Adoramos Destruir Vidas

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Quando saímos do terraço, Guilherme não dormiu lá em casa. Combinamos assim, ele iria aparecer agora só nos finais de semana e quando eu saísse cedo. 

Temos que resolver nossas vidas.

Eu virei a noite conversando com Maggie sobre todos os assuntos que foram ditos, e agora de manhã me arrumando para ir ao hospital, eu me arrependo de não ter dormido. 

Ela fazia torradas na cozinha, tínhamos acordado duas horas antecipadas justamente para tomar café. Enquanto isso, eu preparei o suco e fritei ovos. Quando nos encontramos na sala com tudo pronto, devoramos todo o café da manhã, falando sobre os pacientes de hoje entre mordidas e engolidas. 

Quando terminamos de comer, colocamos o jaleco e pegamos o material,levando a mochila. Hoje ficaríamos de plantão, cuidado de alas de ferimentos e no final da noite teríamos a prova para finalmente ficarmos como residentes. Agora me pergunta se estudei? Não.

-Vamos, Alexia - diz Maggie apressada. 

Ela passava a mão na barriga toda hora, tinha crescido ainda mais e seu desejo que aquela criança saísse era maior ainda. 

Atravessamos a porta e pegamos um táxi, nossas cabeças estavam estressadas o suficiente para pegar ônibus. E os taxistas, percebendo nossa pressa, sempre pegam atalhos e avançam sinais para chegarmos mais rápido.

Saímos do carro e entramos pela ala norte do hospital. Entramos no elevador e subimos para o centro, onde seria a reunião de Michelle com os internos.

Maggie relia apressada um livro de medicina e eu apenas olhava os horários no celular. Meio dia - Comer. Duas horas - entrar na cirurgia de Herman. Oito horas - ajudar as pessoas do pronto socorro. - Onze horas - a prova.

O elevador se abre e graças aos céus fomos as primeiras a chegar na sala de reunião, Michelle estava sentada olhando as papeladas e nem sequer nos olhou quando sentamos de frente pra ela. Aos poucos outros internos foram chegando e se sentando, passado uns trinta minutos a sala estava lotada. Maggie fechou o livro e guardou na mochila.

-Bom - diz Michelle fechando a pasta. - Enquanto vocês estavam para chegar eu fui vendo a ficha de cada um de vocês, oque fizeram durante o hospital e alguns de vocês ganharam pontos por melhorias. Já outros, vão precisar se esforçar.

Sussurros começam atrás de mim, ninguém sabia do método dos pontos.

-Alexandre Henrique - ela diz. - Você foi o melhor residente e já tem três pontos contados.

TRÊS PONTOS?!

Eu quis gritar. Ele só precisava de mais quatro para chegar em sete, que era a média da prova. Era quase passar sem esforço.

-João  Vitório - o interno de cabelo cinza e óculos de fundo de garrafa. - Você foi o segundo melhor, tendo dois pontos. O resto ganharam um. Menos duas internas.

Pronto.

-Alexia e Maria - anuncia Michelle nos encarando. - E vocês sabem o porquê.

O acidente, óbvio que todos sabiam.

-Vão precisar se esforçar para ficar aqui.

***

A reunião acabou depois de Michelle durante vinte minutos falar que a prova era exatamente tudo que praticamos nesses  nove meses aqui dentro. Eu só queria passar e que chegasse o natal e ano novo. Eu precisava ter folga disso tudo, se é que o hospital daria.

Maggie reclamava que não podia ficar desempregada com um filho e eu a confortava dizendo que seu marido era um dos melhores médicos dentro do hospital.

Alexia, Guilherme E As Segundas OpçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora