Capítulo 8

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Não me conseguia concentrar no estudo, tenho teste amanhã e com esta história do Mark ter aparecido outra vez não conseguia fazer nem um exercício. Como eram 20:00h decidi ir ter com a minha mãe e perguntar se ela precisava de ajuda com o jantar.

“Precisas de ajuda mãe?” – Olhei para dentro da cozinha e ela estava sentada com as palmas das mãos a cobrir a cara. Aproximei-me e vi que ela estava a chorar.

“O que é que se passa mãe?”

Ela olhou para cima, estava com os olhos inchados de tanto chorar. Isso fez com que o meu corpo se enchesse de preocupação. Envolvi os meus braços em volta dela e depois peguei numa cadeira e sentei-me em frente a ela.

“O que se passa mãe?”

“É o teu pai Violet.” – O meu pai? O que é que tem o meu pai? A minha imaginação começava a trabalhar, já imaginava desde a coisa mais pequena à coisa mais grave que poderia ter acontecido.

“O meu pai? O que aconteceu para estares nesse estado? Ele foi embora outra vez?”

“Foi, ontem à noite voltou para Nova York. Mas não tem nada a ver com isso. Se não te importas falamos disto amanhã.”

“Ele não me avisou que já ia. Queres ajuda com o jantar? Falamos amanhã então.”

“O teu jantar está no forno, vou lá para cima deitar-me. Até amanhã filha.” – A minha mãe não estava nada bem, se não tinha nada a ver com a ida dele para Nova York, o que poderia ter sido? Ela levantou-se e deu-me um pequeno beijo na testa, acenando-me de seguida.

“Dorme bem.” – Despedi-me da minha mãe e fui aquecer o jantar.

**

Passou uma semana desde que o Harry e eu nos beijamos, estou deitada na cama a pensar como esta semana passou a correr. Não vejo o Mark desde segunda à noite, passaram 4 dias e nem um sinal dele. Não sei se isso é mau ou bom. Ele pode estar a fazer alguma coisa má, ou então pode ter desistido. Mas sempre que penso na hipótese de ele ter desistido ele aparece. E hoje não foi exceção.

“Estavas a pensar em mim?” – Lá estava ele, deitado ao meu lado, imitando-me, deitada na cama com as mãos atrás da cabeça e com as pernas cruzadas.

“Olá para ti também.” – Respondi o mais rude que consegui.

“Não te tenho visto com o Harry, aconteceu alguma coisa?”

“Não és tu que sabes tudo? Então, devias de saber o porquê de eu não falar com ele.”

“Eu não sei tudo, sou um espírito, não sou um vidente. Só sei aquilo que vejo.”

“Ele beijou-me porque estava bêbado e depois disse que me beijou sem ter intenções para o fazer.”

“Eu avisei-te, não avisei? Eu disse-te que ele não era quem tu pensavas que era. Tentei manter-te fora disto tudo, mas és teimosa.” – Ele estava a irritar-me. Porque é que as pessoas quando têm razão, fazem questão se nos esfregar isso na cara?

“Já sei quem ele é, obrigada. Podes ir agora.”

“Não vou embora, na verdade eu nunca fui, estive sempre aqui contigo.”

Assusta-me o facto de ele poder ver tudo o que eu faço, eu não fiz mal a ninguém para merecer isto. Mas bem que podia ser pior, ele é interessante, é rude mas interessante. Às vezes esqueço-me que ele é um espírito, parece tão real.

“Não respondes? Estás a pensar em quê?”

“Será que não consegues deixar-me sossegada um minuto? Tornasse cansativo.”

“Desculpa, é só que gosto quando falas comigo.”

“Ok.”

“Ouvi a tua mãe ao telefone com o teu pai.” – Ele ouviu a conversa. Ele sabe o que se passa.

“O que é que ouviste? Conta-me tudo.”

“Ouvi que ele tem outra mulher, mas isso não era de admirar visto que…” – Interrompi-o.

“Ele tem o quê?” – O meu pai com outra mulher? Como é que ele foi capaz? Ele vai para Nova York todas as semanas para estar com ela?

“Tem outra mulher, mas não fiques tão chocada, isto já dura uns 17 anos.”

“17 anos? Como é que isso é possível?”

“Sim, e pelos vistos tens uma irmã, já estive com ela, pelo que parece não tem o mesmo dom que tu.”

“Tu estives-te com ela? Eu tenho uma irmã? Ok, chega. Tu estás a mentir, não vou acreditar em nada do que estás a dizer, o meu pai não era capaz de fazer uma coisa dessas a mim e à minha mãe.”

“Então achas que a tua mãe estava a chorar sem razão nenhuma? Violet, por favor, és mais esperta do que isso.”

Ele tem razão, e faz tudo sentido, as idas para Nova York sem avisar, os telefonemas estranhos que chegavam a toda a hora. A forma como ele falava com a minha mãe. E todos os presentes que ele me dava, era tudo para disfarçar. Não consigo acreditar.

“Leva-me até ela Mark. Mark?” – Ele tinha desaparecido, eu já devia de adivinhar, desaparece sempre quando quero que ele fale comigo.

Esperei por ele uns 20 minutos, chamei-o e nada. Decidi dormir, e desliguei o despertador, amanhã como era sábado podia dormir.

Acordei por volta das 11:00h. Parecia que tinha sido atropelada por um grande camião, estava mais despenteada que o costume, com muitas olheiras e vermelha que nem um tomate. Para aliviar o stress fui tomar banho.

Vesti uma coisa confortável, uns shorts rosa, um top preto e calcei umas pantufas que usava para andar em casa. Fui ver televisão para a sala e não havia sinal da minha mãe, ela costumava fazer-me sempre o pequeno-almoço quando eu acordava e hoje não o fez, e nem sequer estava em casa.

Ouvi a porta bater e era ela, com um saco de pão fresco na mão e com óculos de sol na cara, tenho a certeza que os está a usar para tapar as olheiras na cara dela.

“Bom dia Violet. Tenho aqui pão fresco.”

“Bom dia mãe. Eu queria falar contigo sobre aquilo.”

“Agora não filha, acordei demasiado bem disposta para ter esse tipo de conversas agora.”

Era sempre a mesma coisa, será que ninguém consegue encarar os problemas? Deixam sempre tudo para depois. Será que não sabem que os problemas são como as bolas de neve? Quanto mais as deixarmos maiores eles ficam.

“Ok, falamos logo então. Vou sair.” – Decidi não contradizer a minha mãe, vou dar uma volta, apanhar ar puro nunca fez mal a ninguém.

Peguei nas chaves, calcei as minhas Vans e sai de casa.

Andei sempre, não tinha sítio por onde ir, e andei para onde os meus pés me levavam. Quando cheguei a um parque, sentei-me num barco de jardim.

Passados 10 minutos sentaram mesmo à minha frente um casal, estavam muito felizes e beijaram-se, um beijo idêntico ao meu e ao do Harry.

Porra, ele não me sai da cabeça, aquele idiota de cabelo castanho com cachos, olhos verdes, e rosados lábios carnudos. Por muito que eu tentasse não conseguia empurrar o nosso beijo para trás, bem para trás dos meus pensamentos.

 Para parar com os meus pensamentos sobre o rapaz que nunca mais me falou, o meu telemóvel vibra, era uma chamada.

Spirits || h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora