Molly acordou na manhã seguinte sentindo cheiro de bacon frito. Normalmente ela não iria se opor a sanduíche de bacon no café, mas ela estava ainda um pouco transtornada com os acontecimentos da noite anterior.
Ela tinha demorado para pegar no sono, revivendo de novo e de novo o momento que sua mãe disse 'sim, é ele'. Revivendo também o que escutou pelo walkie talkie embaixo da cama.
- Serviço de proteção real. – murmurou Molly, olhando para o teto.
A ideia que tinha de Scarlett sempre foi muito heroica, ela sempre olhou para sua mãe como seu grande exemplo. Algumas garotas querem ser a Mulher Maravilha ao crescer, mas Molly ficaria muito satisfeita se ela fosse metade do que Scarlett era.
Ela já tinha visto filmes sobre crianças que descobrem que seus pais são agentes secretos. Ela já tinha visto filmes sobre crianças serem agentes secretos. Mas Molly nunca pensou que se sentiria tão traída – e burra, mas aquilo era só detalhe – por ter ficado no escuro por tanto tempo.
Por que a vida não podia ser normal e sem graça para Molly Hammond? Por que sua mãe não podia ser uma dona de casa, por que ela não podia ter um pai que trabalha no escritório de contabilidade?
Não havia nada de errado com as vidas sem graça e clichês. Molly daria de tudo por um bom clichê naquele momento.
Precisando de um pouco de consolo, Molly esticou o braço e pegou a bíblia de sua vida: Anne de Green Gables.
Fechou os olhos, abriu em uma página avulsa e deslizou o indicador pela folha amarelada até parar aleatoriamente em uma frase.
-... de tempos Anne cresceu, esticando tão rápido que Marilla estava assustada um dia, quando ficaram lado a lado, e percebeu que a menina estava maior que ela.
Não funcionou, pensou Molly, fechando a bíblia de Green Gables outra vez e procurando alguma citação aleatória para consolá-la.
- É muito mais fácil se sentir bem quando se está bem vestida.
Molly refletiu sobre aquilo, fechando seu livro e dando uma olhada em seu guarda roupa.
Sua roupa mais chique era provavelmente o uniforme do internato, mas havia um vestido azul que caía muito bem nela e sua avó sempre dizia que ela devia usá-lo mais vezes. Decidiu levar o conselho de Anne a sério e até penteou os cabelos, prendendo-os com uma faixa de seda e escovou os dentes no anexo antes de sair do quarto.
Quando ela chegou a cozinha, seu sucrilhos estava sobre a mesa, uma garrafa de leite fresco e a tigelinha, mas não havia o menor sinal de bacon na frigideira. Marchou na direção da sala, onde William devorava seu sanduíche e ria de Friends.
Afinal de contas, era a única coisa que ele assistia?! Diabos!
- Obrigada por deixar bacon pra mim. – disse chateada, cruzando os braços.
- Sua mãe disse que é ritual começar a segunda-feira com sucrilhos. – William falou confuso e de boca cheia.
- Você não faz nada certo, William.
Ela empinou o nariz e saiu, indo para a cozinha e se servindo de sucrilhos com leite fresco. Enfiou duas colheres na boca de uma vez, mal-humorada que não tivessem pensado nela ao prepararem o café da manhã.
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WIN SOME, LOSE SOME
Любовные романыWilliam tem 16 anos, perdeu sua mãe há um ano em um acidente de carro, e é o futuro Rei da Grã-Bretanha. Molly tem 14 anos e tem uma vida ordinária na pacata Tetbury, uma cidade paroquial de Gloucestershire. Ninguém espera conhecer o amor de sua vid...