Fitas e Sangue

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Eu não pude nem ao menos ter tempo para pensar se deixaria Anthony fica ou não, quando me dei conta, Guilherme o puxava pelo braço com um sorriso ensaiadamente amistoso. O mesmo, pegou as sacolas de Anthony e despejou na bancada, me olhou por um segundo e desviou, eu estava imóvel parada no batente da porta do quarto. 

Anthony estava mudado, não tinha mais os olhos fundos e agora trocou a jaqueta de couro por um terno preto. Seu cabelo estava escorrido no gel e carregava um crucifixo no peito, se eu parasse para analisar mais com certeza acharia a bíblia.

-Bom, senta-se e se sinta em casa - diz Guilherme.

-To achando você tão suspeito - desconfia Anthony pegando o copo de cerveja que Guilherme insistia em oferecer. - Como se as coisas estivessem mudando tão rápido.

-Aprendemos com Jesus - devolve Guilherme.

Os dois se olham por um tempo e logo param, em sincronia. Maggie, Pedro, Suzane, Christian e Roberto continuavam pondo enfeites até onde não dava mais, perceberam todos o clima tenso que ficou e se entreolhavam. Anthony estava com medo de todos os passos de Guilherme, e eu também.

-Qual foi gente? Cadê o clima natalino? - pergunta Christian colocando um gorro. - Eu acho que deveríamos cuidar dos pinhos na natureza, enfeitar praças públicas, alimentar passarinhos...

-Você por acaso é tem alguma doença?

-É para celebrar o nascimento do menino Jesus...

-Christian, cala a boca que você é ateu. Onde quer chegar com isso? - pergunta Maggie.

-Ok. O meu sonho é ter uma cidade decorada, como aquelas de filmes - ele diz esperançoso.

Todo mundo encara Christian como se ele fosse um E.T.

-Gente...

-Não - dizemos em uníssono.

-Não quero ser presa por agredir o patrimônio público.

-Presa? Maggie, a gente manda muito na decoração...

Voltamos a olhar para ele.

-Dessa vez até eu discorco - diz Anthony. - Parece que entrei de cabeça em um pacote de purpurina. Quantos gays morreram aqui?

-Caralho cara, que tipo de piada é essa? - pergunta Christian irritado.

Pronto Christian, mate-o assim poupa meu trabalho.

-Eu sou bi.

-Ah, então você pode - ele diz rindo voltando a enfeitar minha janela.

Ótimo, os dois de amizade...

-Oque está pensando, Alexia? - pergunta Maggie me assustando, ela me encarava curiosa com uma garrafa de Ice na mão. - Está tão quieta.

Guilherme me olha de canto de olho enquanto conversava com Anthony no sofá, eu olhava para os dois.

-Eu estou pensando se o Anthony fica bom ao molho branco - digo sem pensar.

Todos se viram para mim.

-Estou brinco - sorrio.

-Eu sou bom até cru - ele devolve brincando.

Mal sabia, Anthony.

Pro natal ele ficaria lindo ensanguentado com fitas douradas.

***

Poderia dizer que quase bebi o engradado todo sozinha de cerveja, e não, não estava bêbada. Oque me deixava com mais raiva. Pra ser sincera, eu estava gostando de Anthony, ele tinha se tornado ainda mais direito que eu e Guilherme junto.

Alexia, Guilherme E As Segundas OpçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora