Dia de Ação de Graças: Parte 1

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 - Emma -  

A minha respiração estava tranquila, leve, quase imperceptível. Parecia que eu ia parar de respirar a qualquer momento. Eu já havia feito aquilo milhões de vezes, mas dessa vez meu pai havia dificultado tudo.

— Isso é realmente necessário? —  perguntei tirando meu olhar da mira e encarando meu extremamente ansioso pai.

— Pensei que gostasse de tiro ao alvo!

— E eu gosto, mas dessa vez você espalhou uns 50 alvos pelo quintal!

— Hey! —exclamou Ruby que estava sentada em um dos bancos, comendo batatinhas. — Não reclame!

— Isso porquê não é você quem tem que atirar. — Revirei os olhos.

Todos os Dias de Ação de Graças meu pai colocava alguns alvos para que eu e Ruby pudéssemos atirar. Isso virou uma tradição desde que eu tinha 7 anos e, honestamente, eu realmente gosto. Ao contrário de Ruby que desistiu dos alvos quando tinha 10 anos.

— O que estão fazendo?

A voz de Regina ecoando pelo meu quintal me aqueceu por dentro, me fazendo esquecer do frio que nos cercava. Me virei para a ver se aproximando de nós com um pequeno sorriso no rosto e com ambas as mãos enfiadas nos bolsos de seu enorme e, aparentemente, casaco quentinho e confortável.

— Emma está atirando nas coisas — respondeu Ruby.

— Com armas de verdade? — Ela perguntou um tanto assustada, nos fazendo rir.

— Isso faria mamãe ter um ataque cardíaco — falei enquanto Regina se colocava ao meu lado, me beijando na bochecha.

— Não, não são armas "reais". — Meu pai se aproximou de nós e tirou a arma de minha mão. — Isso é uma arma de paintball usada em exercícios de simulação da polícia.

Ruby veio em nossa direção.

— Mesmo recuo, mesmo peso, dano pouco dolorido — ela disse.

— Virou uma tradição esse "tiro ao alvo" — falei sorrindo.

— E vocês caçam?

— Deus, não!

— Eu lembro do Dia de Ação de Graças de 2009 — falou Ruby, um tanto nostálgica.

— Sim... ameaçamos o papai com as nossas armas. — Regina segurou o riso. — Atiraríamos em um humano antes de atirar em um animal.

— Ameaçaram? — Meu pai interrompeu. — Eu ainda tenho a marca das bolinhas na minha perna!

Dessa vez, ninguém tentou segurar o riso.

— Melhor crise de risada da minha vida! — exclamou Ruby.

Nem meu pai quis segurar o riso, mas revirou os olhos enquanto o fazia.

— O que estão fazendo aqui? — A voz de Zelena preencheu o ambiente e fez os olhinhos de minha irmã brilharem. — Está congelando aqui fora!

Ela deu uma corridinha com as mãos no bolso até nós e se colocou ao lado de Ruby, que mordia o lábio para não sorrir largamente. No começo daquela relação, mesmo confiando na ruiva, tinha medo da minha irmãzinha se machucar. Agora, eu só queria que ela se deixasse sorrir.

— Estávamos lembrando de quando atiramos no papai — disse Ruby, fingindo indiferença com a presença da psicóloga.

— Vocês atiraram no seu próprio pai?

— Não os julgue — falou Regina. — Se tivéssemos a oportunidade, atiraríamos na nossa própria mãe... — Todos nós a encaramos. — O quê? É uma arma de paintball...

Ele não sou eu.Onde histórias criam vida. Descubra agora