Aparência conhecida

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*Nix

Dar uma volta no dragão, foi libertador.
Era também, uma prova que o príncipe tinha mais confiança em mim, ao ponto de me levar para fora das muralhas do castelo.
Depois do pouso de Myron no pátio interno, desembarcamos do seu lombo. Eu com a ajuda do príncipe, pois a distância até o chão era muita e meu comprimento era relativamente curto.
Lyoneel me ajudou a descer como o cavalheiro que era.
- Então, gostou do passeio? Questionou o príncipe com um sorriso caloroso, enquanto nos afastavamos de Myron.
- Amei. É tão bom sentir o vento no rosto. É uma sensação tão nostálgica. Comentei.
- Então você já voou em um dragão antes, não contando a primeira vez que nos encontramos?
- Não tenho certeza quanto a voar em um dragão, mas tenho a sensação que já voei em um animal antes. Talvez um cavalo. Especulei.
- Então você teve contato com pessoas de posse. Cavalos e outros animais voadores são caros e de cara manutenção também. Pessoas pobres, não têm condições de tê-los normalmente. Pelo menos aqui é assim e creio que em Aurór Sul não é diferente.
- Então, o que está pensando? Questionei vendo que estava encucado com algo.
- Não é bom falar sobre isso no corredor. É como dizem: "as paredes têm ouvidos". Vamos até a varanda. Convidou empurrando de leve minhas costas.
Os guardas do príncipe nos seguiam de perto.
Lyoneel abriu a porta e permitiu minha passagem primeiro.
- Rapazes me esperem aqui. Ordenou fechando a porta atrás de si, sem esperar por protestos de seus protetores.
Logo ele se juntou a mim.
- O que tem em mente Lyoonel? Questionei curiosa.
- Eu te contei que minha noiva, a rainha de Aurór, estava vindo para cá com uma comitiva, não é?
- Sim. Confirmei.
- Estive pensando... Você apareceu por aqui mais ou menos na mesma época que a rainha deveria chegar a Aurór Norte. Comentou.
- O que você quer dizer com isso? Perguntei tentando entender o significado por trás de suas palavras.
- Segundo Dracon...
- Dracon? Repeti.
De algum modo aquele nome borbulhou em minha mente.
- Sim. Ele é o tutor da rainha da Luz. Bem, ele disse que sua comitiva sofreu um acidente e por isso não puderam continuar a viagem.
- Mas o que isso tem a ver comigo? Eu não entendo.
- Posso estar pensando demais... Mas a comitiva viria em carruagens voadoras e cavalos alados. E você disse que tem a sensação que já voou em um desses. Juntando com o fato que você apareceu justo quando eles parecem ter sofrido um acidente, me fazem questionar se você não fazia parte da comitiva de minha noiva. Especulou.
Senti um frio na espinha ao ouvir essas palavras.
- Mas você acha que uma mestiça seria aceita na comitiva de uma autoridade tão importante? Indaguei confusa.
- Ao contrário daqui, talvez em Aurór Sul eles aceitem os medium fairy.
- Me pergunto se isso pode ser verdade... Se eu realmente fizer parte dessa tal comitiva, o que você fará? Me entregará a eles? Me denunciará para seu pai...
- Jamais te entregaria a meu pai. Sua morte seria certa. Você é quem decidirá o que quer. Se decidir ir com eles te ajudarei, se decidir ficar, te aceitaremos de bom grado.
- Fico grata pela sua bondade, mas nem sabemos se eu realmente faço parte de tal comitiva.
- Saberemos quando eles vierem até aqui. Mas saiba que eu ficaria muito feliz se ficasse. Aprendi a gostar de você Nix. Disse ele se aproximando, seu rosto muito próximo ao meu.
Suas mãos tocaram levemente meu ombro. Seus olhos não se desviavam dos meus.
- Desculpe interromper. Disse Farry me despertando de meu torpor momentâneo.
Como resultado dei um passo para trás me afastando dos braços de Lyoneel.
- Farry. Disse o príncipe com um tom aborrecido - Por que não bateu antes de entrar?
- Bati, mas acho que estavam muito entretidos para me ouvir. Disse Farry olhando do príncipe para mim, me deixando constrangida.
- De qualquer maneira, o que quer? Questionou o príncipe impaciente.
- Está na hora de sua aula de espadas. Avisou.
- Isso não tem nenhuma urgência. Posso ir à qualquer hora. Tenho certeza que lorde Toross não se importará com meu atraso. Rebateu o príncipe.
- Mas seu pai se importará. Vossa majestade, o rei, acompanhará sua aula hoje novamente. Contou.
- E por quê meu querido pai faria isso? Perguntou ironicamente Lyoneel.
- Seu pai decidiu que vossa alteza, o príncipe, fará uma demonstração de lutas com espada para a rainha de Aurór Sul, assim que sua comitiva chegar. Explicou Farry.
- E por que isso agora? Indagou o príncipe incomodado.
- Não sei dizer meu príncipe.
- Então eu serei um dos entretenimentos que meu pai deseja presentear a realeza de Aurór Sul. Afirmou o herdeiro do trono aborrecido.
- Acho que ele só quer mostrar o quanto seu filho é talentoso e forte. Opinou Farry.
- Você é muito gentil, sei que só disse isso para me animar.
- Não. É a minha real opinião. Rebateu Farry.
- De qualquer jeito, obrigado. Agradeceu o príncipe dando batidinhas no ombro do amigo
- Agora é melhor irmos, antes que meu pai se aborreça com o atraso.
Antes de sair pela porta já aberta, Lyoneel se virou em minha direção.
- Continuamos nossa conversa depois Nix. Avisou dando um aceno.
Concordei com um simples gesto de cabeça.
Quando já não havia ninguém por perto, pude pensar melhor.
O príncipe parecia ter a intenção de me beijar, não?
Um rubor começou a subir por meu rosto.
Por que ele faria algo assim? Eu, uma mestiça?
Naquela hora eu fiquei congelada. Não neguei e nem aceitei seu gesto de carinho. Lyoneel era lindo e bondoso e eu gostava dele de certa maneira. Mas eu o amava? Eu não sabia.
Será que um dia eu amei alguém de todo coração?
E se eu gostava de Lyoneel, por que aquilo parecia tão errado?
Talvez minha consciência se lembrava de algo que eu não podia.

O Filho Do Rei Das Sombras - Contos Dos Medium Fairy. Em PausaOnde histórias criam vida. Descubra agora