| Capítulo 3 | Porque sou apenas uma rachadura nesse palácio de vidro

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Da mesma forma que a tempestade havia se instalado, não consegui evitar sua renovação

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Da mesma forma que a tempestade havia se instalado, não consegui evitar sua renovação. E, como se não bastasse viver sob um céu escuro e com trovoadas, eu ainda era cercada por barreiras que só meus olhos podiam enxergar. Era isso que a timidez me oferecia: paredes sombrias e sufocantes.

Eu estendi a mão e acabei recebendo seu presente.

Desde então, aquela presença transformava meus dias em um episódio contínuo de rejeição. Não por mim mesma, mas por cada figurante que fazia parte da cena. Como resultado, foi impossível me enturmar. O medo de reviver lembranças passadas fazia da timidez meu mecanismo de defesa.

A única vez em que ela perdia força era quando eu estava em um lugar silencioso e seguro. Meu quarto era um desses refúgios.

Naquele momento, a única voz que ecoava era a da minha memorização. Concentrada no livro didático de Ciências, lia freneticamente cada frase e preenchia as linhas vazias com palavras escritas à mão.

— Filha, não vá se perder na hora — alertou meu pai em voz baixa. Quando levantei a cabeça, percebi que ele estava na fresta da porta.

— Eu sei. Estou quase terminando — respondi, voltando a atenção ao livro aberto no meu colo.

— Nem precisava dizer. Você já tem doze anos, tem que ser responsável com sua organização.

— Foi só dessa vez, pai. Não vai se repetir... E você também não se atrase para o trabalho — acrescentei.

Logo que ele saiu, finalizei o texto e suspirei aliviada. Em seguida, reuni meus materiais e os guardei na mochila. Quando fui ao encontro do meu pai do lado de fora, o som suave da porta se trancando marcou o início de mais uma rotina.

O pouso suave daquelas folhas de papel pautado, junto a uma caligrafia caprichada, despertou sua atenção diante da minha figura, já nos primeiros minutos de aula

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O pouso suave daquelas folhas de papel pautado, junto a uma caligrafia caprichada, despertou sua atenção diante da minha figura, já nos primeiros minutos de aula. Encarei aquele semblante sereno e agradeci mentalmente por sua compreensão em relação ao que ainda me atormentava.

— Obrigada, Alana. Semana que vem já dou sua nota — disse a professora de Ciências, sorrindo.

— Eu é que agradeço pela chance... e mais uma vez, peço desculpas por não estar em condições — respondi timidamente.

Uma (Boa) Amizade para Quem Precisa BrilharOnde histórias criam vida. Descubra agora