Marte

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Tudo oque foi visto, foi uma grande e complicada história de amor e amizade. Eu sei que você esperava por algo mais... Digamos, light, certo? Ou então algo mais convencional. Bom, eu juro pra você que queria que fosse. Pessoas mortas, tiroteio, acidentes, segredos, mentiras... Isso não constitui um romance, certo? Bem, vejamos, eu acho que estamos errado.

Oque constitui um romance, é o amor. E somente isso.

Eu amei, fui amada, e acho que tive minha história de amor. Não como nos filmes em que eu gosto do meu vizinho, ou nos livros de contos que espero por meu príncipe. 

Foi preciso um trem tombar sobre a avenida principal, fugir de um hospital com a certeza de que o paciente, meu futuro marido, poderia me dar a certeza de uma história melhor. Impulso? Com certeza, mas oque seria da vida sem momentos de coragem? 

No momento em que penso, olho para um teto branco, entubada, com faixas e tudo mais. Se passou tempos desde que tudo aconteceu. Eu lhe conto esta história, podendo dar meus últimos suspiros. 

Faz uns sete meses desde que realizei o parto de Maggie sozinha dentro de uma ambulância. Sua filha, Eduarda, nasceu, linda como a mãe, os mesmos cabelos ruivos. E com o passar desse tempo, Maggie reencontrou Marcos. Bom, só o tempo dirá oque irá sair dali, deixo em aberto para vocês deduzirem.

Já Christian, continua com seu namorado, e pensa em adotar um cachorro, eles querem ter uma experiência de cuidados antes de um filho. Torço pelos dois, meu medo é não viver para ver isso.

Os demais estão bem, o hospital continua o maior da cidade.

E eu...

Bem...

Você pode estar se perguntando. 

Por qual motivo Alexia esta quase morrendo em uma maca de hospital? 

Lhe explico tudo agora.

Na gestação de meu filho (sim, é um menino). Sofri um acidente grave, um motorista desgovernado invadiu a calçada e me fez rodar em duas voltas completas e descer uma ribanceira de terra. Quando me dei conta, eu já estava aqui.

A vida é previsível.

Todo mundo sabe disso.

Aconteceu comigo uma história, e agora eu tenho risco de morrer antes mesmo de chegar aos trinta. 

Os olhos de Guilherme na visita sempre me deixaram com o coração na mão, mas eu mal conseguia falar, até duas semanas atrás. Quando olhei pra ele e disse que possivelmente eu não iria aguentar. Mas mal sabia eu que, pronunciando apenas "Não vou aguentar", demonstrava que eu estava melhorando.

Agora, depois de quase um tempo do acidente, temos um problema. A criança precisa sair. E não sabemos se meu corpo irá aguentar. Não sabemos se morrerei no parto. Aconteça oque acontecer, pedi para que deixem a criança viver. Guilherme relutou, disse que podíamos tentar outros, mas eu não queria.

Meus amigos vieram me visitar todas as vezes, mas nessa semana em especial, quase não saíam daqui. Inventando pretextos de que não tem nada para fazer no hospital, por mais que eu saiba que possivelmente receberam folga extensiva e vestiam jaleco apenas para me enganar que continuavam trabalhando.

Guilherme e minha mãe apareceram por volta da tarde.

Ela chorou mais uma vez, me prometeu que tudo iria ficar bem, ela não sabia, nem eu. Mas promessas só servem para duas coisas: serem quebradas e o fazer seguro. 

Quando minha mãe chorou na despedida, Guilherme finalmente veio ao meu lado e se sentou, segurou minha mão e deu  um sorriso sem graça.

-Você está horrível - ele diz rindo.

Alexia, Guilherme E As Segundas OpçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora