Capítulo 19

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Encolhi os ombros para a má disposição da minha irmã e continuei o meu caminho para o jardim. Pousei as coisas na mesa e sentei-me. Abri o bloco e encontrei uma folha A4 com o desenho que tinha feito ontem e que tinha desaparecido. Era capaz de jurar que não tinha arrancado a folha do bloco, e muito menos de tê-la posto aqui dentro.

Porém, algo chama a minha atenção. O desenho estava acabado, com uma cor bastante escura. Mas isso não era o pior. Uma mulher aparecia no desenho, ao lado da árvore e com um vestido branco, parecia uma camisa de noite. Semicerrei os olhos e aproximei a folha dos mesmos, assustando-me e rapidamente largando o desenho quando reparo que a mulher tinha um rosto horrível, arrepiante.

Senti a minha respiração acelerar. Fechei os olhos e quando os voltei a abrir, a mulher já não estava no desenho, o que me fez piscar os olhos várias vezes. Não percebia o que se tinha acabado de passar. Uma brisa afastou os cabelos do meu rosto e em meros segundos, essa brisa passou para um vento tão forte que todo o meu material voou.

Levantei-me e corri atrás das folhas que se tinham separado do bloco e voavam em direção à árvore sinistra. O vento estava tão impossível que me desequilibrava. Vi as folhas serem sugadas pela árvore e rapidamente parei de correr. Estava a delirar, só podia. Primeiro a mulher no desenho, agora a árvore a sugar as folhas.

Não fazia a menor ideia do que estava a acontecer e sentia-me completamente maluca. O vento parou e eu engoli em seco ainda a olhar para a raiz da árvore.

"Caroline." Um sussurro soou nos meus ouvidos e eu olhei em volta, não vendo ninguém. "Carol." O sussurro foi prolongado e eu voltei a olhar em volta, até parar o meu olhar na raiz da árvore, de onde veio uma gargalhada. "Belos desenhos." A mesma voz elogiou em sussurros e vi as minhas folhas saírem da raiz da árvore, o que me fez gritar e afastá-las de mim. Comecei a correr para casa, em pânico. Choquei com um corpo alto e gritei novamente de susto.

"Calma, calma, sou eu!" A voz de Harry exclamou por cima dos meus gritos e eu parei de gritar ao ver os seus olhos verdes tranquilizantes.

"Oh meu Deus." Solucei e Harry abraçou-me, apertando o meu corpo contra o seu.

"Calma, está tudo bem." Tentou acalmar-me enquanto acariciava as minhas costas e cabelos.

"O que é que aconteceu para gritares daquela maneira?" A voz de Gemma soou e eu olhei para trás, encontrando o olhar da minha irmã mais velha em mim.

"Eu..." Comecei e desviei os meus olhos para a árvore lá fora.

A voz a sussurrar o meu nome veio à memória e rapidamente fechei os olhos, enterrando o rosto no peito de Harry.

"Ela chamou-me." Disse.

"Quem?" Gemma perguntou e eu olhei-a.

"A árvore." Respondi e reparei que a minha mãe estava ao lado de Gemma.

"Querida, isso não é-" A minha mãe começa.

"A sério, mãe, aquela árvore chamou-me." Defendo, interrompendo-a e vendo-as entreolharem-se.

"Deus, estás bem?" Emmaline perguntou, acariciando as minhas costas.

"Devias ir descansar, Caroline." O meu pai aconselhou e só aí é que dei pela sua presença.

"O teu pai tem razão." A voz da minha mãe apoiou e eu suspirei. "Eu depois levo-te um tabuleiro com o jantar." Acrescentou.

"Obrigada, mãe." Agradeço.

"Anda, eu vou contigo." O meu irmão disse e caminhamos os dois pelas escadas acima até ao meu quarto.

"Tu viste." Digo e Harry ajuda-me a sentar na cama. Eu estava a tremer.

"Vi o quê?" Perguntou e eu olhei nos seus olhos.

"A mãe e a Gemma acham que estou maluca." Respondo e Harry nada diz, apenas fica sentado a meu lado. "E pelos vistos, tu também." Concluo.

"Não é isso, Caroline." Ele desculpa-se.

"Claro que é, quem é que iria acreditar numa pessoa que dissesse que uma árvore a chamou?" Pergunto.

"Se calhar foi impressão tua, só isso." Harry diz.

"Eu sei o que ouvi, Harry!" Defendo chateada.

"Está bem, está bem!" Ele desiste.

"Tu não acreditas em mim." Digo e ele suspira.

"Tenta descansar um pouco." Ele diz e deixa um beijo na minha testa, saindo do meu quarto. Deixo-me cair e encaro o teto.

Eu sei o que vi e ouvi

Não sei porque raio aquilo aconteceu mas sei que aconteceu, eu senti-o.

***

Estiquei-me ao longo da cama e abri os olhos, encarando a escuridão do meu quarto. Ergui o meu tronco e olhei lá para fora, estava vento novamente. A árvore destacava-se de todas as outras, quer fossem mais altas ou mais baixas. Peguei no meu telemóvel e este marcava as quatro e vinte da amanhã. Este tinha uma notificação. Do facebook, parece que o Niall tinha publicado algo na minha cronologia. Abri e ri-me ao ver um vídeo de chocolate branco derretido numa pequena taça e uma tira do bom chocolate de leite Milka ser mergulhado na mesma. Decidi levantar-me e sair do quarto, caminhando para a casa de banho. Olhei-me ao espelho e passei o meu rosto por água. Fiz as minhas necessidades e voltei a sair. A minha tranquilidade extinguiu-se quando ouvi uma gargalhada soar, gargalhada essa que eu conhecia bem. Virei-me para trás num ápice, olhando para todos os lados. Outra gargalhada soou, desta vez atrás de mim, o que me fez virar. Não encontrava nada de suspeito.

Até a terceira gargalhada soar, está vinha lá de baixo e isso assustou-me. Não queria ir lá a baixo sozinha mas ao mesmo tempo queria. E então, soou a quarta gargalhada e ouvi algo cair mesmo atrás de mim, o que me fez dar um pequeno grito e quase virar num salto. Tinha sido uma jarra de flores que o meu pai tinha preparado para a minha mãe. Estava no chão, partida e a água que lá estava entranhava-se na madeira do chão. Não estava a gostar disto.

"O que é que foi isto?" A voz da minha mãe soou e vi esta sair do quarto juntamente com o meu pai. A porta do quarto das minhas irmãs abriu e estas saíram do mesmo.

"O que é que se partiu?" Emmaline perguntou e eu olhei para a jarra que era mais cacos do que outra coisa.

"A jarra de flores que o pai arranjou para a mãe." Gemma respondeu e todos os olhares pousaram em mim.

"O quê, não fui eu!" Defendo rapidamente. "Eu fui à casa de banho e ouvi gargalhadas, uma delas veio lá de baixo!" Explico e vejo Gemma trocar olhares com Emmaline.

"É o melhor que consegues para te esquivares do raspanete da mãe?" A ruiva pergunta e eu ergo a sobrancelha para ela. "Deixa-me dizer que és terrível." Aponta e eu rolo os olhos.

"Não fui eu!" Defendo e olho para os meus pais. "Mãe!" Exclamo.

"Está bem, vão dormir que eu vou limpar isto." Diz e caminha com cuidado para as escadas, descendo-as. Olhei para o meu pai.

"Ouviram a vossa mãe. Cuidado com os pés." Avisou e eu bufei, entrando no meu quarto.

Porque é que eles não acreditam em mim? Estarei a soar assim tão louca?

Olá!!!! Espero que tenham gostado deste capítulo meio assustador :b

Beijinhos

Xx

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