Nevasca

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*Ariana

Assim que a porta se fechou, olhei pela janela observando o grande palácio que eu deixava para trás. Dali eu podia ver mesmo que pouco, a janela do quarto onde minha mãe repousava.
Eu me despedira dela antes de sair, mas mesmo assim me sentia mau por deixá-la novamente. Queria que ela estivesse comigo nessa viagem.
Não sei se pela importância do que eu tinha que fazer, mas eu me sentia inquieta com essa jornada.
Colei meu rosto na janela para enxergar Rose do outro lado.
Ela acenou e mexeu os lábios formando a frase: Boa sorte.
Mexi os dedos em sinal de despedida. A carruagem deu um solavanco começando a se mover. Rose foi ficando menor e menor, enquanto os cavalos corriam se preparando para voar. Com mais um solavanco a carruagem deixou o chão. Ela chacoalhejou um pouco antes de se estabilizar.
- Estamos no ar. Comemorou Tydae olhando pela janela.
- Está ansiosa? Perguntou Greta com um sorriso caloroso para mim.
- Um pouco. Confessei torcendo as mãos em nervosismo.
Tydae colocou sua mão sobre a minha.
- Pense positivo. Vai dar tudo certo.
- Vou tentar. Respondi com um sorriso fraco.
Do lado de Dracon, Greta fez um aceno positivo com a cabeça junto a um sorriso caloroso.
Dracon olhava pensativo pela janela. Me perguntava o que tanto lhe tomava a mente.
- Como é Aurór Norte? Questionei minhas amigas, tirando minha atenção de meu tutor.
Greta e Tydae se entreolharam.
- Bom, como vossa majestade sabe. Nós não nós misturamos. Ninguém de Aurór Sul foi a Aurór Norte. Contou Tydae.
- Nem mesmo sobrevoaram-na? Indaguei descredita.
Greta negou.
- Isso seria considerado espionagem. Aurór Norte é muito rígida quanto a invasão de suas fronteiras. Explicou Greta.
- A visita do embaixador aurórnortista, é o primeiro contato em mil anos. Continuou Greta.
- Entendo. Respondi pensativa.
- Tudo o que sabemos são especulações. Disse Greta.
- E lá é frio mesmo? Questionei olhando o casaco em meu colo.
- Isso eu posso confirmar. Já estive nas Terras Desoladas mais de uma vez, e pude observar de longe a brancura da neve de Aurór Norte, mesmo que de longe. Contou Greta.
- Então lá é inverno mesmo? Quis confirmar.
- Seis meses outono, seis meses inverno. Assim como nós, eles tem apenas duas estações. Explicou Tydae.
- Aí, me pergunto como é o tal rei e o príncipe. Admiti.
- Todos nos perguntamos. Disse Tydae.
Olhei para Dracon e decidi interpela-lo.
- Senhor Dracon. Chamei.
- Sim majestade? Respondeu voltando seu olhar para mim.
- Essa viagem é muito longa?
- Bem, é do outro lado de Aurór. Comentou.
- Quanto tempo mais ou menos? - Alguns dias. Respondeu.
Abri a boca impressionada.
- O senhor acha que temos chance? Que podemos convencer o rei de Aurór Norte? Questionei preocupada.
- Temos bons argumentos. Respondeu.
- Mas eles não teriam mais vantagens que nós em uma guerra?
- Sim, mas também teriam perdas, mesmo que menor que as nossas. Respondeu com seriedade.
- Só espero que seja suficiente. Murmurei.

Entre cochilos e conversas, o tempo passou. Meus sonhos agitados sempre tinham a presença de Andrês. A saudade só aumentava.
Naquela manhã, quando abri os olhos e olhei para fora, me deparei com a brancura da neve.
Olhei para os outros que já estavam acordados.
- Acabamos de adentrar o território de Aurór Norte. Confirmou Dracon.
- Ah! Estou tão ansiosa. Falei colando meu rosto na janela.
Quanto mais adentravamos Aurór Norte, mais frio ficava. Vesti meu casaco, assim como todos, mas minhas mãos estavam geladas. Esfreguei uma na outra tentando esquenta-las.
Greta tirou luvas brancas de sua malinha de mão e me ofereceu.
- Mas e você? Questionei.
- Minhas mãos são sempre quentes. Acho que porque sou fogo. Respondeu estendendo a mão para mim.
Apertei sua mão e pude confirmar o que dissera.
- Sou fogo também, então por que minhas mãos então geladas? Reclamei.
- Talvez por que tem outros elementos. Disse Greta me entregando as luvas que eu aceitei. Tirei o anel que Andrês me dera, que estava gelado em contato com o meu dedo.
- Segura para mim? Pedi a Greta, que tomou o objeto com cuidado em sua mão.
Vesti a luva me sentindo mais reconfortada.
- Devemos fazer o encanto de ocultamento. Disse Dracon.
- Que encanto? Perguntei incerta.
- Falamos sobre isso na reunião. Ocultaremos a pedra de majestade para protegê-la de qualquer dolo. Disse Dracon.
- Ah sim, sim. Eu me lembro agora. Faça isso senhor Dracon. Incentivei.
Dracon aproximou suas mãos do colar em meu pescoço e recitou o encanto.
Depois do feitiço executado, tentei tocar a pedra, mas não a senti.
- Esse encanto oculta tanto visualmente quanto fisicamente. É como se o objeto estivesse em outra dimensão, embora vossa majestade posso usar seu poder. Mais uma coisa, o feitiço só é desfeito por aquele que o fez. Explicou.
- É um feitiço de alto nível. Impressionou-se Greta.
- É o esperado do grande conselheiro chefe da rainha. Elogiou Tydae.
De repente um solavanco forte nos jogou para o lado.
- Ai. Reclamei esfregando a cabeça que eu batera.
Outro solavancos se seguiram.
- O que está havendo? Questionei preocupada.
Dracon abriu a janela que era ligada a cabine do condutor.
Neve entrou por ali. O condutor usava uma magia aquecedora para se proteger do frio.
- O que houve? Perguntou Dracon com autoridade.
- É uma nevasca senhor e das grandes. Os cavalos estão com dificuldade para voar devido ao vento contrário. Disse o condutor bem alto para podermos ouvi-lo apesar do barulho do vento.
- E os guardas vento? Questionou Dracon.
- Estão aqui fora tentando mudar a situação, mas os ventos daqui são diferentes dos nossos. Talvez tenhamos que pousar. Disse o fae preocupado.
- Façam o que tiverem que fazer, mas tomem cuidado. E a segurança da rainha é prioridade. Disse Dracon.
- Sim senhor! Respondeu o condutor.
Dracon fechou a janela.
- Eles vão ficar bem? Preocupei-me.
- Sim. Eles são os melhores. Garantiu Dracon.
Tydae apertou minha mão para me encorajar.
- A janela está congelando. Disse Tydae mostrando a janela a seu lado.
Quando nossa atenção estava voltada para isso, um solavanco mais forte fez a carruagem se inclinar, a porta a meu lado se abriu com tudo. Senti como se fosse empurrada e despenquei para o nada...

O Filho Do Rei Das Sombras - Contos Dos Medium Fairy. Em PausaOnde histórias criam vida. Descubra agora