Big-Bang

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Talvez não, posso estar confundindo com carência. Ainda é muito cedo para dizer que gosto dele, não é?

Abro a carta e vi sua letra, que era horrível.

"Alexia, desculpa por ter quebrado sua ampulheta, e desculpa por ter atrapalhado sua vida... Enfim, acho que entendeu. Mas como virou uma grande amiga, aqui está meu número e onde moro, caso queira manter contato. Beijos do seu maquinista (essa foi péssima, mas não tenho borracha pra apagar). Obs: É o Guilherme, caso tenha esquecido, sei lá né"

-Oque está escrito? - pergunta Magie colocando uma batata na boca.

-Desculpa por quebrar sua ampulheta.

-Só isso?

-Só - minto.

Ela e o interno, Marcos, se levantam e os dois seguem por todo o refeitório agarradinhos, me deixando sozinha na mesa. Tinha finalmente o número do Guilherme, depois de uma semana achando que ele tinha sumido do mapa. Queria tanto estar aqui quando ele veio trazer essa ampulheta.

Levanto rápido da mesa e sigo pelo corredor. Eu participaria de uma cirurgia hoje e depois iríamos para o centro psiquiátrico, não sei oque iríamos fazer lá. Faltava apenas duas semanas para as provas, meus nervos estavam a flor da pele para tudo. Tinha exercícios que não estavam me ajudando, tinha pacientes difíceis que me faziam querer gritar e também tinha os concorrentes que estavam ótimos.

Meu rádio bipa e vejo que precisavam de um interno na sala de cirurgia da ala em que estou. Rezo para alguém aceitar primeiro, mas bipou cinco vezes e apertei o verde.

Para você pode parecer incrível entrar em uma sala de cirurgia, como é mostrado na televisão. Mas não é. Tudo bem, é legal quando você é quem está operando. Mas como interna, eu apenas passo os objetos, anoto tudo e dou palpites que logo em seguida são descartados.

Subo pelo elevador para seguir para a tal sala.

***

Mantive minha cabeça ocupada durante o dia todo, ainda não sei lidar com mortes. O paciente da nossa mesa morreu, e quem teve que dar a notícia para os familiares fui eu. A senhora me abraçou e eu só pensei que meu mundo ia desabar, é a primeira vez que vejo uma cirurgia dando errado comigo nela.

-É normal Alexia - dizia Cristian na parte de trás do carro de Maggie. - Quando aconteceu comigo, eu apenas respirei e fui para outro caso.

-Não somos a mesma pessoa.

-Eu sei, se eu fosse sentimental assim...

-Cristian! - gritou Maggie nos fazendo rir.

-Sei que sou sentimental, ok? - me defendi bebendo meu refrigerante e engolindo as batatas do fast-food que fomos. - Isso me torna um humano melhor...

-Não mesmo - brinca Maggie. - Afinal, você...

-Cala a boca.

O carro faz um silêncio até Cristian, que ainda ria alto jogado no banco de trás, percebesse que estávamos guardando um segredo.

-Me contem! - ele disse se levantando e colocando o rosto perto do meu. - Por favor, não conto pra ninguém.

-Sai, Cristian.

Alexia, Guilherme E As Segundas OpçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora