Capítulo 3

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É estranho pensar em como as coisas mudam quando ficamos pobres, antes daquele ataque dos imortais à Eryn, eu era vizinha de Sammy, na noite em que meus pais sumiram e foram mortos em algum lugar, por aqueles humanos sem coração, os pais dela me ajudaram muito e Sammy não saiu do meu lado um segundo, algum tempo Depois, eu não tinha mais como sustentar aquela casa tão grande sem trabalhar, então vendi tudo o que havia sobrado, o que não era muito pois minha casa ficou um tanto devastada, e me mudei para a aldeia, desde então, os pais de Sammy me olhavam com desprezo, como se eu fosse uma humana, além disso fizeram com que a aldeia deixasse de ser vigiada de uma vez por todas e proibiram Sammy de falar comigo por um tempo, alguns anos depois eu Sammy passamos a nos encontrar escondidas, não queríamos deixar nossa amizade morrer, foi quando lhe apresentei Jake, sendo sincera, até hoje não sei como os pais dela aceitam que ela namore com ele, um pobre, que perdeu a mãe a alguns anos, viveu e cresceu na aldeia, mas tem um coração tão puro quanto o de uma criança, incapaz de matar um animal, depende da minha caça para sobreviver, ou das moedas que ganha quando realiza algum trabalho pesado.

O clima estava agradável, ninguém nos olhou com desprezo ou rejeição, também, Sammy tinha nos vestido perfeitamente bem, a anos em minha vida eu não comia tão bem, a comida estava fantástica, uma mesa farta ofuscava minha visão, depois de comer muito, pedi que o Jake fosse no Jardim da mansão comigo e lhe contei o que havia acontecido mais cedo
-Não é possível que acredite nisso Bea- ele parecia inconformado
-ela parecia...-procurei algumas palavras- certa do que falava- disse em minha defesa
-uma velha, morrendo, você acha mesmo que ela tinha certeza do que falava?
-sei que ela podia estar delirando, mas também pode estar falando a verdade Jake!
-Sei que você cresceu ouvindo contos de princesas que conhecem seu Príncipe- ele segurou minha mão, olhando seriamente para mim- mas achar que você pode ser uma heroína de uma terra que não precisa de heróis, é ser burra Beatrice- me senti ofendida com a forma que ele falou comigo e segurei o choro
-Não acredito que eu posso ser uma heroína, apenas acredito que lá fora possa haver uma vida melhor- disse tentando não me mostrar abalada
-ou talvez, lá fora está cheio de imortais, e a velha é mais uma humana, tentando lhe atrair para Lá, assim que você atravessar, eles lhe matarão, e comeram sua carne- Jake adorava citar as lendas que sua mãe lhe contava- eu sei que você acredita que um dia Peter vai te assumir, que vocês vão casar e enriquecer, mas acreditar em uma vida lá fora, é ser extremamente tola Beatrice- dessa vez não consegui segurar as lágrimas, não sei o que houve com o Jake, jamais imaginei essa reação dele, as lágrimas aumentavam a cada palavra dele
-obrigada, por estragar o meu aniversário Jake!- falei olhando para ele- esse sem duvidas, foi o melhor presente que recebi- disse antes de começar a bater minhas asas, ele gritou algo mas não ouvi, queria sair dali o mais rápido possível, Jake havia me magoado, muito, voei o mais rápido que consegui, o vento em meu rosto era intenso, secava rapidamente as lágrimas que caiam, o caminho da casa de Sammy até a aldeia era longo, as palavras de Jake rodavam minha cabeça, que doía muito
...
Aqueles olhos me olhavam fixamente, negros como a noite, ouvia alguns sussurros, ... você precisa ir..., ao mesmo tempo outra voz vinha a minha cabeça, sua tola... burra..., eu comecei a sentir muito medo mas adentrei mais à mata, aqueles olhos novamente se fixaram nos meus, e ela me chamava venha... você precisa vir...,não deixe que te convençam..., eu me aproximava da voz, ela estava próxima, vi algumas folhas se mexerem e então...
Acordei, suando, um sonho, apenas um sonho... olhei para o relógio na parede, marcava duas da madrugada, o frio era intenso e meu cobertor era fino, lembrei da velha, do outro lado eu não lutaria para sobreviver, talvez tivesse cobertores que me esquentasse, talvez eu não devesse ir para salvar Eryn, eu poderia ir para encontrar uma vida melhor e se eu morresse, pelo menos eu havia tentado
Levantei da cama, tirei o vestido e coloquei minha roupa de caça, uma calça velha e uma blusa, me vi no espelho, talvez uma última vez, meu corpo era magro por causa da falta de comida, minha pele branca, ficava mais clara no frio, meus cabelos castanhos estavam presos num rabo, olhei minha boca, fina como a da minha mãe e meus olhos, verde e esmeralda, como o do meu pai, peguei minhas flechas, algumas poucas roupas e deixei um bilhete para Jake, dizendo que não tinha previsão de volta, mas que guardasse o vestido que Sammy me dera, pedi que me perdoasse, mas eu precisava tentar mudar a minha vida  e então fui, sem olhar para trás, no caminho pensei em Peter, talvez ele ficasse chateado por eu ter sumido, ou talvez nem se importasse, minha partida jamais chegaria ao ouvido da realeza, eles não se importavam com o povo da aldeia, pensei em Sammy, quando Jake contasse, ela diria que não iria me perdoar nunca mais, mas todas as noites pediria ao Anel que me protegesse, e por fim, pensei em Jake, ele ficaria furioso, em seguida se culparia, depois iria para casa de Sammy, pensei em voltar, Jake teria que trabalhar muito para se alimentar, e eu podia imagina-lo chorando ao ler meu bilhete, eu o magoaria, e muito, mas já era tarde para voltar, já era em torno das 4 da manhã, e eu estava na frente da grande muralha, nunca havia chegado tão perto, ela era bonita e brilhante, haviam partes que já não brilhavam mais, eram fendas, feitas por humanos para invadir Eryn e era por aquela fenda que eu passaria.
Atravessar não foi difícil, mas senti uma dor nas minhas costas, uma dor e ardência contínuas e logo me dei conta do que era, talvez as lendas fossem reais, “uma fada que atravessa o muro tem suas asas arrancadas”, o próximo passo era aparecer humanos que me torturariam até a morte e em seguida, comeriam minha carne, talvez Jake tivesse razão, eu era uma tola em acreditar em uma vida melhor fora de Eryn, me virei para voltar, mas agora o muro estava completo, sem nenhuma fenda, mais brilhante do que antes, senti um medo tomar conta de mim, então comecei a andar, precisava sair daquela floresta.

porque tô muito feliz mesmo e me animei escrevendo, não consegui guardar essa parte só para mim...

Queria pedir, se vocês puderem, divulguem a história com seus amigos, lembrando, quanto mais leitores, mais eu me animo...

Além de Eryn (CONCLUIDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora