-se.

"Só quero distrair-te um pouco deste ambiente hospitalar e mal cheiroso." Explica e eu sorrio.

No entanto, ele está a tirar medicina.

"Já te disse que te amo?" Pergunto e ele sorri, aproximando-se de mim e colocando as suas mãos uma de cada lado das minhas pernas, como fez há bocado.

"Hoje não." Responde e roça o seu nariz no meu.

"Eu amo-te." Beijo a ponta do seu nariz e ele sorri mais abertamente, dando-me um beijo rápido nos lábios.

"Eu também te amo." Diz e eu sorrio, vendo-o afastar-se para se aproximar dos sacos. "Ora bem..." Começa e abre um dos sacos, tirando do seu interior um bloco de cartão todo dobrado.

Quando olho para o cartão de cima vejo que está recortado e verde. Niall desdobra-o e eu percebo que o cartão finge ser uma árvore, o que me faz erguer as sobrancelhas.

"O que é isso?" Pergunto a rir e Niall encosta o cartão à parede.

"Isto é uma árvore, como é óbvio." Responde.

"Para que é que a trouxeste?" Pergunto.

"Então, para estarmos mais em contacto com a natureza." Explica como se fosse algo normal e bastante óbvio de se fazer.

"Também trouxeste coelhos e esquilos?" Pergunto e ele faz um ar pensativo.

"Podia ter pensado nisso, mas trouxe algo melhor." Responde e eu cruzo os braços.

Quando vou para perguntar o que trouxe, vejo-o tirar do mesmo saco um mocho em peluche.

"Eu cá gosto mais de esquilos e coelhos." Provoco.

"O mocho é o símbolo da sabedoria, foi por isso que o trouxe." Defende e eu sorrio, parando logo de o fazer.

"Espero que isso signifique que eu sou sábia." Digo e ele sorri.

"Claro." Confirma e eu noto a léguas a sua intenção.

"Seu abutre." Insulto e ele ri-se, atirando-me o peluche para cima.

Continuo a observá-lo enquanto passa para outro saco. De lá, tira uma toalha vermelha com quadrados brancos, típica dos piqueniques, e coloca-a em cima do pequeno móvel onde tenho o telemóvel. Ou pelo menos tinha, visto que já foi tirado de lá. Estou bastante curiosa para ver a comida que ele trouxe. Vai ser interessante.

"Quero ver a comida que trouxeste." Digo e ele olha-me.

"Coisas boas, como é óbvio, mas só eu é que vou comer." Diz e eu faço uma expressão indignada.

"Porquê?" Pergunto.

"Porque quando perguntei ao teu médico se podias comer comida da boa, ele quase me fuzilou. Eu já tinha noção disso, mas não custa tentar, não é?" Suspiro triste. "Mas vais comer no espírito da natureza, vai saber que nem ginjas." Acrescenta e eu rio-me.

É tão bom quando ele tenta, e consegue, fazer-me sentir melhor com as circunstâncias.

Olá!! Espero que tenham gostado!

Beijinhos

Xx

Spirits |N.H|Onde histórias criam vida. Descubra agora