“Não Harry, não vi, desculpa.”
Senti o desgosto que percorria pelo corpo dele.
“Pode ser que agora esteja mais atenta... Como é que ele ou ela é?”
“Bem, é um rapaz. Chama-se Mark. Ele é um pouco mais baixo que eu, olhos castanhos claros, cabelo castanho escuro curto e um tatuagem no pescoço com uma cruz.”
“Eu não te vou mentir, porque não vejo mesmo ninguém à tua volta. Talvez ele já não esteja cá...”
“Ainda tinha alguma esperança de poder falar com ele novamente.” – Vi-o baixar a cabeça.
“Ele morreu como?” – A minha boca pronunciou estas palavras antes que eu as pudesse parar. Não queria de todo ter de perguntar aquilo. Deve ser difícil para ele falar disto.
“Ele tinha uma doença rara nos pulmões.”
Antes que eu pudesse falar ele adiantou-se a explicar-me o que ele tinha.
“Ele fumava muito e isso levou a que os seus histiócitos se multiplicassem descontroladamente. A doença era controlada, não era muito grave mas ele tinha de parar de fumar para que não progredisse. E ele não o conseguia fazer até que um dia quando estávamos na discoteca ele sentiu uma enorme falta de ar. Eu chamei a ambulância e contei-lhes sobre a doença. Mas…”
“Mas…” – Reparei agora na expressão que Harry fazia. “Podes chorar Harry, fazia-te bem.”
“Ele ficou estável com a ajuda dos paramédicos. Eu liguei à mãe dele e ela ficou muito aliviada. Depois de estar sozinho na sala de espera durante umas 2 horas, o médico veio falar comigo com um ar preocupado. Eu sabia que algo não estava bem! Foi quando ele me disse que o Mark tinha tido outra falta de ar e que se encontrava em coma. Horas mais tarde recebi a notícia de que ele tinha falecido. Eu não avisei a mãe, nem o pai dele e fui-me embora. Peguei no carro e dirigi sem destino. A mãe dele ligou-me às 02:00 da manhã a perguntar qual era o nome do hospital em que o filho estava. E eu disse-lhe que o filho dela tinha morrido… Foi a pior coisa que eu poderia ter feito, devia de ter ficado no hospital à espera da mãe dele e contar-lhe tudo depois com calma. Mas não consegui lidar com a dor que estava a sentir.” – Olhei para ele e repentinamente agarrei a cara dele com as minhas mãos e disse-lhe que ele não tinha culpa e que só reagiu assim com os nervos. Logo de seguida ele disse-me que o Mark tinha morrido à 1 ano.
Eu não podia ficar ali com ele, na praia, ao frio. Abracei-o com a minha maior força e disse-lhe que o ia ajudar.
“Eu não preciso de ajuda Violet! Eu preciso de saber como ele está.”
“Ele morreu sem te dizer que eras um grande amigo para ele. Tenho a certeza que ele te vai procurar mais tarde ou mais cedo. E quando ele estiver ao teu lado eu aviso-te.”
“Obrigado. Está a ficar tarde, vou levar-te a casa… Anda.” – O Harry simpático de há umas horas tornou-se num Harry rude, sem sentimentos. O que me magoou.
Quando chegamos em frente do portão de minha casa o Harry agradeceu a conversa e prosseguiu o seu caminho com a cabeça baixa.
Entrei em casa e ouvi alguém a descer as escadas. Era a minha mãe.
“Amanhã tens escola, não sei se sabes menina. Já viste as horas?”
“A culpa disto é tua! Agora estou à caça de um espírito por causa da tua boca grande.” – Fui aumentado o meu tom de voz. Mas estava realmente enervada com o que ela tinha feito.
“Eu não sabia que a intenção dele era fazer-te estar à procura de um espírito. Pensei que ele quisesse sair contigo como amigos.”
“Amigos mãe? Conheci-o hoje de manhã! Achas que somos amigos? Olha até amanhã.” – Virei costas e comecei a subir as escadas.
“Não vais a lado nenhum antes de me explicares essa história do espírito.”
“Não tenho de te contar nada. Tenho de me deitar, estou cansada e antes disso ainda tenho de preparar a mochila.” – Olhei para ela com um ar zangado e continuei a subir até que entrei no meu quarto.
**
Adormeci agarrada aos livros de Português. O despertador não tinha tocado e a minha mãe não me tinha acordado como costume. Estou a achar isto estranho.
“Mãe?” – Gritei para que ela me ouvisse.
“Estou na cozinha.”
“Não me acordas-te porquê?” – Disse enquanto entrava na cozinha com os meus pés descalços.
“Ontem chegas-te tarde, pensei que quisesses dormir mais um pouco.”
“Não vês que assim chego atrasada?” – Estava muito chateada, porque odiava chegar atrasada!
“Então desculpa e vai lá preparar-te. Já estou a tratar do pequeno-almoço.” – Ela sabia perfeitamente que eu só como uma peça de fruta de manhã, mas não liguei ao que ela tinha dito e fui para cima para tomar um banho.
Por cima da minha cama estava a roupa que eu ia usar naquele dia, como não gostava de coisas muito expostas nem extravagantes, decidi optar por cores mais suaves como quase sempre. Tinha uns jeans cinzentos claros, um pouco justos e uma camisa com tons rosa.
Durante o banho passei o shampoo, depois o amaciador e também como faço sempre todas as semanas passei a gilete pelas minhas pernas para não crescerem pequenos pelos. Limpei-me à toalha que tinha em cima do lavatório e sequei o cabelo.
**
Quando cheguei à escola vi o Harry encostado a um carro, devia ser o dele. Decidi ir ter com ele.
“Olá Harry!” – Dei um leve sorriso.
“Olá Violet, estás bem?”
“Bem estava melhor se não tivesse aulas.” – Ele soltou uma gargalhada, passou a mão no meu ombro e disse que tinha de ir andando despedindo-se.
Durante o dia todo não parava de pensar naquele rapaz que tinha sido bruto mas que depois se tinha aberto comigo. Depois só conseguia imaginar as covinhas bem definidas no rosto dele.
(Decidi pôr um capítulo maior, os próximos vão ser um pouco mais pequenos porque vou começar a estudar para os exames. Espero que estejam a gostar! <3)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Spirits || h.s
FanfictionViolet e Harry cruzam os seus caminhos num mundo diferente e cheio de emoções.