Ele

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*Andrês

Naquele dia, após ter deixado minha mãe na companhia de uma amiga no hospital, fui para casa a fim de descansar.
Na noite fria, a residência parecia ainda mais vazia. Qualquer barulho na casa, parecia amplificado na solidão em que me encontrava deitado em minha cama. Pensava em Aurór e em Ariana.
Em minhas mãos eu tinha uma foto de nós dois. Em Aurór ela se alternava entre três poses distintas, mas como na Terra a magia era mais fraca, só uma permanescia. Nela eu tinha os braços sobre o ombro dela, enquanto ela me olhava sorrindo.
Ainda me lembro do dia que Rose tirara aquela foto com uma câmera mágica e dera uma foto para cada um de nós dois. Ariana deixava a dela em sua penteadeira ao lado de uma foto de seu pai e uma da sua mãe.
Antes de vir a Terra, coloquei a minha em minha bagagem, já que era a única lembrança que eu tinha dela.
É claro que tinha também as nossas memórias juntos.
Eu ainda me lembrava nitidamente de cada detalhe que a envolvia.
A primeira vez que nossos olhos se encontraram aos onze anos, nosso beijo inocente e a dor que ela me causara.
O choque ao reencontra-la. A mistura de sentimentos. A morte de seu pai, sua tristeza e a percepção que ela me atraia. A ida as Terras Desoladas, nossas brigas, as lutas, o despertar de seu outro poder. Minha quase morte, a Floresta Nebulosa, sua luta e cuidado. A chegada a pousada, o primeiro beijo de verdade, o começo de nós dois. O encontro, a luta com Afrodite, os desentendimentos. A primeira vez que ela disse:
"Eu te amo". A chegada ao castelo, eu me tornando seu guardião, ela se tornando rainha. Nossos encontros, nossos olhares, nossos beijos, cada toque estava gravado profundamente em minha memória.
Meu coração sofria e ansiava pela presença dela. Da minha amada.
Tracei a linha de seu rosto na foto.
- O que será que você está fazendo agora? Está pensando em mim como estou pensando em você?
Esperava poder estar em breve com ela.
Minha mãe estava melhorando. Agora só me restava saber se o conselho havia autorizado minha volta.
Linus ficara de me avisar sobre a situação, mas já fazia um tempo que eu não o via, nem conseguia entrar em contato com o mesmo.
Deixando o retrato sobre o criado mudo, puxei as cobertas e fechei os olhos.
Quando o sono me acolheu, trouxe em sua aba um sonho. Nele eu podia ver Ariana poucos passos a minha frente, mas por mais que eu corresse, não a podia alcançar. Era angustiante. Um sentimento de abondono se espalhava pelo meu ser. Eu gritava o seu nome, mas minha voz não chegava a seu ouvido.
De repente ela se virou.
- Quem é você? Perguntou e tudo explodiu em uma chuva de neve que gelou meu ossos me fazendo despertar com o coração disparado. Ainda podia sentir o frio em minha pele e a dor que senti no peito.
O que podia significar esse sonho? Porquê me perturbara tanto, e qual a razão de parecer tão real e nítido?
Olhei para o meu braço e a marca do guardião pareceu ficar mais nítida por um segundo.
Será que Ariana estava em perigo?

Nos dias que se seguiram, foi angustiante não ter notícias de Aurór. Toda hora meus pensamentos se voltavam a aquele sonho estranho. A cada minuto eu olhava meu pulso buscando o aparecimento da marca do guardião, mas isso não aconteceu. Minha mãe até se preocupara diante do meu comportamento mais calado e pensativo.
Alguns dias depois, quando eu observava minha mãe que descansava, Linus bateu a porta. Dei um pulo da cadeira onde estava e fui a seu encontro.
- Linus! Finalmente você apareceu. Falei em cumprimento.
- Estava com tanta saudade assim de mim? Brincou ele.
- Não é nada disso! Neguei.
- Tudo bem. Como está sua mãe? Indagou.
- Está bem melhor.
- Que bom. Fico aliviado.
- Obrigado. Agradeci.
- Linus tenho algo que quero saber. Disse eu.
- O quê? O quê quer saber? Questionou.
- O que o conselho decidiu sobre mim? Teve alguma informação? Perguntei.
Linus franziu a sombrancelha.
- Não sei se posso te dar essa informação. Disse ele.
- Por quê? Por quê não pode me contar se eu fui ou não autorizado a voltar a Aurór? A notícia é tão ruim assim? Eu não poderei mais voltar? Questionei preocupado.
- Não é bem assim. Desviou ele.
- Então como é? Indaguei levantando a voz.
- Shiuu. Pediu ele olhando para minha mãe que dormia.
- Vamos tomar um café enquanto conversamos. Convidou.
Concordei e o segui ansioso.
Linus pediu café com leite para nós dois.
- Então Linus, me conta. Minha volta foi ou não autorizada? Questionei temendo a resposta.
Linus tomou seu café calmamente me gerando muita impaciência. Depois colocou os cotovelos sobre a mesa e entrelaçou os dedos das mãos.
- Praticamente aceitaram a sua volta. Disse.
- Como assim praticamente? Fui autorizado a voltar ou não? Questionei.
Linus desentrelaçou as mãos e se ajeitou na cadeira.
- Eles aceitaram sua volta com uma certa exigência para a rainha. Contou pausadamente.
- Que exigência? Quis saber.
- Seu pai não me autorizou a te contar.
Passei a mão sobre o rosto tentando manter a calma.
- Você não pode fazer isso comigo. Por favor Linus, não me deixe no escuro. Eu sou o guardião de Ariana e se algo foi exigido dela por minha causa, eu tenho o direito, não, eu preciso saber. Pedi.
Linus esfregou a testa.
- Tudo bem. Lorde Dracon que me perdoe, mas eu também acho que você tem o direito de saber.
- Obrigado senhor Linus. Agora me conte tudo, por favor. Pedi.
- Bom... Você já ouviu falar da Promessa de Gerações? Perguntou.
- Sim. A mãe de Ariana se referiu a ela em sua carta testamento, mas eu não sei do que se trata. Contei.
- Você sabe como terminou a grande guerra?
- Sim. O senhor da Luz se casou com filha do rei das sombras da época. Lembrei.
- Sim e nesse tempo também foi decidido um acordo entre os dois povos. A cada duas gerações, um membro da família real de cada povo deve-se unir em matrimônio para unir os povos e evitar futuras guerras. Contou.

O Filho Do Rei Das Sombras - Contos Dos Medium Fairy. Em PausaOnde histórias criam vida. Descubra agora