Depois do episódio no avião, procurei manter distância de Ana, mas era meio que difícil, já que Steph sempre queria a mãe por perto e também queria aproveitar minha companhia, o jeito foi fazer que Ana era invisível para mim e tudo transcorreu melhor.
Entro na Ala de Oncologia, e caminho direto para o quarto particular que mandei reservar para Steph, com ela no colo.
Quando abro a porta do quarto, minha mãe, Mia e Ross, estão a nossa espera, coloco Steph no chão, ela olha para mim e depois para as três, minha mãe, é a primeira a se manifestar, vindo em direção a ela, se agachando e abrindo os braços para ela.
- Dá um abraço na vovó.- fala, tentando se controlar, mas sua voz a trai, soltando um soluço. Steph se deixa abraçar por ela, que a aperta em seus braços, vejo lágrimas nos olhos de minha mãe, escuto um suspiro, atrás de mim, vejo Ana chorando também.- Você é tão linda.- Dona Grace fala fazendo carinhos nos bracinhos de Steph.
- Vovó Grace?- minha mãe faz que sim.- minha mãe disse que tenho seu nome por você ser muito boa.- Dona Grace suspira e olha para Ana, seu olhar apesar de emocionado, endurece um pouco.- tudo bem Ana?
- Sim, Grace e você.- Ana responde com a voz fraca, sei que está constrangida.
- Poderia estar melhor.
- Posso abraçar minha sobrinha.- Mia fala se ajoelhando ao lado de minha mãe. Steph abre os braços e Mia a abraça, tendo a mesma reação de minha mãe.- Sou sua Tia Mia e ela é sua Tia Ross.
- Oi Steph.
- Oi.- Steph fala, ostentando seu sorriso tão lindo.
Percebo que nenhumas das duas conversam com Ana, que continua parada na porta, de braços cruzados, visivelmente deslocada de tudo.
- Filho, Dr Zachary quer conversar com vocês.- minha mãe fala e sinto Ana estremecer, ela sabe que é sobre os testes, eu mesmo respiro com dificuldade.
- Ok, vamos até lá.
Ana caminha até Steph, se abaixa e segura sua mãozinha:
- Fique com a vovó e as Tias, eu e papai já voltamos.
- Tá bom.- joga os bracinhos em redor do pescoço de Ana e beija seu rosto.
Ana se levanta, sai do quarto e eu saio atrás, passo a frente dela, liderando o caminho, ela me segue.
Chego à sala do Dr Zachary, bato e entro, ele levanta o rosto, me encarando com seus olhos castanhos.
- Boa tarde, Doutor.- falo já entrando, ele sorri e olha para Ana.
- Boa tarde, Sr Grey.- levanta-se e estende a mão que aperto, ele olha para Ana.- A Srta é a mãe da paciente?
- Sim, prazer, Srta Steele.- Ana estende a mão para ele que também aperta e indica duas cadeiras para que sentemos, o fazemos e logo indago, ansioso por noticias:
- O senhor queria falar conosco?- sinto que ele muda de expressão, antes leve e agora preocupada, me mexo em minha cadeira, algo está errado.
- Sinto muito.- ele começa,- mas nenhum de vocês é compatíveis com a paciente.- merda, procuro me controlar, minha vontade é de esmurrar algo, bater em alguém, me matar, não sirvo para salvar a vida da minha filha! Isso acaba comigo, me faz pensar do que vale tudo o que tenho se o principal que é a vida da minha filha não posso salvar. Escuto o soluço de Ana, olho para ela que chora copiosamente, sei que ela tinha esperanças de que tudo desse certo, que um de nós pudéssemos fazer o transplante, sei que seu mundo caiu como o meu.- bom, sei que não estão juntos, mas existe a possibilidade de ter mais um filho, há uma chance do cordão umbilical dele, poder salvar Steph...- para de falar porque Ana se levanta de um pulo, abre a porta e corre para fora, chorando, olho para o médico, pedindo desculpas com o olhar e corro atrás dela.
Saio ao corredor e ela não está, merda! Penso onde ela foi tão rápido, escuto um gemido, olho para uma porta entreaberta, caminho até lá, olho para dentro, e a vejo de costas, com as mãos apoiadas em uma mesa, cabeça baixa e posso ver suas lágrimas caindo, sobre a mesa.
