O Filho Do Rei Das Sombras - Contos Dos Medium Fairy. Em Pausa

Aulas

*Ariana

Abri meus olhos. Um raio de sol adentrava discretamente uma fresta entre as cortinas. Me espreguiçei gostosamente espantando os resquícios de sono. Nesse instante um movimento no quarto me chamou a atenção. Amara arrumava o meu armário.
- Amara, já está trabalhando desde cedo? Perguntei entre bocejos.
- Senhora? Me desculpe se a acordei. Falou abraçada a um de meus vestidos.
Olhei para a janela e através da visão da fresta de outrora, percebi que o sol já ia alto lá fora.
- Que horas são!? Perguntei me sentando bruscamente na cama.
- Cerca de meio dia. Informou Amara enquanto dobrava o vestido.
- Por Fyri! Amara, por que não me acordou? Falei chutando os cobertores.
- Achei que não ia ter problema em a senhora descansar um pouco mais hoje, já que não haverá aulas ainda. Explicou Amara timidamente.
- Mas os horários das refeições são bem rígidos. Com certeza eu já perdi o café e talvez até o almoço. Informei enquanto corria contra o tempo.

No final eu consegui chegar a tempo para o almoço. Embora a zeladora tivesse me lançado um olhar acusador por estar tão atrasada.
Encontrei os meus amigos sentados em uma das mesas no rico refeitório da academia. O lugar estava lotado de alunos sentados em suas compridas mesas de madeira negra.
- Aqui Lorana. Acenou Marri.
Me aproximei da localização de sua mesa.
- Eu guardei um lugar para você. Avisou Andrês indicando a cadeira entre ele e Sibely.
- Por quê vocês me deixaram para trás? Indaguei colocando as mãos sobre a mesa.
- Como você estava dormindo, achamos melhor deixá-la descansar, já que hoje não haveria aulas. Contou Sibely ecoando o argumento de Amara.
- Tudo bem, mas perdi o café da manhã e quase perdi o almoço também.
- Nós pretendiamos te levar uma marmitinha. Contou Marri com um sorriso divertido.
- Sei. Falei a olhando sério, em seguida, me virei para meu guardião - Até você Andrês? Reclamei.
- Não diga meu nome verdadeiro em público. Cochichou ele.
Coloquei a mão tapando a boca, penalizada pelo meu deslize.
- Desculpe por descer sem você. Na verdade nós também perdemos o café, e como você não acordava e estávamos famintos, resolvemos ir na frente. Confessou Andrês.
- Diga-se de passagem que perdemos o café por esperar você. Disse Marri apoiando a cabeça na mão.
- Ah... Me desculpa. Pedi penalizada.
- Brincadeira. Não foi só você que acordou tarde. Disse ela olhando de Daira para Sibely.
- Culpada. Denunciou-se Daira erguendo a mão.
- Eu também. Avisou Sibely.
- É, mas vocês ficaram até tarde estudando os relatórios e organizando as aulas de todos. Contou Tydae olhando com carinho para as duas.
- Desculpa gente. Eu reclamando enquanto vocês tiveram todo o trabalho. Falei me sentando ao lado de Andrês.
- Tudo bem. Só fizemos nosso dever. Respondeu Sibely.
Daira concordou com um aceno.
- E você não deve ter dormido direito a noite, né? Disse Andrês com a mão em meu ombro.
- Realmente. Lugar novo, ansiedade etc, me tiraram o sono. Confessei.
- Bom, vamos almoçar rapidinho, antes que esgote o tempo do almoço. Disse Marri pegando os talheres.
O menu estava servido em bandejas de prata. Carnes, grãos, saladas, constituíam o almoço. Pratos bonitos e aromáticos.
Os nossos pratos eram de bronze acompanhados de brilhantes talheres de prata.
- Que mesa bonita. Quase tão bela quanto as do palácio. Elogiei enquanto me servia de um pedaço de uma ave assada.
- É, aqui é uma academia para nobres e camponeses abastados. Na academia da guarda não se come tão bem assim. Disse Marri comendo com vontade.
- Não é nada tão chique e variado, mas na academia da guarda não nos faltava nada. Opinou Sibely.
- Isso lá é verdade. Concordou Daira.

Um pouco depois já estávamos na nossa sala empanturrados e sonolentos, jogados sobre o sofá.
- Acho que comi demais. Reclamou Marri com um gemido.
- E comeu mesmo. Riu Tydae.
- Mudando de assunto. Como estão os relatórios de aula? Indaguei para Daira.
- Já terminei os de todos. Vou pegá-los. Disse ela correndo para escada.
- Eu a ajudei um pouco, mas depois me foquei no dossiê de Lorana. Queria saber se havia alguma menção ao tal de Rafin. Contou Sibely.
- E havia? Questionei esperançosa.
- Não. Talvez Lorana tenha esquecido de menciona-lo, uma vez que ele se mudou a dois anos.
- Ou simplesmente ele não era tão relevante na vida dela para que ela o mencionasse. Opinou Marri - Eu o achei chatissimo. Completou.
- Acho que ele não gostou muito de você também Marri. Riu Tydae.
- Então é mútuo. Arrematou Marri com um sorriso maroto.
- Eu o achei muito arrogante. Confessei.
- Corcordo plenamente. Disse Andrês.
- Mas de qualquer jeito, espero que as informações de Dracon cheguem logo. Não posso evita-lo para sempre. Falei preocupada.
- Verdade. Não podemos deixar nenhuma brecha que faça ruir o nosso plano. Arrematou Sibely.
- Cheguei! Avisou Daira descendo as escadas com os papéis nas mãos.
Ela entregou cada um a seu dono e três folhas para mim.
Eu li as aulas que me cabiam.
- Por Fyri! São tantas. Reclamei desolada.
- Verdade majestade, mas é que terás que ser três alunas diferentes. Disse Daira.
- Eu sei. Respondi com um gemido.
- Mas coloquei a maioria das aulas para Lorana. Kaelha e Asha só terão as aulas obrigatórias. Controle de elementos, batalha elemental e história de Aurór. Salvo lutas que direcionei para Kaelha assim você e Andrês ficaram na mesma classe e eu também, já que somos todos ventos. Contou Daira.
- Obrigada Daira, não sei o que faria sem você. Seria um inferno organizar todas essas aulas. Agradeci apertando sua mão.
- De nada. Respondeu com um sorriso.

Amanheceu um outro dia e alguém me chacoalhava.
- Hein? Falei ainda sonolenta.
- Senhora, precisa levantar. Já é hora do café. Avisou Amara.
- É verdade, hoje começam as aulas. Lembrei jogando as cobertas e me levantando.
- Bom dia senhora. Cumprimentou Amara.
- Bom dia Amara. Cumprimentei.
Correndo para a mala com as cápsulas.
- Qual mesmo eu devo tomar? Questionei olhando as cápsulas multicoloridas.
- Sua primeira aula será com Lorana. Avisou Amara.
- Sim é verdade. Controle de água. Lembrei.
Engoli a cápsula sentindo o costumeiro formigamento.
Senti meus cabelos crescerem e observei minha imagem loira no espelho.
- Eu nunca me acostumo a isso. Confessei olhando a figura de Lorana no espelho.

Mais tarde, andava a passos largos ao lado de Sibely.
Ela seguia o mapa mágico que segurava em mãos.
- É aqui. Disse ela apontando para uma porta que tinha pendurada uma placa escrito: Elementum aqua.
- Nossa primeira aula é de controle de água. Disse Sibely.
Confirmei com a cabeça.
- Vamos entrar? Chamou Sibely. Entrei com o pé direito para dar sorte.
Lá dentro quatro fileiras de mesa de madeira com um banco estofado azul escuro para duas pessoas faziam parte da composição do ambiente.
- Vou entregar nosso cronograma de aulas para a professora. Avisou Sibely.
- Ok. E eu vou escolher um lugar para nos sentarmos.
Escolhi o lugar mais atrás. Além de eu gostar de sentar no fundo, eu não queria de modo nenhum chamar a atenção, por isso era melhor ficar escondidinha no lugar mais distante.
Assim que me sentei e olhei por um minuto a janela, senti alguém se sentar ao meu lado. Me virei pensando ser Sibely e dei de cara com Rafin.
- Olá. Cumprimentou.
- O-oi. Guaguejei.
- Surpresa pela minha presença aqui? Claro que não, pois você sabe que eu também sou água. Disse ele.
- Claro que sei. Confirmei tentando parecer segura.
- Mas eu também podia ter pego a aula em outro horário. É sorte eu ter escolhido o mesmo horário que você.
- Foi muita sorte mesmo. Respondi sarcástica, mas ele não percebeu.
- Podemos voltar a nos divertir juntos como antes.
- Divertir? Perguntei tentando enrola-lo, já que não fazia idéia do que ele falava.
- É. Lembra como nos divertiamos pregando peças nos empregados e camponeses probletões? Disse ele com um sorriso malvado.
Parece que Lorana não era tão boazinha quanto eu pensava. Quer dizer, se o que ele dizia era realmente verdade.
- Lembro, mas aqui é uma escola de elite. Só tem nobres e camponeses abastados. Opinei.
- Sim, concordo que há nobres, mas esses camponeses são pessoas de baixo nível que venderam umas verduras a mais e já pensam que são nobres. Disse ele com desdém.
- Veja. Disse ele apontando para uma fae magrinha - O nobre uniforme da academia Aurór Sul, parece uma fantasia nesse espantalho. Disse com maldade. O uniforme das meninas era um vestido azul escuro até o joelho de mangas compridas e shortes por baixo. O simbolo da escola estava no lado esquerdo do peito. Os meninos usavam; camisa azul escuro e calça cinza escura.
Antes que pudesse responder qualquer coisa a Rafin, Sibely chegou.
- Desculpe, aqui é meu lugar. Afirmou Sibely para Rafin.
- Não vi seu nome escrito em lugar nenhum. Rebateu ele.
- Com licença Rafin. Essa é minha amiga Sibely. Apresentei apoiando a mão em seu ombro.
Ele a olhou de cima a baixo com uma careta.
- Tem certeza que ela é uma amiga sua? Perguntou incrédulo.
- Sim. Eu combinei de me sentar com ela. Contei tentando soar o mais simpática possível - E você não pode deixar sua amiga sozinha. Falei avistando a garota que estava com ele na festa.
- Aquela é minha prima Daeren. Ela não se importa.
- Mas... Falei vasculhando meu celebro em busca de uma desculpa plausível.
- Tudo bem. Se você quer se sentar com sua amiga não vou impedi-la. Disse se levantando.
- Obrigado Rafin. Agradeci aliviada.
- Mas espero que nós nos encontremos mais constantemente. Disse ele beijando minha mão.
- Claro.
Só que não. Completei mentalmente. Eu queria era distância desse cara. Ele estava sendo una pedra em meu sapato.
Com uma mão ao peito ele cumprimentou Sibely, embora o seu semblante estivesse fechado.
Ele se afastou para se sentar com sua prima, enquanto Sibely tomava seu lugar ao meu lado.
- Ai Sibely, ainda bem que você chegou. Falei segurando sua mão.
- Foi realmente uma falta de sorte estar na mesma sala que ele. Respondeu ela olhando feio para a direção em que se achava Rafin.
- E o pior de tudo, é que segundo ele, Lorana é uma pessoa totalmente diferente do que consta no dossiê. Revelei mordendo os lábios preocupada.