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Se passaram dois dias desde que o tiro aconteceu. Eu tinha ainda algumas dificuldades para andar, minha enfermeira ainda insistia que era uma espécie de dor psicológica, pois eu estava bem. Só sei que sempre que tentava me mover, era como se alguém pressionasse um ferro no meu estômago.

Hoje quando acordei, descobri que Pedro tinha ido fazer sua cirurgia, talvez a última. Estava com sangue na cabeça desde seu acidente misterioso, e mesmo eu evitando de falar para ele, era imprescindível, Pedro estava tendo lapsos de memória preocupantes. 

Ele me ajudou nesses quatro dias que fiquei aqui, roubando sobremesas extras na cozinha. Trouxe alguns presentes da ala infantil, como carrinhos e ursos. E conseguiu que Christian e Maggie pudessem me visitar de noite. Viramos super amigos nesse pouco tempo, e tenho um receio enorme de algo acontecer com ele.

A ala da enfermaria agora tinha uma grávida que foi esfaqueada pelo marido, o bebê morreu e ela desde então não comia, bebia e não falava. Seus olhos estavam perdidos em um ponto fixo do lado de sua cama onde ela nem ao menos se virava. Seu corpo era abastecido com soro e seus curativos trocados a noite.

Eu lembrava de Maggie, e Marcos, como ela evitava esse assunto. No fundo, sabia que tinha tido um reconciliamento. Talvez eles não tenham voltado, mas eu sentia que ela o perdoou, e também talvez, Marcos falava a verdade, será que foi proposital?

Ainda tinha Guilherme, ninguém me contava nem metade do que acontecia a cinco andares acima de mim. Não trouxeram ele para enfermaria por motivos óbvios, então achava que ele estava num quarto da ala psiquiatra. 

Uma pessoa abre as cortinas em volta da minha cama me despertando dos pensamentos.

-Oi - diz Marcos.

-Como entrou aqui? - pergunto.

-Pela frente.

-Com qual permissão?

Eu sabia a resposta. Ele tira sua carteira do bolso.

-Sou residente agora - ele diz se sentando na cama. - To aqui pra te pedir desculpas, pelos problemas que causei.

Continuo em silêncio olhando para a televisão que passava um desenho sobre trânsito.

-Eu e Maria conversamos e... Nos resolvemos.

-Ela voltou para você?

-Não!

-Que bom, ela não é louca - digo olhando para ele que abaixa a cabeça envergonhado.

O meu problema com Marcos foi deixar Maggie sangrando no chão sozinha, e ter ido fazer uma prova estúpida.

-Você tem alguma notícia de Guilherme? - pergunto.

-Não. Nem sei o quarto onde ele está. Lá fora tá um caos Alexia, a imprensa está querendo saber onde está o assassino e também descobriu que Guilherme foi que virou o trem. Tão culpando ele, falando coisas de karma.

-Talvez seja o karma mesmo - resmungo. - Pode sair daqui? Quero ficar sozinha.

-Tudo bem - ele diz se levantando e saindo, coloca uma caixa de bombom na minha cama e fecha as cortinas.

Quando Marcos bate a porta da enfermaria eu choro, e como ao mesmo tempo. Engolindo quase os chocolates inteiro. 

Não tinha notícias de Guilherme quatro dias acordada e um dia dormindo. Ou seja, fazia exatamente cinco dias que eu não sabia como ele estava e nem se pode estar morto. Mordo o travesseiro e começo a gritar. 

Queria correr dali, e agora essa notícia de que a imprensa esperava nós dois fora do hospital me dava ainda mais medo de aparecer na rua. E Anthony estava lá fora. 

Alexia, Guilherme E As Segundas OpçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora