Capítulo 6

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Tinham-se passado duas semanas, precisamente duas semanas que tinha tido o seu ultimo encontro com a Rafael na sua sala e agora ali estava ela, a jantar com o Pedro novamente. Depois da enorme discussão que teve com o Rafael, Julia não tinha vontade nenhuma de ir jantar mas obrigou-se a ir, não podia permitir que aquele homem presunçoso lhe estragasse a oportunidade de conhecer o Pedro melhor, ele parecia ser uma pessoa muito interessante. Por isso tinha levantado do chão, tinha vestido o seu melhor vestido e tinha ido ao jantar com um sorriso no rosto. 

E hoje era a segunda vez que estavam a jantar, e não se arrependia nem um pouco de estar com ele, apenas a escolha do restaurante não tinha sido a mais feliz, pois pela porta de entrada tinha acabado de entrar o Rafael com uma loira a tira-colo. 

Mal entrou ele olhou logo na direcção dela, como se conseguisse sentir a sua presença, ela tentava convencer-se que tinha olhado para a porta porque a mesma estava da direcção do seu olhar e não porque sentiu o momento em que ele passou por ela. Rafael olhou para ela durante um tempo, parado na entrada do restaurante, depois olhou para o Pedro e foi visível a forma como apertou o maxilar mas recompôs-se e segurando a Loira pela cintura dirigiu-se para o outro lado da sala e Julia respirou fundo, aliviada.

- Está tudo bem? - Pedro pergunta 

- Sim, tudo óptimo. Mas conta-me como correu a viagem? - Pedro tinha ido viajar a trabalho e só tinha voltado ontem por isso o segundo encontro dele estava a acontecer hoje. Eles tinham-se dado muito bem logo no primeiro encontro e Pedro deixou bem claro que queria continuar a vê-la.

- Correu tudo bem, consegui vender o nosso software a uma grande distribuidora, vamos ganhar milhões com este negócio. - Diz orgulhoso.

- Fico muito feliz por ti. - Julia sorri.

- Vamos dançar? - Pedro pergunta quando terminam de comer.

- Vamos. - Julia responde, ele paga-lhe na mão e dirigem-se para a pista de dança que ficava num canto da sala.

A musica era lenta, convidando os casais a dançarem mais juntos.

- Estava com saudades de sentir-te nos meus braços. - Pedro diz olhando nos olhos de Julia e ela sorri, deita a cabeça no peito dele e fecha os olhos. Gostava de estar com ele, sentia-se apreciada quase venerada e qualquer mulher gostava de se sentir assim.

De repente Julia sente um tremor percorrer-lhe o corpo e quando abre os olhos vê-o sentado no bar junto à pista de dança, ele está sozinho já não há sinal da Loira e olha-a com uma intensidade que a deixa sem forças nas pernas. Ela desvia o olhar e tenta aproveitar a dança com o Pedro, não pode permitir que o Rafael estrague este momento com o Pedro. Fecha os olhos mas mesmo assim continua a sentir os olhos dele sobre si e sente-se frustrada.

- Desculpa Pedro, eu tenho de ir à casa de banho. - Julia diz um pouco incomodada.

- Tudo bem, eu espero-te na mesa para comermos a sobremesa.

- Se não te importares, preferia passar já para o café.

- Sim, tudo bem. - Pedro olha-a curioso mas não faz qualquer comentário. - Vou pedir os cafés então.

Julia dirige-se rápido para a casa de banho, entra mas quando vai fechar a porta alguém entra atrás dela e tranca a porta.

- O que pensas que estás a fazer? -Julia pergunta-lhe nervosa, encostando-se no lavatório.

Ele fica um momento a olhar para ela, muito sério, os olhos verdes fixos nos seus. Depois avança para ela, segura-lhe o rosto entre as mãos e beija-a desesperado, os lábios dele pressionam os dela como se quisesse sugar-lhe a alma por eles. Julia pressiona os punhos no peito dele, tentando libertar-se mas ele morde-lhe o lábio inferior, fazendo-a gemer e aproveita esse momento para introduzir a língua na boca dela, ele explora a boca dela de forma alucinante, com desespero e ela sente a vontade ceder e enrosca os dedos nos cabelos dele. Ele sente a rendição dela e intensifica o beijo, percorre-lhe o corpo com as mãos, aperta-lhe a cintura, e puxa-a para si para que ela possa sentir a sua erecção, ele está louco por ela e precisa que ela perceba isso.