Isso me destrói, sinto toda a sua dor, sei que de certo modo, sofre mais do que eu, pelo tempo que vem segurando tudo sozinha, me sinto um merda, se não a amparar nessa hora, esqueço a raiva, o rancor, caminho rápido e a abraço, a puxando para mim, como fazia anos atrás, quando tudo era perfeito entre nós, ela vem sem resistência e desaba em meus braços, acabo desabando junto com ela, choramos juntos.
Depois de alguns minutos, estou mais calmo, ela ainda chora em silêncio, penso no que minha mãe disse, no que o médico falou, por que não? Seria capaz de tudo para salvar minha filha.
A afasto um pouco, ela evita me olhar, mas ainda chora, levanto seu rosto, pisca algumas vezes, porra vejo tanto sofrimento ali, não havia reparado o quanto envelheceu esses anos, mas continua linda, seu rosto mais maduro e magro, mas lindo.
- Vamos fazer a inseminação, como o médico disse, é uma chance a mais.
Ela arregala os olhos, primeiro de espanto, depois de algo que não consigo decifrar, pânico?
- Não podemos Christian, não seria certo.
- Por quê?
- Já temos Steph nos ligando, mais um filho seria mais uma obrigação, tanto pra mim quanto pra você...- suspiro pesado e meu olhar se enfurece.
- Não acredito que você está falando isso! É a vida da nossa filha que está em jogo e você fica aí, querendo liberdade!- o olhar dela passa de pânico para decepção, tristeza, balança a cabeça em negativo.
- Não é isso, você não entende, não quero me tornar um peso para você, que se sinta obrigado a cuidar de mim, de nossos filhos.
- Eu sei o que você quer, o que quis anos atrás, liberdade para viver sua vida, para trabalhar, tudo bem, compro uma casa para você e nossos filhos, contrato uma babá, você vai poder viver sua vida, trabalhar e até se casar se quiser.- essas ultimas palavras cortam meu coração, tento controlar meu ciúmes, não consigo imaginar outro a possuindo, mas tenho que me desligar disso.- você disse que sofreu muito nesse ultimo ano, que reza para que cada dia não seja o ultimo, porra Ana, temos ainda uma chance de salvar nossa Princesa, vamos fazer isso dar certo, esquecer de nós e focar nela, nesse momento.
Ela suspira forte, solto seu rosto, quando percebo que ainda estou o segurando, escuto mais um suspiro.
- Como seria essa inseminação?- pergunta com a voz tremula.
- Temos que nos informar, acho que o médico de Steph poderá nos indicar alguém para nos colocar a par desse assunto e minha mãe também já havia comentado, acho que ela sabe algo a respeito.
- Sua mãe está com raiva de mim e com razão.
- Já falei que não é momento para pensarmos nisso e também, não nos interessa o porquê você fez aquilo, a vida era sua, você fez dela o que bem entendeu e mesmo eu, nunca vou querer saber o motivo que te levou a me deixar, isso pra mim está morto e enterrado.
Falo deixando transparecer em minha voz, todo o desgosto que esse assunto me traz, mas é assim mesmo, não quero saber de seus motivos, pois além de me fazer sofrer tudo de novo, ela não me interessa mais como mulher, apenas como mãe de minha filha e talvez de mais um filho e acabou.
Ana continua me encarando, sem piscar, talvez perplexa com o que falei.
- Vamos conversar com o médico.- fala parecendo decidida, respiro aliviado, sei que temos uma longa jornada pela frente, muita decisão a tomar, muita coisa a gerir, muita coisa a passar por cima, mas tudo é apenas para o bem único e exclusivo de minha filha.
Penso que terei que guardar dentro de mim, toda raiva, todo rancor, toda magoa que sinto por ela, pelo bem de minha filha, penso que o amor por um filho é isso, se anular pelo bem dele, pela vida dele.
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50 Tons- Sempre Fui Sua
Fanfiction"O tempo não apaga as marcas,alguma coisa dentro de nós as faz parar de doer, aos poucos nos acostumamos com a dor, em noites frias rostos estranhos perturbam e violentam nosso sono, sei que marcas são só marcas, mas as vezes a ferida se abre e não...