Terra

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* Andrês

Entrar no portal observando o rosto triste de Ariana, foi umas das coisas mais difíceis que eu já fiz. Minha vontade era voltar para os seus braços, a única coisa que me impulsionava para frente, era o amor por minha mãe. Não podia abandona-la em um momento como esse.
Ariana iria ficar bem. Havia muitas pessoas com ela.

Ao passar pelo brilho bruxoleante do portal, sai na mesma floresta pela qual eu e Ariana nos despedimos da Terra.
Naquela ocasião, vi uma sombra, mas não dei importância. O que nos levou a vários problemas e uma ida temporária as terras desoladas.
Ajeitei minha velha mochila no ombro e dei um passo para a frente pisando no solo de terra vermelha. Caminhei pela trilha já conhecida. Dessa vez, não foi tão fácil, já que não tinha um terra comigo para abrir passagem. Minutos depois me deparei com a clareira onde outrora montamos acampamento e com o tronco em que nos acomodamos. Parei por um instante e sorri ao lembrar do entusiasmo de Ariana ao conhecer as pixes.
Voltando de minhas lembranças alegres, continuei o caminho que tinha pela frente.
Entre pequenos descansos e muita caminhada, cheguei finalmente ao limite da floresta.
Lá uma pessoa me esperava de braços cruzados.
- Linus! Gritei levantando a mão ao reconhecer meu tutor.
Linus acenou de volta com um sorriso discreto.
Apressei o passo para chegar onde ele estava.
- O senhor veio me buscar? Questionei ainda surpreso.
Pensei que Linus estaria ocupado com sua missão.
- Claro. Não podia te deixar sozinho em uma hora dessas. Disse ele me abraçando sem jeito.
- E quanto a sua missão? Questionei.
- Ainda há tempo.
- Obrigado Linus. Fico grato. Agradeci contente por uma presença amiga.
- Vamos então. Disse ele mostrando um automóvel prata.
- O que é isso? Questionei surpreso.
- Um carro. Esteve tanto tempo em Aurór, que não se lembra das modernidades da Terra? Brincou.
- Ha ha ha. Muito engraçado. O que me surpreendeu, é o senhor estar com um carro. Expliquei
- Nunca o vi dirigindo um antes. Completei.
- Bom antes eu não precisei, mas é normal eu dirigir, já que metade de mim é humana. Consegui ele emprestado de um amigo. Contou abrindo a porta do lado do motorista.
Dei a volta e entrei pelo lado do passageiro. Linus já colocava o cinto. Fiz o mesmo.
- Espero que seja um bom motorista. Brinquei.
- Bom. Digamos que dá pro gasto. Garantiu girando a chave e ligando o motor.
Enquanto o carro começava a se movimentar, eu observava a paisagem que passava ligeira pelo para-brisa.
- Que foi? Tá tão calado. Observou Linus, olhando de esguelha para mim.
- Ah. Estava pensando. Respondi distraído.
- Em quê, posso saber?
- Bem, em como é estranho voltar aqui depois de passar um tempo em Aurór. Fico até imaginando se tudo aquilo foi um sonho. Maluquisse né?
- Não acho. Me senti exatamente assim quando voltei a Terra em minha primeira missão. Mas sabe como tive certeza da existência de Aurór? Questionou sem desviar os olhos da estrada.
- Como? Indaguei.
Linus estendeu a mão fechada e ao abri-la, um trevo de quatro folhas flutuou dela vindo parar na minha mão.
- Magia. Embora a magia de Aurór seja mais fraca aqui, ainda é existente. Contou.
- Verdade. Confirmei enquanto fazia o trevo dançar diante dos meus olhos com meu poder do vento.
Depois o guardei no meu bolso. Todo a sorte que eu conseguisse, nunca seria demais.
- Linus? Chamei.
- Sim. Respondeu desviando os olhos para mim.
- Estamos indo para o hospital?
- Para sua casa primeiro.
- Por quê? Eu quero ver minha mãe o quanto antes. Indiguinei-me.
- Bom você está com essa roupa espalhafatosa de guardião. Se entrar assim no hospital, vai chamar a atenção.
Olhei para mim mesmo. As roupas pretas com botões chamativos, ombreiras douradas e capa luxuosa.
- Acho que você têm razão. Cedi.
- Vai ser rápido. Logo você vai poder ver a Mary. Tranquilizou-me.
- Sabe Linus, já algum tempo queria te perguntar uma coisa, mas com tudo que aconteceu acabei esquecendo. Comentei.
- Pois pergunte agora. Insentivou.
- Me lembro de ter te visto algumas vezes antes de se tornar meu tutor. Inclusive, quando nos mudamos de cidade. Primeiro pensei que fosse por pedido de meu pai. Mas não haveria motivos para isso. Eu não estava em perigo e o conselho não aprovaria. O senhor não parece tão chegado ao meu pai, embora haja respeito entre os dois. Por outro lado, é bem intimo de minha mãe. Então... Vocês se conheciam antes? Questionei curioso.
Linus ficou calado por muito tempo antes de responder.
- De fato conheço sua mãe a um longo tempo. Éramos vizinhos e amigos de infância. Chegamos até a estudar juntos. Contou com um sorriso nostálgico.
- Você gosta dela? Perguntei cauteloso.
- Gosto, mas não do jeito que você está pensando. É verdade que tivemos um namorico quando adolescentes, mas vimos que não era isso que queríamos. Desde então, somos amigos. Foi através dela que conheci o senhor Dracon e foi ela que me quis como seu tutor. Contou.
- Então por que não me disseram que eram amigos? Perguntei perplexo.
- Dracon e eu queríamos que você me visse principalmente como seu tutor. Por isso, não achei conveniente contar. Mas agora não sou mais seu tutor oficial e posso contar-lhe.
- É verdade. Então você não está em Aurór a tanto tempo.
- Uns vinte e poucos anos. Contou fazendo uma curva.
- Como conseguiu ser tutor de elite tão rápido? Ouvi que demora anos e anos.
- Tive mais missões e treinamentos que qualquer um. Seu pai queria ter certeza que seu filho tivesse um bom tutor. Afinal, ele esperava grandes coisas de você.
- Acha que consegui atender um pouco das expectativas dele? Questionei inseguro.
- Com certeza. Você é o guardião da rainha de Aurór!
- Sim. Respondi me lembrando de Ana - Espero poder voltar para Aurór. Desejei em voz alta.
- Com certeza voltará. Garantiu parando o carro - Chegamos. Avisou.
Soltei o cinto e abri a porta. Devagar sai do carro. A primeira coisa que chamava atenção, eram as roseiras de minha mãe.
- Está com a chave? Perguntou Linus abaixando o vidro do carro.
Olhei dentro de minha mochila surrada e tirei de lá meu chaveiro de guitarra com minhas chaves, que eu colocara a um tempo atrás.
- Tenho. Respondi balançando as chaves.
- Ok. Eu espero você aqui. Disse Linus.
- Eu volto já. Falei.
Em seguida me dirigi a porta.
Quando entrei, vi que tudo estava exatamente do jeito que eu deixei. Até o perfume de minha mãe parecia estar impregnado no ar.
Era estranho estar em casa sem ela. A casa parecia muito maior do que eu lembrava.
Passei o dedo pelo sofá me lembrando de tudo o que vivi ali.

O Filho Do Rei Das Sombras - Contos Dos Medium Fairy. Em PausaOnde histórias criam vida. Descubra agora