| Capítulo 4 | Sobre certo tipo de luz que nunca brilhou em mim

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Assim como materiais resistentes, mas desgastados, eu também me encaixava nessa categoria

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Assim como materiais resistentes, mas desgastados, eu também me encaixava nessa categoria. Por mais que houvesse marcas de destruição, eu ainda permanecia de pé. E foi com esse resto de força que avancei para o ano de 2012.

A esperança era meu sustento, pois acreditava que dias melhores viriam. Aquela porta aberta passou a significar muito. Quando entrei na nova sala, observei cada rosto desconhecido. Aquele cenário me trouxe a sensação de que, com o tempo, alguns deles poderiam se transformar em ventanias.

E que finalmente soprariam ao meu favor.

Parei em frente à lousa e analisei as mesas vazias, tentando fazer uma escolha certeira. Mais uma vez, optei pelas primeiras fileiras — por apreciar as aulas e ter menos chances de distração. Caminhei rapidamente até a carteira antes que alguém a ocupasse. Coloquei minha mochila sobre o móvel vandalizado e abri o zíper para pegar minha garrafa. Notei que duas carteiras adiante já estavam "reservadas" por cadernos femininos.

Com a garrafa na mão, segui pelo longo corredor que levava ao pátio, próximo aos banheiros e bebedouros. Enquanto enchia a garrafa, observei o movimento dos alunos, muitos ainda confusos com a organização das turmas, indo atrás de inspetoras para esclarecer dúvidas.

Cheguei cedo e fui informada sobre a mudança de nomenclatura de "série" para "ano". Assim, o que seria a "sétima série" passou a ser "oitavo ano", uma diferença que foi aplicada em todas as instituições, do ensino primário ao fundamental.

Depois de tampar a garrafa, refiz o caminho de volta. O pensamento de minutos atrás voltou à tona. Não pude conter a euforia que crescia à medida que me aproximava da sala. Mas, assim que entrei, aquela empolgação se dissipou instantaneamente, substituída por uma sensação negativa que eu não esperava.

Tudo se apagou.

Minha vontade era pegar minhas coisas e correr para outra carteira, mas a sala já estava completa. Olhei ao redor, incrédula, e me perguntei por que, entre tantas carteiras, escolhi justamente aquela onde Carolina e Roberta estavam.

Não podia ser.

Recuperando-me do choque, retomei meus passos lentamente até o meu lugar. A nova imagem que tinha delas era de garotas que começavam a se destacar: corpos esbeltos, maquiagem mais frequente, bijuterias chamativas e cabelos longos e alisados.

Elas notaram minha presença, mas nenhuma palavra foi dita. Era como se, naquele espaço, apenas as duas importassem. Sentei-me de forma retraída, tentando afastar qualquer pensamento negativo. Olhei ao redor, observando o restante da turma. Aquilo me trouxe um pouco de esperança. Afinal, em uma sala com trinta alunos, eram apenas duas a menos.

Era essa a lógica que eu devia seguir, mas mudar de direção só dependia da minha própria vontade.

Era essa a lógica que eu devia seguir, mas mudar de direção só dependia da minha própria vontade

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Uma (Boa) Amizade para Quem Precisa BrilharOnde histórias criam vida. Descubra agora