Pousada chifre de ouro

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*Greta

Quando outro dia se iniciou, ele já não estava mais ao meu lado. A cama que Cassandra nos emprestou e nós dividimos, se encontrava vazia de sua presença.
Me levantei afastando os últimos resquícios de sono. Após meu ritual matinal, abri a porta da velha cabana em direção ao exterior.
Olhei em volta e logo o encontrei. Sentado em um antigo tronco caído, ele observava os primeiros raios de sol.
- Admirando a paisagem? Perguntei, embora hesitante.
Ele se virou, primeiramente surpreso, mas logo seu rosto formou um sorriso.
- Olá. Na verdade, estava admirando como esta terra é diferente da minha. Respondeu ele voltando seu olhar para o nascer do sol.
- Eu imagino. Sentindo saudades?  Perguntei andando até onde eu pudesse ver seu perfil.
- Um pouco, porém, de certo modo, é excitante conhecer os lugares além das fronteiras de Aurór Norte. Respondeu me dando uma olhada rápida.
Os raios de sol, refletiam em tons dourados em seu rosto o deixando ainda mais belo, me deixando momentaneamente enfeitiçada.
- Greta....Greta? Chamou ele balançando a mão.
Pisquei acordando do torpor momentâneo.
- Oi?
Ele riu.
- Estou te chamando a algum tempo.
- Me desculpe. Estava perdida em pensamentos. Respondi um pouco corada.
- No que pensava?
- Nada demais. Desconversei.
- O que queria me dizer, Lyoneel? Perguntei.
- Ah, sim. Vamos partir para Cem Pés hoje? Questionou.
- Bom... Estive pensando, e acho que deviamos fazer uma pequena parada antes.
- Onde?
- Em Campo Belo. É um pequeno vilarejo aqui perto, mas é um lugar que Ariana conhece bem e ela também tem amigos lá. Ainda que seja remota, há a chance de Ariana ter ao menos, passado por lá. Expliquei.
- Bem, a decisão é sua. Eu vou te seguir.
- Obrigada.
- E quando iremos? Indagou.
- Quando ele chegar.
- Ele? Ele quem? Questionou confuso.
Claro, ele não fazia idéia que eu o chamara.
- Félix.
- E quem é essa pessoa?
- Félix não é uma pessoa, ele é uma fênix. Contei.
- Sério? Uma fênix? Questionou.
- Sim.
- Mas... Como ele nos encontrará?
- Sabe, assim que chegamos as Terras Desoladas, enviei uma mensagem via pássaro de fogo. Por sorte ele não estava muito longe. Segundo os meus cálculos, ele chegará a qualquer momento. Avisei.
- Nem percebi que você mandou essa mensagem. Mas seu poder de fogo deve ser bem forte para aguentar viagens longas. Comentou.
- Bem, é o que dizem. Eu, meu pai e Ariana, somos uns dos raríssimos usuários de fogo que não precisam usar acionadores. Talvez por termos sangue real. Por isso mesmo meu pai aceitou que eu ingressasse na guarda real. Lembro-me que quase botei fogo em minha casa várias vezes, por causa da minha dificuldade em administrar esse grande poder. Mas hoje em dia, depois de árduos treinamentos, eu posso ajustar meu poder até as quantidades que eu preciso. Contei.
- Eu sei bem como é isso. Levei anos para domar meus poderes. Sou o segundo fae mais poderoso de Aurór Norte. Atrás é claro, do meu pai. Contou.
- Eu não chego a tanto. Deve ter vários faes de outros elementos, mais fortes que eu aqui em Aurór Sul.
- Ah! Exclamei sentindo uma presença.
- O que foi? Questionou Lyoneel.
Olhei para o céu e notei a sua imagem.
- Veja, ele chegou. Avisei apontando para o pássaro que se aproximava.
Felix pousou com graça, centímetros a nossa frente, causando uma pequena ventania.
Assim que suas asas pararam de bater, cheguei mais perto.
- Olá garoto. Cumprimentei acariciando suas penas de fogo do pescoço.
- Olá my Lady. Respondeu em minha mente.
- Senti sua falta Félix.
- O mesmo para mim Lady Greta.
- Ah, Deixe-me apresentar um amigo. Pedi chamando Lyoneel com um gesto.
- Esse é Lyoneel Benhard Torbeleg Khante Losandrohir. Apresentei-o.
- Não precisava citar meu nome todo. Reclamou.
- Desculpe. Respondi divertida.
- É um prazer conhecê-lo Félix. Sou um admirador dos seres majestosos e místicos chamados fênixs. Disse Lyoneel com a mão ao peito.
- É uma honra conhecê-lo nobre cavaleiro. Respondeu mentalmente minha fênix se inclinando.
- Ele disse...
- Eu posso entende-lo. Interrompeu Lyoneel.
Parece que  como eu, ele tinha facilidade de se comunicar com seres de outros elementos também.
Cassandra abriu a porta e parou abruptamente ao notar a presença de Félix.
- Oh, que pássaro grande, enorme. Exclamou surpresa.
- Esse é Félix, minha fênix. Contei.
A pequena pixe cochichou no ouvido da senhora.
- Hã?! Você já o conhecia? E ele queimou Andrês?
Suas palavras me fizeram lembrar da luta com Volk e de tudo o que havia acontecido naquele tempo.
- Ah, agora eu me lembro. Você é a pixe que estava no bolso de Ariana aquele dia. A reconheci.
A pixe concordou com a cabeça.
- Seu pássaro queimou-o mesmo? De verdade? Questionou Cassandra.
- Bem... Sim.
Lyoneel se afastou de nós discretamente.
- Não precisam se assustar. Felix apenas não gosta que desconhecidos o toquem. Contei aborrecida.
- Oh, então é assim? Que bom que ele é um bom pássaro. Disse Cassandra com um sorriso sincero.
- Sim ele é. Falei acariciando suas penas.
- Cassandra. Acho que chegou a hora de nós despedirmos. Avisei voltando minha atenção para a senhora.
- Mas tão rápido. Rapidamente?
- Sim, devido às circunstâncias urgentes. Com a ajuda de Félix, podemos chegar mais rápido. Informei.
- Mas você não disse que ele não gosta que estranhos o toquem? Questionou Lyoneel.
Em vez de responder, me virei para Félix.
- Ei garoto. Você pode dar uma carona a meu amigo? Perguntei.
- Não me importo de levar tão nobre cavalheiro. Respondeu minha fênix.
- Você teve sorte. Felix gostou de você. Avisei.
- Isso é um alívio. Obrigado Félix.
- Vocês vão a Cem Pés? Cem Pés? Perguntou Cassandra.
- Isso. Com uma rápida parada em Campo Belo. Informei.
- Podem me fazer um favor? Um favorzinho? Perguntou Cassandra.
- Claro. Em que posso ajudá-la?
- Levem Pix com vocês. Ela sente muita, muita falta de Ariana. Pediu.
- Se é o que deseja, eu o farei. Concordei.
A pequena pixe se apressou e sentou-se em meu ombro.

O Filho Do Rei Das Sombras - Contos Dos Medium Fairy. Em PausaOnde histórias criam vida. Descubra agora