Respira.
Caminha.
Respira.
-No próximo corredor - escutei a voz distante de Christian atrás de mim.
Solto a mão de Maggie.
Respira.
-Naquela sala - ele diz novamente.
Paramos.
De frente para a porta onde Guilherme estava. Eu o encontraria, depois de dias. Aqueles olhos, aquele cabelo, tudo oque eu sentia falta, com um simples girar de maçaneta, iria matar aquela saudade.
-Está pronta? - pergunta Maggie.
Não era capaz de responder.
Minha boca estava seca e minhas mãos tremiam, dentro do meu peito tinha um sentimento estranho. Eu passei da paixão, eu estava amando Guilherme, amando um desconhecido. Hoje descobri. Sem ainda girar a maçaneta.
Enquanto meus olhos formavam lágrimas. Quando as borboletas voavam histericamente em meu estômago. Quando todos os meus sonhos pareceram ganhar ele ao lado. Com a mão na maçaneta eu descobri que o amo.
Giro.
E quando abro...
-Vazia? - pergunta Maggie atrás de mim. - Mas não falaram que ele...
-Disseram que ele estava louco e gritando, aqui nessa sala - explica Christian.
Olho para os lençóis bagunçados da cama. Para chinelos hospitalares no chão. Algumas seringas na cômoda. Olho para todos os cantos possíveis da sala, ele não estava lá.
-Alexia...
-Cadê ele? - pergunto para o silêncio do quarto.
Sinto uma vontade de gritar e revirar tudo. Ando pelo quarto completamente inútil. Guilherme não estava nas gavetas que abri e nem debaixo das almofadas que joguei no chão, o sentimento de raiva e desespero me tomou por completo.
-Cadê ele Maggie?
-Alexia... Vamos...
Olho para ela.
Ela sabe.
Ela sabe onde ele foi parar.
-Não - digo em negativa aquele pensamento. - Ele não está morto.
-Christian e eu... Nos enganamos...
-ELE NÃO MORREU!
Maggie me abraça e tento me desvencilhar do abraço dela, mas ela é totalmente mais forte. Juntas, caídas no chão, choramos.
-Vocês...
-VAI EMBORA VOCÊS DOIS! - grita Maggie para os rapazes que fecham a porta e nos esperam do lado de fora.
O abraço dela era como de uma irmã.
Choramos por tudo.
Pela vaga de residente, pelo filho dela morto, pelo tiro que tomei... Por nossas vidas mudarem tanto de uma hora para a outra. Eu sentia o coração de Maggie bater forte contra meu ouvido, sentia o peso que ela deveria estar segurando, o medo de Marcos e o medo de perder sua amiga para um assassino.
Onde foi parar aquelas garotas que se juntaram no programa de interno e estavam decididas a fazer de tudo para serem médicas? Nossos corpos não estão dispostos a mudanças drásticas, mas como elas acontecem, devemos tomar as rédeas e nos adaptar.
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Alexia, Guilherme E As Segundas Opções
RomanceAlexia é a interna do centro médico de sua cidade, com apenas 22 anos ela se mostra promissora no ramo. Após um acidente de trem que deixou toda a cidade mobilizada, Alexia precisa cuidar do seu mais novo paciente, Guilherme, um garoto que diz que o...