Espiões

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* Lyoneel

Já faziam duas semanas que ela chegara até aqui.
Apesar de todos os problemas, Nix começava a se adaptar a sua nova vida.
Áloe a ajudava, e ela fizera amizade com várias das garotas do castelo.
Ela era uma pessoa tão forte e determinada. Seu jeito era tão diferente das garotas daqui.

Sai a porta e observava enquanto ela regava as flores do jardim, junto com outra garota.
Farry se aproximou de mim.
- Meu príncipe, acha prudente deixar a garota sair do castelo? Questionou em voz baixa.
- Você também Farry? Andy já me encheu com a mesma história. Respondi impaciente.
- É questão de segurança. E se ela esca...
- Se ela escapar? E como ela faria isso? Os portões são bem guardados. Não acredito que uma garota possa passar por vários guardas treinados. Todos sabem que a minha mais nova criada não deve deixar os terrenos do castelo.
- Isso é verdade, mas também soube que vossa alteza anda a ensinar alguns encantos. Observou.
- Encantos simples, não encantos de combate. Rebati.
- De qualquer jeito, deves tomar cuidado, meu príncipe. Confias muito facilmente nas pessoas. Advertiu.
- Você é que é muito desconfiado Farry. Retruquei voltando meu olhar para ela.
- Pretende fazer dela sua amante? Questionou Farry.
O olhei surpreso.
- O que está dizendo Farry? Isso é impossível. Ela jamais aceitaria tal coisa. Desviei.
- Ela não aceitaria, mas vossa alteza queria?
- Não vou negar que ela é muito bela e diferente de qualquer outra, mas eu não me aproveitaria dela. Garanti.
- Vossa majestade está deslumbrado. Posso ver em seu olhar.
- Você ainda insiste. Você sabe muito bem que para nós é impossível amar.
- Espero que não esqueça disso alteza, se não vai sofrer. Disse ele com seriedade.
Aquilo doeu em algum ponto do meu peito.
- É só para isso que veio aqui? Indaguei incomodado.
- Não. Seu pai está aborrecido. Meu pai me disse que seu mau humor anda no auge. Contou.
- O que é dessa vez? Indaguei despreocupado.
- Você não acha que sua noiva está demorando muito a chegar? O último contato informou que eles estavam a caminho.
- Agora que você falou... Faz quanto tempo desde a última mensagem?
- Cerca de duas semanas. Lembrou.
- E isso é tempo suficiente para chegar de lá até aqui? Perguntei sabedor de que não conhecia nada além das terras geladas de Aurór Norte.
- É tempo mais que suficiente, usando a carruagem voadora, que era o transporte que eles utilizariam. Informou.
- Humm. O que meu pai está achando disso?
- Vossa majestade acha que eles o enganaram. Que nunca pretenderam vir até aqui de verdade.
- E o que ele fará? Questionei preocupado.
- Bom, antes de qualquer coisa, ele receberá uma mensagem fluído e aí decidirá.
- Quando essa mensagem virá?
- Hoje à tarde. Por isso vim lhe falar. Ele quer que esteja presente, vossa alteza. E não resta muito tempo, devemos ir até lá.
- Tudo bem. Cedi olhando para onde elas trabalhavam - Vamos.

Caminhei com Farry até a sala do trono. Meu pai lá já se encontrava.
- Tragam logo a vasilha! Esbravejou meu pai a um dos servos.
O pai de Farry, Sir Fargo, também estava ali.
- Pai, cheguei a tempo? Perguntei me aproximando.
- Até que em fim chegou! Pensei que nem ia aparecer. Reclamou.
Farry se inclinou.
- Foi minha culpa. Demorei a informá-lo. Disse Farry.
Toquei em seu ombro para que levantasse o rosto.
- Desculpe pelo atraso. Estava ocupado com algumas coisas e acabei excedendo o tempo. Falei.
- Chega de falar! Ordenou o rei.
O servo chegou trazendo a bandeja de prata, depositando em uma mesa. Meu pai se levantou para olhar dentro da vasilha. Me aproximei para ver também.
Na água translúcida, uma imagem começou a se formar.
Um homem de rosto severo e longos cabelos negros apareceu.
- Que Fyri esteja convosco vossa majestade. Cumprimentou o homem a meu pai, que respondeu apenas com um aceno de cabeça.
- Meu nome é Dracon Blackwood e sou o conselheiro chefe e tutor de vossa majestade, a rainha da Luz. Apresentou-se ele.
- Pensei que a própria rainha fosse falar comigo. Irritou-se meu pai.
- Infelizmente a rainha está indisposta e por isso tomei o lugar dela nessa conversa. Informou Dracon.
- De qualquer maneira, exijo uma explicação. Faz mais de duas semanas que espero a visita de sua rainha, e isso até agora não aconteceu. Reclamou meu pai.
- Sei que estamos em falta, mas houve um acidente e nossa rainha acabou se machucando...
Meu pai começou a rir alto sem humor.
- Vocês ao menos saíram de seu precioso castelo? Esbravejou meu pai nervoso.
- Vossa majestade, garanto que não estamos no nosso palácio. Agora nos encontramos próximo as Terras Desoladas. Assim que nossa rainha se recuperar, compareceremos a vossa presença. Informou Dracon.
- Por que raios eu acreditaria em sua palavra? Como poderia acreditar de novo em tais mentirosos?
- Sei que tem razão em estar nervoso, mas por favor, não nos insulte. Principalmente a nossa rainha, não questione a honra de nossa governante. Pediu Dracon com seriedade.
O rei bateu na mesa indignado.
- Eu falo com vocês do jeito que eu quiser. Eu sou o todo poderoso rei de Aurór Norte, Marlevaur, e digo e faço o que bem me aprouver. Se me irritar, eu posso esmaga-los como a um inseto. Rebateu meu pai irado.
- Majestade, isso não será bom para nenhum dos povos. Retrucou Dracon com serenidade.
- Principalmente para o seu. Disse meu pai se inclinando próximo a vasilha, como se tivesse a encarar o próprio Dracon.
Coloquei minha mão sobre o ombro do rei, onde repousava uma ombreira adornada em ouro. Essa prendia junto com sua gêmea, a capa real dotada de um encanto eterno que protegia seu possuidor do frio, ao mesmo tempo que era mais difícil de atravessar que uma armadura.
- Pai, ele tem razão. Mesmo que sejamos mais fortes, numa guerra é impossível sairmos incólumes. Opinei tentando acalma-lo.
- Sacrifícios aceitáveis. Respondeu meu pai sem se abalar.
- És o príncipe? Questionou Dracon me olhando.
- Sim, sou Lyoneel o príncipe desse reino. Me apresentei.
- É um prazer conhecê-lo, vossa alteza. Cumprimentou Dracon.
- É recíproco. Respondi.
- Vossa majestade, se não me ouve, ouça a seu filho. Pediu Dracon.
- Pai por favor, lhes dê mais uma chance. Por nosso povo. Implorei.
- Quem me garante que eles não vão tentar nos enganar? Retrucou meu pai.
- Então lhes estipule um prazo. Opinei.
Meu pai me olhou pensativo.
- Tudo bem. Lhes darei duas semanas. Nem um dia a mais! Mais saibam que se falharem de novo, estarão assinando sua própria sentença e a guerra será a punição. Afirmou meu pai.
Dracon concordou com um gesto de cabeça.
- Aceitamos sua oferta. Obrigado majestade e agradeço ao príncipe também. Respondeu Dracon.
Antes que algo mais pudesse ser dito, o encanto se acabou e a imagem se desvaneceu.
Com um tapa, meu pai jogou a vasilha longe. Uma serva prontamente a pegou, enquanto outra enxugava o chão.
- Lyoneel, se eles nos enganarem, você será o culpado. Murmurou meu pai.
- Sim, eu serei o responsável. Mas se eles não cumprirem sua palavra, serei o primeiro a querer a guerra. Afinal, eles não podem brincar conosco ou com o nosso povo. Respondi sério.
Eu podia ser mais manso e compreensivo que meu pai, mas não iria deixar ninguém zombar de nós.
O rei abriu um sorriso triunfante.
- Agora sim você falou como um verdadeiro futuro rei. Disse ele abraçando meu ombro.
- Se não dominarmos Aurór Sul por um casamento, a tomaremos pela força. Prometeu o rei cheio de confiança.

O Filho Do Rei Das Sombras - Contos Dos Medium Fairy. Em PausaOnde histórias criam vida. Descubra agora