Despedida

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* Ariana

- Você está brincando, né Andrês? Indaguei descrente.
- Não. Conversei muito com meu pai e tomei a decisão sabendo das possíveis consequências. Relatou ele sério.
Olhei para Dracon, que tinha uma expressão preocupada colada ao rosto.
- Mas deve ter um jeito de conseguir essa autorização mais rápido. Não? Questionei.
- Infelizmente não. O conselho não está presente e demorarão para chegar. Informou Dracon.
- E se eu desse essa autorização? Indaguei esperançosa.
Dracon negou com a cabeça.
- Essa é a lei. Todo medium fairy que for autorizado a adentrar em Aurór, deve provar ser útil a nação, caso aprovado, só poderá voltar ao seu mundo de origem com missão concreta e autorizada pelo governante e conselho real em comum acordo. Caso isso não seja atendido, esse será permanentemente impedido de voltar a terra mágica de Aurór. Recitou Dracon.
- Mas então, de que me serve ser rainha se não posso fazer nada sozinha?! Gritei desconcertada.
- A rainha também tem que cumprir a lei. Aliás, ela deve ser a primeira fazê-lo. Vossa majestade pode fazer muitas coisas, menos descumprir as leis. Reinterou ele.
- Ser rainha não me serve de nada! Retruquei exasperada.
- A rainha se torna rainha para o bem de todo povo, não de si mesma. Continuou Dracon.
- Blá, blá, blá. Que conversinha mais clichê! Eu devia era te destituir de seu posto! Isso eu posso fazer, não é? Retruquei irada.
- Sim majestade. Se for o seu desejo aceito com humidade. Disse ele com a mão ao peito.
- O que está dizendo Ariana? Você não vai demiti-lo de verdade, não é? Intrometeu-se Andrês.
- Você está do lado dele agora? Questionei nervosa.
- Não é questão de lado. Mesmo que ele quisesse, meu pai não pode mudar a lei. Retrucou Andrês.
- Mas tem uma coisa. Andrês é seu guardião, então talvez consiga uma brecha. Argumentou Dracon, ainda com a mão ao peito e a cabeça abaixada.
- Uma brecha? Na lei? Perguntei um pouco mais calma.
- Sim majestade. Confirmou Dracon levantando a cabeça.
- Então Andrês vai poder voltar?
- Não é garantido mas... Começou Andrês.
- Por quê está dizendo isso? Questionei-o com o coração acelerado.
- Porque conversei com meu pai e a chance é pequena. Informou ele.
- Você não quer que eu tenha esperança? Na verdade você não quer ficar em Aurór comigo. Acusei-o.
Sabia que não era verdade, mas queria ferir alguém, assim como me sentia ferida.
- O quê? Isso não é verdade. Ariana eu te amo e quero ficar com você. Disse ele tentando segurar minha mão.
Me afastei dando um passo para trás.
- Se me amasse, não iria. Ficaria aqui comigo.
- Ariana, é minha mãe...
- E eu sou sua namorada. Rebati o interrompendo.
Andrês deixou suas mãos que antes tentavam me tocar, caírem ao lado do corpo.
- Quando você se tornou tão egoísta? Questionou com um olhar de decepção.
Não pude responder nada diante da sua expressão de desapontamento.
Me virei e corri para fora da sala sem olhar para trás. Ele não me seguiu. Somente os guardas acompanharam a minha corrida desenfreada até o quarto. Assim que passei pela porta, a bati com toda a minha força e raiva. Me joguei na cama e lá permaneci remoendo minhas dores, incertezas e minha própria estupidez.
Em algum ponto desse furacão de sentimentos, o sono me pegou. Quando abri meus olhos a manhã já se enunciava.
Com a manhã, também vieram as lembranças da noite passada
O quê eu ouvi, o quê eu falei e o quê senti.
Me encolhi em meus lençóis e desejei dormir e esquecer as dores atuais, mas o sono, como que fazendo birra, se recusou a me encontrar.
Passei horas olhando para o teto, até que Amara bateu a porta oferecendo o café da manhã. Me recusei a abrir a porta. Não tinha a mínima fome e nem vontade de ver ninguém.

