"O tempo não apaga as marcas,alguma coisa dentro de nós as faz parar de doer, aos poucos nos acostumamos com a dor, em noites frias rostos estranhos perturbam e violentam nosso sono, sei que marcas são só marcas, mas as vezes a ferida se abre e não...
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Fico olhando para o lindo homem ao meu lado, ele ressona baixinho, deve estar exausto do voo, já eu, não, dormi o voo todo, enquanto ele ficou velando o meu sono e trabalhando em seu Notebook.
Nunca vi um homem que trabalhasse tanto, durante todo o tempo que ficou afastado por causa do machucado, eu o via praticamente o dia todo analisando as reuniões e em videoconferências pela Net. Na verdade é que nunca conheci um homem como ele. Lindo, carinhoso, protetor, bom filho, ótimo irmão, inteligente, filantrópico, a lista é interminável.
Acho que foi por isso que me apaixonei por ele.
Eu sabia, desde o primeiro momento, que o vi, que olhei para esses lindos olhos cinza, que ele mudaria minha vida.
No começo, não queria a ajuda dele, pois senti que seria muito fácil me envolver com ele, e afinal, quando fiquei sabendo que era noivo, foi mais um motivo para correr dele, mas fiquei sem opção, a rua ou aceitar a bondade da família dele.
Balanço a cabeça em me lembrar das semanas que passei nas ruas, antes de descobrir aquela pensão, que pagava com a minha ajuda na cozinha, tanto para cozinhar, quanto para a limpeza, confesso que as lembranças dessa época, não são boas, mas depois conheci Liz, meu anjo, que me levou para morar com ela.
Suspiro em pensar que devo ser muito abençoada, primeiro Liz, depois Chris e sua família, minha família, me atrevo a pensar, já que quero ficar com ele o resto de minha vida, não só pelo conforto que ele me dá, mas também pelo amor que sinto por ele.
Do mesmo modo que ele se julgava incapaz de amar, eu me julgava incapaz de ser amada.
Vivi minha vida toda sem saber o que era um lar, uma família, sem saber o que era ser protegida por alguém, mas a família dele me mostrou o quanto isso é bom e possível.
Ver o cuidado que Grace tem comigo, a delicadeza de Mia ao me receber em sua casa, e a proteção de Christian, me fez conhecer isso e prefiro morrer, a viver um dia longe de tudo isso, longe dele.
Ele se mexe, murmura algo, o cubro melhor e resolvo ir ao banheiro.
Levanto-me com cuidado, olho para a cômoda e vejo uma garrafa de vinho e duas taças, sorrio em pensar que ele ficou tão empolgado que esqueceu de nos servir o vinho.
Depois de usar o banheiro, paro no lavabo para lavar minhas mãos, meu rosto, me olho no espelho e sorrio para meu reflexo.
Estou tão corada, meus olhos estão maiores ainda, mas apesar de tudo, a minha aparência é saudável, de uma mulher feliz. Sim porque agora sou uma mulher, a menina ficou para trás, Chris me fez mulher, sua mulher, tenho vontade de gritar de alegria por isso.
Passei minha vida toda, fugindo dos homens, com medo de acontecer comigo o que acontecia com minha mãe, de ter vários amantes, de não pertencer a ninguém, somente depois de muito tempo que ela conheceu aquele traste e sossegou um pouco, mas isso porque ele vive à custa dela, ela entra com o sustento e ele com o sexo, isso é nojento.
Por isso que quis fugir de Chris, não queria ser como ela, de me deixar envolver por ele, me tornar amante dele e ele me sustentar, não queria e não quero isso, de jeito nenhum, mas o que sinto por ele, falou e gritou mais alto em mim. O amo de todo meu coração, de todo meu ser, sou diferente de minha mãe, não quero apenas sexo dele, quero cuidar dele, ama-lo e faze-lo feliz. Mas o meu sonho de trabalhar no que me formei, não vou abandonar, assim que voltar das nossas férias, vou me empenhar em conseguir um emprego, Hanry até ficou de ver isso para mim, quase gargalho ao lembrar-me da cena de ciúmes que meu Lindo protagonizou, preciso falar para ele que Hanry é gay, me esqueci de falar isso, preciso contar o mais rápido possível, para ele não atrapalhar quando a vaga em um restaurante, de um amigo de Hanry, surgir e ele me procurar.
Lavo meu rosto, pego uma escova de dente e escovo meus dentes, penteio meus cabelos, preciso voltar para o lado dele, apesar que sei que não vou conseguir dormir.
Estou feliz por demais, feliz por finalmente pertencer a alguém, ter alguém que amo e com certeza me ama.
— Ana?- escuto o dono do meu coração, me chamando, apresso meu passo e vou ao seu encontro, sorrindo, não somente com a boca, mas com os olhos, com meu coração, com minha alma.
