Capítulo 15

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A vontade para ir àquela festa é quase nula. Mas se ficar em casa vou pensar no Harry e na falta que ele me faz, vou ligar-lhe e não quero que ele pense que eu dependo dele.

Ainda não o vi hoje e isso está a dar-me cabo do sistema. Preciso que ele fale comigo, com aquela voz rouca que só ele tem.

"A pensar naquele rapaz giro?" - A voz meiga da Emily faz-se ouvir acabando com a minha linha de pensamento.

"Rapaz giro?" 

"Aquele que vinha ter contigo no ínicio do dia."

"Ah, não. Eu estava a pensar na... Na festa." - Sou tão má a mentir, tenho mesmo de treinar as minhas respostas.

"Eu posso ter cara de inocente mas sei que estás a mentir. Então diz lá, o que é que se passa com esse rapaz?" - Engasguei-me com a afirmação dela. O que é que é que eu poderia dizer? Que tenho uma irmã que faz de tudo para o espetar numa cama e o roubar de mim?

"É só que tenho saudades dele e quando pensei que estava tudo bem, aparece ela e aquele dom de sedução todo. Não é que ele seja meu, porque não é, de todo, mas eu quero que ela não meta nem um dedo em cima dele, que não olhe para ele."

"Ela? Ela quem?"

"Acontece que me caiu do céu uma irmã que eu nunca soube que existia." - Sim, dizer tudo em voz alta é realmente bom, embora não lhe possa contar tudo.

"Ela seduz o teu homem?" - A palavra teu fez o meu peito apertar e fiquei com a sensação que o tempo de ele ser mesmo meu estava a fugir de mim e que a oportunidade que já esteve bem perto do meu lado me estava agora a escapar por entre os dedos.

"Basicamente. Por muito que eu ache que o Harry não vai fazer nada, não sei... Ele é homem." - Tenho medo que isto seja mesmo verdade.

"Ah então é assim o nome dele. Eu não o conheço, mas acho que ele não era capaz de se enrolar com a tua irmã." - O cérebro dele juntamente com o coração podem pensar assim, mas há certamente uma parte do seu corpo que não quer saber se ela é minha irmã ou não.

"Tenho medo que não tenhas razão."

"Eu tenho sempre razão." - Ela ri e pisca-me o olho.

São 18:00h e ainda não sei o que vestir para a festa, talvez levasse vestido, ou então como está frio uns jeans e uma sweat. Estou em casa à uns 10 minutos e quero mesmo saber onde é que a víborazinha está.

A porta bate e é ela.

"À minha espera? Não sei se já te contei mas o Harry gosta de coisas demoradas." - As minhas orelhas fervem e olho para ela com os olhos bem abertos para que ela veja bem a minha fúria.

"Tem calma, ainda não chegamos a esse ponto." - Não me acredito que ela está mesmo a dizer isto.

Os meus olhos estavam agora em chamas e quando olhei para ela novamente, ela estava no chão agarrada à cabeça. Fui eu que fiz isto?

Claro que não estúpida. Tu vês espíritos, não tens poderes.

O meu subconsciente tem razão, e eu sei disso porque sinto a presença do Mark. Por muito certo que seja mandá-lo parar, ela merece todos os berros que está a dar.

"O que é que tu estás a fazer minha cabra?" - Cabra? Ela acabou de me chamar cabra? Corro até ela e baixo-me.

"Pede desculpa ou garanto-te que esta não vai ser a última vez." - Os olhos dela estavam agora carregados de água e os gritos eram mais sofridos.

"Desculpa, fodasse. O que é isto?" - Afastei-me dela e deixei o Mark continuar ao não pedir que parasse.

Entro no meu quarto e tranco-me nele. Estou tão farta desta miúda. Quero ligar ao Harry e perguntar se tudo o que ela disse é verdade, mas por um lado eu sei que é mentira e que ela só o disse para me provocar.

Spirits || h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora