Sim Outro Bônus

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– Que viagem?

Ele perguntou.

– Como assim que viagem? Aquela que você vai fazer com seus amigos. Aquela que você não me falou.

Eu disse, tentando controlar minha raiva.

Ele coçou a cabeça, visivelmente tonto e então falou:

– É, eu ia te falar, mas eu sabia que você não ia concordar...

– Como assim, Allan? Desde quando você me esconde as coisas?

– Eu não queria esconder...meus pais deixaram e eu ia te contar...

– Então você decidiu viajar com seus amigos, com aquele lá que eu odeio e eu sou o último a saber?

Eu perguntei, olhando nos seus olhos.

– É... Eu sei que você não ia concordar, mas eu quero ir. Eu já não sou mais criança, Biel. Eu quero começar a viver a minha vida por mim, ter as minhas experiências.

Ele disse.

Eu olhei para ele, sem acreditar no que eu estava ouvindo. "Biel? Porque ele estava me chamando assim? "

– Isso quer dizer que o que eu penso não importa pra você? A gente tá namorando, Allan. Não é assim...

– Eu sei, mas eu quero ir. E eu vou.

Ele disse, autoritário.

Eu o olhei nos olhos e virei as costas.

Me sentia estranho, com uma falta de ar súbita.

Fui me encaminhando pra saída, respirando com dificuldade, até sair pelo portão e ganhar a rua. Continuei andando, sem rumo, só caminhando, até que cheguei até uma praça que tinha ali perto. Sentei embaixo de uma árvore e fiquei ali, pensativo.

Senti alguém se aproximar e sentar do meu lado. Olhei e vi o Guto.

– Posso?

Ele perguntou, antes de se acomodar ao meu lado.

Eu fiz um gesto de cabeça e ele se sentou ao meu lado. Ficou um tempo em silêncio e depois falou:

– É a viagem?

– Você já sabia?

Eu perguntei.

– Sim... Eu vi ele falando com meus tios.

– Ah... Eu não entendo. Ele não me falou nada. Não me perguntou sequer o que eu achava.

– Ele sabia que você não ia gostar...

– Não interessa, Guto. Poxa, tudo que eu faço, eu procuro falar pra ele, participa-lo de alguma maneira. Mesmo se eu não gostasse, ele devia ter me falado. E o pior, já está decidido.... Ele só me comunicou.

Eu disse, chateado.

– É, eu falei pra ele que deveria conversar com você...

– E ele vai com aquele garoto que agarra ele sempre que tem oportunidade. Que merda! Eu nem devia estar assim.... Devia me sentir maior do que tudo isso, mas porque eu não em sinto?

Eu perguntei, abaixando a cabeça e sentindo meus olhos encherem de água.

– Ei, não fica assim. Você conversa com ele depois e vocês se acertam. Biel, por favor, não fica assim, que eu não aguento. Olha pra você...

– O que tem?

-Não merece...Você é tão...Tão... Olha, ele tá alterado, mas ele te ama. Conversem amanhã.

Ele disse, passando a mão pelo meu rosto. Eu desviei do carinho.

– Pode ser... Eu to tão chateado. É como seu eu não reconhecesse ele... Não sei. Até elogiar outro homem na minha cara, ele fez. E aquele imbecil que não larga dele...

Eu disse, esfregando o rosto entre as mãos.

– Eu, sei. Foda. Mas olha, hoje é niver dele e amanhã, quem sabe ele vai estar de boa de novo. Olha pra mim.

Ele pediu.

Eu levantei meus olhos e o olhei.

Ele me olhava, com os olhos fixos em mim e por um momento eu me deixei a olhar os olhos dele também.

– O que você quer fazer agora?

– Como assim?

-Sei lá, qualquer coisa que te faça se sentir melhor...

Ele disse, me olhando.

– Eu acho que eu quero ir embora. Acho que você tem razão...Amanhã, quando ele tiver sóbrio, a gente conversa e quem sabe... Só que essa viagem não me passa...Não dá...

– Calma, Biel. Conversem. Eu tenho certeza que vocês vão se acertar.

– Pode ser...

Eu disse, me levantando, vendo-o se levantar em seguida.

Voltamos para a frente da casa e ele entrou para chamar a Leticia.

Estava esperando, encostado no carro, quando o Allan saiu, trôpego com o tal Murilo a tira colo. Eles riam e se acariciavam, numa brincadeira que poderia parecer inocente para muitos, mas não para mim. Eu olhei para ele e ele me olhou, mas ignorou. A Letícia saiu em seguida, indo ao meu encontro.

– Onde você tava?

– Vamos embora, agora.

Eu disse, já circulando o carro e entrando no veículo.

Ela entrou e me olhou. Não dissemos nada até que andássemos alguns metros.

– Posso dormir com você essa noite, então?

Ela perguntou, preocupada.

– Pode...

Eu disse, sem muita vontade.

Chegamos em casa, nos deitamos e ela até tentou me fazer falar, mas eu não queria. Tava engasgado, entalado. Ela acabou dormindo, mas eu não. Eu não sei quando o sono finalmente me venceu, mas lembro de ter visto o sol se firmar no céu antes que eu adormecesse.

Ah... O amor. (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora