Não se acostume com tais coisas.

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- Regina  -

Fazia um bom tempo que eu já não prestava mais atenção em meu livro. Eu lia e relia o mesmo trecho, mas nunca conseguia o entender. De canto de olho, eu prestava atenção em uma loira que quebrava a cabeça para escrever uma redação que teríamos que entregar após voltarmos às aulas. E admito que eu ria por dentro.

Na noite em que ela me contou tudo que sentia, tudo que guardava dentro de si, eu fiquei assustada. Meu mundo virou de cabeça para baixo após aquela informação no telhado. Eu havia a deixado. Sozinha. Com medo. Chorando. Nunca me perdoarei por isso. Nunca me perdoarei por ter causado uma dor tão grande nela.

Sim, agora é ela.

Seu nome é Emma. Nunca foi Emmett.

Demorou um bom tempo para eu conseguir entender isso. Depois que a ouvi cantar... depois daquele momento em que ela desabafou... eu consegui entender certas coisas. E aquilo foi o que me ajudou a ter coragem e me desculpar. E ela também se desculpou.

Eu olhava para Emma de canto de olho e percebi que eu estava feliz.

Quando ela caiu para trás e se deitou no chão, praticamente desistindo da vida, eu ri.

— Não ria da minha desgraça — dramatizou.

— O que você está fazendo? — perguntei, colocando meu livro de lado.

Ela suspirou.

— Eu não consigo escrever a redação. — Saí do sofá e fui para ao chão ao seu lado. — "Escreva um resumo sobre o seu livro favorito que instigue outro possível leitor com no mínimo 1000 palavras" — citou o nosso professor, me fazendo rir. — Bem, desculpe Professor Fitz, mas eu não faço ideia qual é o meu livro preferido...

— Bem, talvez eu possa ajudar. — Me deitei no chão e ela veio junto. — Eu quero que pense nos livros que mais te tocaram. — Ela ficou alguns segundos em silêncio e depois assentiu. — Agora pense no porquê. — Segundos depois, ela assentiu e eu me virei para ela, segurando minha cabeça com o cotovelo no chão. — Agora olhe nos meus olhos e pense no seu livro favorito. — Eu falei e ela sorriu.

— Acho que eu já tenho uma resposta — sorri convencidamente.

— De nada — respondi e deitei em seu peito, o sentindo vibrar pelas risadas.

— E você? E a sua redação? — dei uma risadinha.

— Eu fiz a minha redação, semanas atrás... sabe, quando o professor deu a proposta.

Ela revirou os olhos.

— Você é certinha demais... — disse, me fazendo rir.

Depois que as risadas cessaram, ficamos naquela posição por um tempo. Eu deitada em seu peito e sua mão fazendo carinho em braço, enquanto me abraçava. Percebi que seu olhar estava distante e sua mente já não estava mais aqui.

— Você está bem? — perguntei ao erguer minha cabeça e a olhar.

— Só estou pensando... — respirou fundo. — Você vai comigo amanhã? — perguntou e eu sorri.

— É claro que sim. Está nervosa?

— Um pouco... é a minha primeira reposição de hormônios... — Se sentou no chão e olhou para mim. — Temos que conversar...

— Sobre...

— Aquilo... — respondeu um tanto nervosa e eu tive que rir.

— Não precisa de todo esse nervosismo — A olhei nos olhos. — Podemos conversar sobre qualquer coisa.

Ele não sou eu.Onde histórias criam vida. Descubra agora