Quando Julia pensa que vai perder os sentidos por falta de oxigénio, ele separa as suas bocas mas permanece junto dela com a testa encostada na dela.

- Rafael sai daqui. Deixa-me em paz por favor. - Julia pede quando recupera um pouco das forças.

- Não me mandes embora novamente Julia. - Ele pede apertando-a mais contra si, roçando-se nela. - Eu preciso de ti na minha cama com urgência ou vou enlouquecer.

Julia quase que cedeu ao encanto dele, quase. Mas quando ele disse a ultima frase ela sentiu uma dor enorme no peito, ele só a queria na cama, era só isso.  Com raiva ela empurra-o com todas as suas forças e solta-se.

- Tenho certeza que a Loira com quem estavas pode resolver o teu problema Rafael. -Julia diz ácida.

- Eu mandei-a embora. É a ti que eu quero... - Ele tenta aproximar-se mas ela abre a porta rápido e sai.

- Podemos ir embora por favor? - Julia pergunta assim que chega à mesa sem se sentar.

- Claro que sim. - Pedro percebe que algo a incomoda e não faz mais perguntas apenas pede a conta, paga e leva-a embora.

- Posso saber o que aconteceu? - Pedro pergunta já no carro no caminho de casa.

- Acho que algo me fez mal no jantar, estou muito indisposta. Desculpa. - Julia sorri para ele, sentia-se mal por lhe mentir e por permitir que o Rafael lhes estragasse a noite.

- Tudo bem. Queres que te leve ao médico? - Pergunta preocupado.

- Não, quando chegar a casa tomo um chá para ajudar na digestão e devo ficar bem.

Quando chegam, ele acompanha-a até à porta do apartamento.

- Amanhã ligo-te para saber como estás, gostava que almoçasses comigo. - Pedro diz fazendo-lhe um carinho na face.

- Liga-me de manhã para combinarmos. - Julia gosta do toque dele e não se afasta e ele aproveita e deposita um beijo leve nos seus lábios.

- Boa noite Julia. - Ele diz separando-se dela.

- Boa noite Pedro. - Julia responde antes de entrar e fechar a porta. 

Dois beijos numa noite, um beijo avassalador que quase a tinha levado a cometer a loucura de se entregar ao Rafael, e outro que era doce e carinhoso mas que não mexia com ela. Porque não podia sentir borboletas no estômago quando estava com o Pedro que era o homem certo para ela, porque tinha de sentir tudo isso com o Rafael que não prestava e apenas a queria levar para a cama. A vida estava a ser muito injusta com ela.

Parou na porta do quarto da amiga e bateu:

- Inês? - Chamou 

- Sim? - A amiga respondeu com voz de sono 

- Estás sozinha? 

- Sim Julia. Podes entrar. 

A Inês estava oficialmente a namorar com o Ricardo e Julia estava feliz por eles. Mas agora tinha de bater na porta antes de entrar no quarto da amiga, por vezes o Ricardo ficava lá de noite.

- Olá. - Ela diz entrando no quarto. - Posso ficar aqui contigo hoje?

- Claro amiga. - Inês abre a cama para ela poder deitar-se, sabia que algo se passava com a amiga, ela só pedia para dormir com ela quando estava mal e isso já não acontecia desde que tinha perdido os pais. 

Julia tira o vestido e deita-se. 

- Queres conversar? - Inês pergunta.

- Falamos amanhã, hoje não. - Julia diz baixinho 

- Tudo bem. - Inês beija-lhe a testa. - Dorme bem.

Mas Julia já não lhe respondeu, já tinha adormecido. Era sempre assim quando ela se sentia perdida, dormia, era a sua forma de se afastar dos problemas.

Prisioneiros  (Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora