capítulo 17 ( penúltimo)

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10 meses depois

O mês de dezembro é marcado com o parque novo que chegou na cidade. Estamos descendo na montanha russa quando meu celular começa a tocar.

- oi mãe? - eu falo fazendo um tempo com as mãos pra o Truckker, ele entende meu sinal e paramos.

- vocês estão aonde? - ela pergunta meio baixo ou é o barulho que faz que impede a voz dela de sair normal.

- estamos pertos dos brinquedos. Acabamos de sair da montanha russa

- sei... Então, eu e o Robert estamos indo pra casa vocês vem ou vão ficar mais um pouco? - ela pergunta.

- calma aí - nessa hora olho pro Truckker e tiro o celular do ouvido.

- minha mãe já está indo - ele assenti- e aí você que ir embora ou ficar mais um pouco?

- vamos também conheço uma lanchonete ótima.

- ta certo.

Ponho o telefone de volta no ouvido.

- mãe?

- oi filho

- vamos ficar mais um pouco. Truckker vai me levar pra casa mais tarde.

- ta bom sem problemas. Filho?

- oi mãe

- Eu te amo

- eu sei . E eu desligo o telefone. Bufo por um momento e meus olhos se focam em uma família que estar perto do carrinho de algodão doce, capito um pai sorrindo pro filho pequeno, deve ter no mínimo cinco anos. O filho retribuiu o sorriso e eu sinto raiva.

- o que houve Alan?

Me viro pra ele e toco seu braço.

- vamos tô morrendo de fome. - digo disfarçando com um sorriso.

Para um sábado a lanchonete está meio vazia acho que é por conta do parque. Havia apenas alguns casais, que assim como nós queria um pouco de privacidade.

Truckker senta na minha frente e uma atendente morena e frustada nos atende. Peço apenas um pequeno hambúrguer com uma porção de batata e Truckker faz o mesmo pedido que eu, ele sorri pra mim e retribuo.

- o que aconteceu lá no parque?

Faço cara de confusão

- não tô entendendo.

- não finja Alan, você é bom nisso mas nem tanto. Eu vi aquele casal lá e você os observando.

- é.. que - meus olhos enchem d'água. Você já sentiu inveja de uma criança. Eu senti Truckker, eu estava desejando que alguém sorrisse desse jeito pra mim. É, errado querer isso? Querer te um pai

O vazio ganha espaço por alguns segundos,e Truckker deixa a boca um pouco aberta. Nossos pedidos chegam e disfarcamos o constrangimento.

- eu sei como é, Querer aquilo que não Podemos ter. Mas as vezes precisamos seguir, mesmo sabendo que é a pessoa que mais amamos que estamos deixando para trás.

- você andou dando conselhos pro Peter e pra Júlia?

Rimos

- não, não haha - falar neles tem notícias?

- novas não tenho. Só recebi uma ligação de chamada no começo de dezembro e, antes que  pergunte eles estão bem e não sei quando voltam.

- e como você está - ele pergunta comendo seu último pedaço de hambúrguer

- tenho que ficar bem. Podemos ir pra casa? - eu falo me levantando. Te espero lá fora

Não espero ele termina e saio com os pensamentos a mil. Tanto tempo sem pensar, tantas noites sem chorar e me pergunto pra que? Por onde quer que eu vá eles sempre estarão lá. No meu caminhar, nas minhas lágrimas, na minha necessidade de amar. Devo estar louco só pode.

- Alan o que há? - a voz de Truckker parece ferro quente em minha pele e lembro do beijo que ele me deu enfrente ao meu prédio.

- não posso fazer isso- eu digo indo pro meio da rua.

- o que ? - ele me segue.

- fingir que está tudo bem - dou alguns socos no ar e me permito sentir tudo. - fingir que eu não estou quebrado por dentro e fingir que aquele beijo não existiu.

A chuva cai fraca e descubro que não posso mais encarar Truckker.

- eu só preciso ir ta - ele para alguns segundos e me dá um empurrão para trás. Tive alguns segundos para ver o corpo de Truckker voa  centímetros do chão, antes de desmaiar.

                         __________

A luz que entra pela janela do quarto me cega um pouco. Minha cabeça lateja como cacos de vidros se partindo. Tento levanta e meu corpo reclama, deixo um gemido de dor escapar e volto a ficar deitado, nessa hora a porta do quarto se abre e minha mãe entra.

- acordou filho? - ela pergunta se retraindo um pouco, suas olheiras demonstram sua fraqueza. Mamãe estava chorando.

- balanço a cabeça e faço uma careta de dor.

Ela anda até a mim e senta em um espaço vazio perto da cama. Ela toca a minha mão e alisa, por um momento ficamos em silêncio.

- o que aconteceu? - ela diz sem me encarar nos olhos.

- eu não sei - uso todas as minhas energias pra falar. Minha voz sai rouca e desafinada.

- ah mas você sabe sim Alan, você sabe - quando ela diz isso eu arregalo meus olhos e fico com medo.

- eu não sei mamãe. Eu não sei - então as imagens da noite passada vem tudo a tona. Truckker e eu no park. A gente indo pra lanchonete. Truckker me empurrando e ele sendo jogado longe por um carro.

- Truckker mamãe cadê ele - posso ouvir o desespero na minha voz e finalmente minha mãe me encara.

- esta em casa eu acho, ele está bem, você está bem, estamos todos bem - seu olhar duro me fuzila - não é essa mentira que o senhor vive contando?

Estou com medo da minha mãe e percebo que quero fugir. Pela primeira vez minha mãe consegue quebrar minhas barreiras.

- desculpa mãe - é tudo o que consigo dizer sem ser mentira.

Ela levanta da cama e enxuga o rosto. Ela derrama poucas lágrimas mas mesmo assim eu sei que ela está sofrendo por dentro.

- eu tive tanto medo filho, tanto medo.. e sai me deixando também com lágrimas nos olhos.


sexo a três : a necessidade de amarOnde histórias criam vida. Descubra agora