Mais tarde, alguém bateu a porta novamente.
- Vai embora! Ordenei sem levantar da cama.
- Trouxe o seu almoço. Disse a voz de Rose do outro lado da porta.
- Não quero.
Ouvi um barulho de chaves e logo a porta cedia passagem para Rose com uma bandeja na mão.
- Como você entrou? Tenho certeza que tranquei a porta. Exigi saber me sentando na cama.
Rose colocou a bandeja sobre a penteadeira.
- Tenho a chave, afinal sou a capitã da guarda do castelo.
- Vá embora! Não quero falar com ninguém. Falei me deitando e cobrindo a cabeça.
Senti quando ela sentou na cama.
- Você precisa comer. Disse ela.
- Não estou com fome. Respondi.
Ela se calou por um momento.
- Soube o que aconteceu ontem. Revelou.
- E dai? Retruquei de má vontade.
- Você vai mesmo deixar ele ir sem se despedir? Indagou.
Joguei a coberta para o lado e me sentei na cama.
- Isso não é da sua conta, agora cala boca e vá embora! Exigi descontrolada.
Rose se levantou e num ímpeto me deu um tapa no rosto.
Surpresa coloquei a mão sobre o local atingido.
- Como ousa? Eu sou a rainha, poderia te mandar para a cadeia para sempre. Falei com raiva.
- Você vai me mandar prender? Sua própria amiga?  Quando você se tornou esse tipo de pessoa? Disse aproximando seu rosto do meu.
Ao ouvir aquela expressão, quase idêntica a de Andrês, desmoronei. Enterrei minha cabeça nas mãos e chorei.
Rose se sentou ao meu lado e me abraçou com força.
- Me desculpa. Pedi ainda em seu abraço.
- Me desculpe também. Acho que eu exagerei um pouco.
- Um pouco? Aquele tapa doeu de verdade. Brinquei passando a mão no rosto.
- Mas bem que você mereceu. Estava muito chatinha. Devolveu a brincadeira, dando um sorriso carinhoso.
- Ok, falando sério agora. O que aconteceu ontem? Questionou ela se ajeitando na cama.
Respirei fundo e limpei as lágrimas.
- Então, você soube da mãe do Andrês e de como ele quer ir para a terra hoje a tarde, né?
- Sim. Dracon me contou. Respondeu com seriedade.
- Ele falou também das consequências? Questionei.
- Estou a par de tudo isso. Confirmou.
- Bem. Comecei umedecendo os lábios - Eu meio que disse umas bobagens para o senhor Dracon e para o Andrês. Ameacei demitir o meu tutor e conselheiro, além de acusar o Andrês de não se importar comigo e por isso  querer ir a Terra sem se importar com as consequências.  Contei envergonhada
- Aí Andrês me chamou de egoísta e eu sai correndo. Não pude suportar seu olhar de decepção. Encerrei.
- Bom, você foi mesmo meio egoísta. Pensa assim: se fosse seu pai, você não faria o mesmo? Indagou.
- É claro que sim. Com a mente clara agora, eu consigo ver o quão egoísta eu fui. Mas na hora, diante da notícia que eu poderia ficar longe dele para sempre, eu não pude me conter. Revelei limpando uma lágrima teimosa que correu por minha bochecha novamente.
- Eu entendo, mas então, você vai deixa-lo ir sem se despedir? Questionou ela.
Deitei a cabeça em seu colo buscando segurança.
- Ele não vai querer me ver. Ainda deve estar zangado comigo. Comentei cheia de tristeza.
- Então se desculpe com ele. Opinou alisamento meus cabelos.
- Mas será que ele vai me perdoar? Eu disse tantas bobagens. Disse externando parte das minhas incertezas.
- Faça a sua parte. Se caso ele não puder voltar mesmo, você não vai querer que última lembrança de vocês dois seja de uma briga. Disse Rose com carinho.
- Não eu não quero isso. Decidi me pondo em pé.
- Essa é a minha menina. Comemorou Rose enquanto eu caminhava até a porta.
- Espera, onde você vai? Questionou ao ver minha mão já na maçaneta.
- Vou vê-lo é claro. Respondi sem entender seu questionamento.
- Desse jeito? Descabelada e de camisola? Indagou com ar de divertimento.
- Mas se eu não for agora, talvez ele se vá sem eu poder alcança-lo. Disse eu preocupada.
Rose caminhou até mim e segurou meus ombros.
- Nós ainda temos tempo. Você também não vai querer que a última imagem que ele tenha de você, seja nessa situação. Brincou me fazendo dar uma volta.
- Você acha que ele não vai voltar? Preocupei-me.
- Tenho certeza que o senhor Dracon convencerá o conselho. Além disso, nunca houve um guardião meio fae, tem mais chances deles abrirem uma exceção. Garantiu apertando minhas mãos.
- Você acha mesmo? Perguntei já com uma pontinha de esperança.
- Eu tenho certeza. Agora vamos, que eu vou te deixar bem bonita. Garantiu me empurrando.
Me virei e a abracei.
- Obrigada Rô. Eu não sei o que eu faria sem você. Agradeci mais confiante.
Rose deu um beijo estalado em meu rosto.
- É óbvio que você estaria perdida. Brincou me arrancando risos de alívio.

Naquele mesma tarde, já vestida e arrumada, desci as escadas de braços dados com Rose em direção a o local do portal. Ao me aproximar da porta, parei.
Rose olhou para mim compreensiva.
- Está preparada? Questionou.
Fiz um sinal afirmativo com a cabeça. Minha boca estava seca e um bolo começava a se formar em minha garganta.
Rose soltou meu braço e bateu na porta. O próprio senhor Dracon a abriu. Cumprimentou-me com aceno de cabeça que eu retribui.
- Tudo pronto lorde Dracon? Indagou Rose.
- O portal estará em funcionamento daqui a alguns minutos. Contou ele.
Me aproximei e vi Andrês de costas para nós, observando o arco mágico.
Entrei na sala devagar.
- Olha lorde Dracon, tenho algo a lhe falar lá fora. Disse Rose piscando para mim.
Dracon não disse nada, apenas a seguiu me dedicando um último olhar compreensivo. Fiquei extremamente grata pelo tempo que eles estavam nos dando.
Rose fechou a porta atrás de mim. Andrês se mexeu, mas não olhou para trás.
Dei dois passos adiante.
- Andrês. Chamei baixinho.
Ele pareceu se assustar, mas não se virou.
- Andrês! Chamei de novo, só que dessa vez mais alto.
Devagar ele se virou para mim.
- Ariana, você veio. Disse ele a meia voz.
Não podendo mais me conter, corri para ele e joguei os braços ao seu redor. Ele por sua vez me abraçou forte.
- Me desculpe. Me desculpe. Pedi com o rosto enterrado em seu peito.
- Eu não queria me afastar de você... Balbuciou entre meus cabelos.
Segurei seu rosto entre minhas mãos e olhei firme em seus olhos.
- Eu sei, mas você precisa ir, sua mãe te espera. Lhe falei do fundo do meu coração.
- Então você não está mais zangada? Questionou sem desviar seu olhar do meu.
- Por quê eu estaria? Eu é que devia fazer essa pergunta, depois de tudo o que eu disse.
- Mas... Eu te chamei de egoísta. Insistiu.
- Eu estava mesmo sendo egoísta, mas agora eu entendo. Se eu estivesse no seu lugar, faria a mesma coisa.  Se... se o meu pai estivesse vivo e precisasse de mim, não mediria esforços para estar com ele. Falei com o olhar embaçado pelas lágrimas não derramadas.
Ele tirou minha mão de seu rosto e a beijou.
- Obrigado por compreender. Agradeceu.
- Espero que sua mãe melhore logo. Desejei.
- Sim. Concordou encostando sua testa na minha.
- Espero que o senhor Dracon convença o conselho. Continuei.
- Sim. Repetiu.
- Espero que você volte logo. Desejei ardentemente.
- Sim.
- Vou sentir saudades. Afirmei com a voz embargada.
- Eu também meu amor. Afirmou limpando uma lágrima do meu rosto.
Andrês me beijou lenta e docemente, acarinhando meus lábios com os seus. Eu devolvi desejosa e já sentindo o gosto da despedida.
- Prometo que de um jeito ou de outro eu volto para você. Afirmou segurando minhas mãos.
Entrelacei meus dedos nos seus.
- Eu acredito em você. Falei convicta.
Uma batida na porta desviou nossa atenção. Rose a abriu devagar.
- Desculpa interrompe-los. Pediu entrando na sala.
Lorde Dracon a seguiu.
- Está na hora. Avisou ele.
- Estou pronto. Concordou Andrês ainda segurando uma de minhas mãos.
Dracon olhou para mim e eu concordei com um gesto de cabeça.
- Esqueci de falar. Você está linda. Cochichou Andrês em meu ouvido.
- Obrigada. Agradeci comovida.
Dracon levantou os braços e murmurou o feitiço de abertura do portal e uma luz azul arroxeada começou a brilhar, preenchendo o arco de pedras.
Dracon chamou seu filho e nós dois caminhamos até ele.
- Você tem que atravessar agora, Andrês. Avisou Dracon.
Andrês soltou minha mão.
- Obrigado pai. Agradeceu Andrês estendendo a mão a Dracon.
- Cuide da Mary. Pediu Dracon apertando a mão do filho.
- Pode deixar. Respondeu Andrês com um sorriso.
Em seguida meu guardião se voltou para mim com a marca do vento já brilhando em seu braço, caracterizando a autorização do conselheiro real. Ele me abraçou mais uma vez.
- Eu te amo minha rainha. Sussurrou em meu ouvido aquecendo meu coração.
- Eu também te amo. Muito. Afirmei lhe dando um selinho.
Ainda segurando minha mão ele andou em direção a abertura do portal. Devagar ele soltou seus dedos dos meus um a um.

 Devagar ele soltou seus dedos dos meus um a um

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- Eu volto. Afirmou já com um dos seus braços dentro do portal.
- Eu te esperarei. Respondi.
Ele foi andando de costas sem desviar seu olhar do meu até que as luzes do portal o cobrissem, o levando para um mundo diferente do meu...

O Filho Do Rei Das Sombras - Contos Dos Medium Fairy. Em PausaOnde histórias criam vida. Descubra agora